Bati levemente na porta e a abri com cuidado. O quarto era claro, silencioso, com aquele cheirinho de hospital que já grudava na minha pele. Dona Erismar ajeitava o travesseiro de Júlia, que estava sentada na cama com a expressão bem mais corada do que da última vez que a vi.
— Olha quem chegou — Júlia sorriu assim que me viu, e aquele sorriso sincero me deu um alívio enorme.
— Oi, minha linda… — murmurei, me aproximando e indo direto para abraçá-la com todo cuidado do mundo. — Fiquei tão feliz quando soube que você está melhor. A enfermeira disse que a alta sai hoje, né?
— Uhum — ela assentiu animada. — E eu soube que o Gabriel foi pro quarto! Que bom, Larissa… que bom!
Meu peito apertou, mas dessa vez por alívio. Assenti rapidamente e a apertei no abraço com carinho.
— Ele tá lá, ainda bem fraquinho, mas já é uma vitória enorme ele ter saído da UTI… Júlia, eu nem sei como te agradecer por ter tentado proteger meu filho com o próprio corpo. Isso… isso é grande demais. Eu nem consigo imaginar…
Ela me abraçou de volta com mais força do que eu esperava. Aquele gesto, simples e sincero, me fez morder o lábio pra segurar a emoção.
— Tá tudo bem, Larissa. Mesmo a gente se conhecendo há pouco tempo… eu já amo aquele garotinho mais que tudo. De verdade.
Eu afastei um pouco pra encarar o rosto dela, aquele olhar doce que sempre me lembrava da força que vem dos sentimentos mais puros.
— Eu acredito em você. E você não precisa se preocupar com nada, tá? Nada de despesas, de medicamentos, de consulta. Eu vou cobrir tudo, Júlia. O mínimo que eu posso fazer.
— Larissa… — ela começou, visivelmente emocionada — obrigada. Eu nem sei o que dizer. Vocês já fizeram tanto por mim, desde o primeiro dia...
— Não é nada comparado ao que você fez pelo meu filho — interrompi com firmeza. — E você não tem que se preocupar com isso agora. Quero que você só pense em se recuperar, em ficar bem, e em começar uma nova fase da sua vida. Sem medo, sem dívida, sem culpa.
Dona Erismar se aproximou em silêncio, e colocou a mão no ombro da filha com aquele carinho de mãe que aquece qualquer ambiente. Eu sorri pra ela também.
— E você, como tá se sentindo, hein? — perguntei, olhando de volta pra Júlia.
— Ainda um pouco cansada, mas a dor quase sumiu. E agora com essa notícia do Gabriel… acho que meu coração ficou mais leve também.
— Ele vai querer te ver assim que souber que você tá melhor. Tenho certeza.
— Eu vou esperar por ele. Já tô com saudade do nosso pequeno — ela sorriu, com os olhos brilhando.
Eu ri baixinho e segurei a mão dela por um instante. Aquela garota tinha um coração gigante. E, naquele momento, eu soube que ela sempre teria um lugar na nossa vida.
***
Eu estava sentada ali, ao lado da cama, observando cada respiração do Gabriel como se o mundo dependesse disso. O quarto estava silencioso, só o som dos monitores preenchia o ar. Meus pensamentos estavam longe, misturados com lembranças, medos, orações que nem percebia o que fazia.
A porta se abriu devagar e Rafael entrou. Ele também vestia uma roupa do hospital, toda esterilizada, tinha lavado as mãos, feito tudo direitinho.
Um sorriso de leve surgiu em seu rosto quando se aproximou da cama, os olhos se voltando direto pro Gabriel, que ainda dormia.
— A doutora disse que ele acorda quando? — ele perguntou, baixo, quase num sussurro, como se tivesse medo de quebrar alguma coisa com a voz.
— A qualquer momento — respondi, tentando manter a calma, mas meu coração estava disparado. Toda vez que ele se mexia, meu corpo inteiro reagia.
Como se tivesse escutado a nossa conversa, Gabriel se remexeu devagar na cama. Um gemidinho fraco escapou dos lábios dele. Eu me levantei de repente, meu corpo agindo completamente no automático enquanto sentia os olhos enchendo de lágrimas.
— Gabriel? — chamei baixinho, me aproximando da cama.
Ele abriu os olhos devagar, piscando como se estivesse lutando contra a luz. Meu coração quase parou.
— Mamãe… — ele murmurou, com a voz arrastada e fraca, mas com um sorriso pequeno que se formou no canto dos lábios.
— Ei, meu amor — falei com a voz embargada, tocando bem de leve a mãozinha dele. — Eu tô aqui, mamãe tá aqui.
Rafael se aproximou do outro lado e se inclinou, os olhos cheios de lágrimas também. Gabriel olhou pra ele, confuso por um segundo, e depois sorriu também.
— Pai… por que você tá chorando?
Rafael riu entre as lágrimas e passou a mão no rosto.
— É só felicidade, campeão. Só por te ver bem, tá?
Eu me aproximei mais e passei a mão na bochechinha dele.
— Espera, me ajuda aqui — Alessandro falou, tentando se levantar. Diogo o segurou com cuidado, apoiando pelas costas e pelo braço.
— Calma, devagar. Você ainda tá fraco.
Ele assentiu, mas conseguiu se erguer um pouco e se apoiar na beira da cama, olhando direto nos olhos do Gabriel. E foi aí que eu vi. O olhar. O olhar que me fez entender tudo.
Aquele não era o Alessandro, meu ex-marido, o CEO seguro, poderoso ou o homem complicado de antes.
Era o pai. O pai do meu filho.
Era um olhar cheio de culpa, de cuidado, de amor, de promessa silenciosa. Um olhar que dizia que ele ia até o fim por essa criança. Que agora não tinha mais volta.
Eu quase podia ver o coração dele tremendo por dentro. Ele se inclinou um pouco mais para o meu… o nosso filho, devagar, e perguntou, com a voz baixa e rouca.
— Como você tá, Gabriel?
Meu filho virou a cabeça com um sorrisinho fraco nos lábios, os olhos ainda meio pesados pelo efeito da sedação, mas reconheceu ele.
— Eu lembro de você — disse, e meu peito quase explodiu.
Alessandro também sorriu, um sorriso pequeno, mas verdadeiro. De quem não esperava ouvir aquilo.
— Eu também lembro de você, campeão.
Gabriel olhou bem pra ele, reparando em tudo, e depois franziu um pouquinho a testa.
— Você também se machucou?
Alessandro respirou fundo, o olhar ainda marejado.
— Não, fi… Gabriel… não me machuquei, não. Na verdade, acho que… eu tô melhor do que já estive.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...