O veterinário olhou para mim com um sorriso paciente enquanto Gabriel falava pela terceira vez que o passarinho precisava de comida, de um cobertor e de alguém que conversasse com ele à noite pra ele não sentir medo.
— Prometo — disse ele, sério, como se Gabriel fosse o chefe dele. — Vou cuidar dele como se fosse meu.
Gabriel apertou os lábios e assentiu, como se aquilo tivesse sido uma entrevista séria.
— Se ele melhorar, você me liga, tá? — completou, estendendo o dedinho.
O veterinário selou o pacto com um toque de dedo e eu quase derreti ali.
Aproveitei a saída e, com Gabriel do meu lado, comprei as coisas da surpresa. Um balão com a frase que me fazia sorrir só de imaginar o Alessandro lendo. Uma caixinha bem delicada. E, dentro dela, os cinco testes e o exame de sangue. Gabriel, como sempre, curioso, perguntava:
— Mãe… é aniversário do papai?
— Não, amor.
— É presente?
— É, de um jeito especial. Mas é segredo, tá?
Ele me olhava com aquela cara de quem adorava segredos.
— Eu gosto de segredo.
Chegamos em casa e, pra minha sorte, Alessandro ainda dormia. A casa estava silenciosa, e eu respirei aliviada. Subi com Gabriel devagarzinho e, no quarto dele, montamos tudo. Ele ria baixinho, empolgado com o balão.
— Agora guarda segredo, combinado?
— Eu sou bom nisso — ele respondeu sério, mas com os olhos brilhando.
Desci pra cozinha e comecei a preparar as almôndegas. Gabriel ficou comigo, querendo ajudar, mesmo que só estivesse bagunçando mais do que qualquer outra coisa.
Ele misturava os temperos, cantarolava e fazia perguntas aleatórias, e eu só pensava em como nossa vida tinha mudado. Em como aquele caos bom era exatamente tudo que eu precisava. Tudo o que eu sonhei nos anos que passei casada com Alessandro.
Era difícil, mas às vezes ainda me pegava comparando o meu passado com agora.
Não demorou até eu ouvir passos no corredor e ver Alessandro surgir com o cabelo todo bagunçado, ainda com aquela cara de quem acordou há pouco.
— Hmmm… tá com cheiro de promessa cumprida por aqui — disse ele, se espreguiçando na porta da cozinha.
— Boa noite, dorminhoco. — sorri, pegando o molho. — Acordou justo na hora certa.
— Eu sabia — ele brincou, vindo até mim e me dando um beijo no pescoço. — Tô com sorte ultimamente.
— Pai! A gente já pode jantar? — Gabriel perguntou animado, batendo palmas.
— Pode, campeão. — disse Alessandro, sentando-se à mesa.
Nos sentamos juntos, os três. A mesa cheia de pratos, talheres fora do lugar, suco derramado no copo de Gabriel, mas o que eu via era uma cena perfeita.
Ríamos, conversávamos, Alessandro contava do dia no trabalho, Gabriel interrompia a cada dois minutos. Tudo tão nosso.
— Amor, eu comprei umas coisinhas pro Gabriel hoje, enquanto estávamos fora — falei casualmente, levantando da mesa. — Vai lá com ele que ele quer te mostrar.
— Agora? — ele perguntou, mastigando ainda.
— Vai! — incentivei, rindo. — Ele tá ansioso.
— Tô! — Gabriel gritou, já se levantando e correndo pelo corredor. — PAPAAAI, VEM LOGO!
Alessandro levantou, limpando a boca com o guardanapo.
— O que você comprou que deixou esse menino tão empolgado assim?
— Vai lá ver.
O segui, dando um pequeno espaço entre nós. Ele entrou no corredor do quarto de Gabriel e me olhou confuso.
— Ué… tá escuro, por que a luz tá…?
A luz foi acesa e, em seguida:
— TCHAAAAAAN! — Gabriel gritou. — EU VOU TER UM IRMÃOZINHO!
O balão flutuava preso à cama escrito “Parabéns, você será papai de dois agora”, e ele segurava a caixinha com cuidado, estendendo para Alessandro com um sorriso escancarado no rosto.
Apareci mais na porta, vendo Alessandro parado, completamente em choque, os olhos fixos no filho e na caixinha. Ele pegou o presente das mãos de Gabriel, abriu… e ficou olhando os testes, o exame de sangue…
— Larissa… — ele sussurrou. — Isso é… é verdade?
Assenti, sentindo as lágrimas escaparem antes mesmo de conseguir responder.
— É. É verdade. A gente vai ter outro bebê.
Ele piscou, os olhos já marejados.
— Meu Deus… — ele sussurrou. — Eu vou ser pai de novo.
Deixou a caixinha na cama de Gabriel com tanto cuidado, como se fosse feita de vidro. E então veio até mim, me pegando no colo e abraçando forte, girando como se o mundo fosse leve demais naquele instante.
— Eu não acredito… — ele murmurava no meu ouvido. — Obrigado. Obrigado por isso. Eu te amo tanto.
Eu chorava, rindo entre as lágrimas.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...