Ela se calou, assustada.
Eu segurei o seu rosto com mais força e o empurrei até o chão gelado do banheiro, esfregando como se limpasse algo podre.
— Quer falar de novo? Fala agora! Vai! — gritei, enquanto ela se debatia desesperada.
Ela choramingava, humilhada. Então soltei o rosto dela com um empurrão e me levantei devagar, ajeitando o cabelo, sentindo a adrenalina vibrando nas veias.
— Agora sim, Chiara. Agora você está onde merece: lambendo o chão imundo de um banheiro. E da próxima vez que você falar o nome do Gabriel de novo… eu arranco tua língua, sua cobra miserável.
Virei de costas e saí do banheiro, sem pressa, sentindo o corpo ainda tremendo.
Antes que a porta se fechasse atrás de mim, ouvi a voz dela fraca, mas cheia de veneno:
— Você vai pagar caro por isso, Larissa… muito caro.
Sorri, sem olhar pra trás.
“A única coisa que eu não pago é pra ouvir calada falarem do meu filho.”
Saí do banheiro com o coração ainda acelerado e as mãos tremendo um pouco, mas não me arrependia de nada. Ninguém, absolutamente ninguém, vai abrir a boca pra falar do meu filho. Ninguém.
Respirei fundo e voltei pra sala de espera. Sentei ao lado do Rafael tentando me acalmar. Uns minutos depois, uma enfermeira apareceu com um sorriso leve no rosto.
— Larissa?
Me levantei de um pulo, o coração já batendo mais rápido de novo, mas dessa vez por outro motivo.
— Sim, sou eu.
— O Gabriel tá bem. Todos os sinais dele estão estáveis, e se continuar assim nos próximos minutos, ele será transferido pro quarto ainda hoje. Antes das quatro, como prometido. Viemos só avisar que já está tudo encaminhado, tá bom?
— Ai, meu Deus... — murmurei, sentindo uma onda de alívio explodir no peito. — Obrigada! Obrigada, de verdade.
Ela sorriu, meio emocionada também, e saiu. Eu nem pensei duas vezes: abracei o Rafael com força.
— Ele tá bem, Rafa! Ele vai sair da UTI! — falei, quase chorando, enterrando o rosto no ombro dele.
— Eu te disse que ele ia sair dessa. Esse moleque é forte, puxou a mãe — ele respondeu, sorrindo.
Me afastei só um pouquinho, ainda sorrindo, os olhos úmidos.
— Cadê o Diogo?
— Foi ver o Alessandro — Rafael disse.
Assenti, ainda meio elétrica, e peguei o celular pra ligar pra Catherine. Mal deu tempo de falar “alô”, eu já disparei:
— Cathe! O Gabriel vai sair da UTI! A médica acabou de confirmar, tá tudo bem com ele!
— Meu Deus, Larissa! — ela gritou do outro lado. — Eu vou avisar o seu pai agora mesmo. Ele vai ficar tão feliz!
— Avisa sim! E obrigada, viu? Por tudo.
Desliguei e nem consegui guardar o celular porque, naquele instante, vi Tereza e Lúcio entrando pela porta.
— Larissa! — Tereza chamou, sorrindo.
— Tem notícia boa? — Lúcio perguntou, esperançoso.
Corri até eles, animada.
— Gabriel tá bem! Vão transferir ele pro quarto ainda hoje!
Tereza me abraçou apertado, emocionada.
— Que alívio, minha filha… a gente tava orando tanto por isso.
— Eu também, dona Tereza. Eu também.
— A gente veio visitar o Alessandro agora, mas amanhã a gente volta pra ver o Gabriel também, tá bom? — disse Lúcio, sorrindo.
— Claro! Obrigada por virem. De verdade.
Antes que eu pudesse respirar de novo, ouvi o salto alto ecoando no corredor. Me virei e lá estava ela: Chiara.
Ela entrou com a cara fechada, o cabelo meio desgrenhado, ainda ajeitando a roupa. Rafael olhou de imediato pro rosto dela, franzindo a testa.
— Chiara? O que aconteceu com você?
Ela me olhou com aquele olhar que só faltava me esfaquear com os olhos.
— Não foi nada — respondeu entre os dentes.
Tentou fingir que nada tinha acontecido, mas a marca no rosto dela estava ali. Visível.
Ela então virou pra Tereza e Lúcio, sorrindo de forma completamente falsa.
— Que bom ver vocês... vovô, vovó...
Mal terminou de falar, Tereza cruzou os braços e respondeu seca:
—Nós não somos seus avós, Chiara. Nunca fomos.
Lúcio reforçou na mesma hora, com o rosto sério.
— Ele vai ter sequelas? — perguntei, quase sem conseguir dizer em voz alta.
— Não há sinais de dano, nem motor, nem cognitivo. Mas como a lesão foi na região torácica, a gente vai continuar avaliando a respiração. Ele vai precisar de acompanhamento depois, com fisioterapia leve. E tem a questão da rejeição, mas, Gabriel é um garoto saudável, jovem e o órgão é bem compatível com ele. Se Deus quiser, tudo vai ocorrer bem.
Suspirei aliviada. Não sabia que estava prendendo a respiração até ela terminar de falar.
— Obrigada. Por tudo mesmo. A senhora foi incrível.
Ela sorriu mais abertamente dessa vez.
— Quem foi incrível foi o pai dele. Se não fosse por ele insistir e agir tão rápido… talvez não estivéssemos aqui agora.
Meu peito apertou.
O pai dele…
Baixei os olhos, tentando disfarçar a onda de emoção que veio de novo. Como isso era confuso… como eu ia explicar isso ao Gabriel?
Doutora Sandra respeitou meu silêncio. Apenas assentiu, me deu um leve toque no ombro e saiu.
Fiquei sozinha com meu filho.
Me aproximei da cama com mais coragem agora. Eu já tinha feito toda a higienização antes de entrar, como mandaram. Me sentei ao lado dele e, com todo o cuidado do mundo, toquei a mãozinha dele. Quente. Viva.
— Oi, meu amor… — falei baixinho. — A mamãe tá aqui.
Meu polegar acariciou de leve a pele frágil da mão dele. Era tão pequeno… tão vulnerável.
— Me perdoa, filho. Me perdoa por ter deixado isso acontecer com você… por não ter percebido antes, por não ter agido antes.
Engoli o choro que tentava sair outra vez. Não era hora. Ele precisava de força agora, não de culpa.
— Quando você acordar, a mamãe vai conversar com você. Com calma, do jeitinho que você merece. Porque… porque agora você tem um pai. Um pai de verdade. De sangue.
Fechei os olhos. Aquilo ia confundir a cabeça dele inteira. Ia mudar tudo.
— Eu sei que vai ser difícil entender, meu amor. Mas eu prometo que vou explicar tudo. E vou estar com você em cada passo. Sempre.
Respirei fundo, olhando para aquele rostinho adormecido. Parecia um anjinho.
— Você foi tão corajoso, Gabriel. Mamãe tem tanto orgulho de você. Agora descansa… se recupera. E quando acordar, a gente vai começar tudo de novo. Mas, dessa vez, juntos. Do jeitinho certo.
Me inclinei e beijei de leve a testa dele, que estava fria, mas viva. O coração batia. O rim funcionava. E isso era tudo.
Fiquei ali do lado dele, em silêncio. O som do monitor virou música. A presença dele era meu alívio. E mesmo com todo medo, eu sabia que aquilo… era um recomeço.
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Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...