Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 95

(Larissa)

A sala de espera estava silenciosa, quase vazia àquela hora. Algumas luzes estavam mais baixas, e o ar-condicionado fazia minha pele arrepiar. Cruzei os braços e puxei o moletom para mais perto do corpo, tentando me aquecer um pouco mais.

O banho rápido que tomei antes de voltar me ajudou a clarear a mente, mas não tirou aquele nó no estômago que insistia em ficar.

Eu não sabia explicar o que estava sentindo.

Cansaço? Sim. Raiva? Um pouco. Medo? Provavelmente mais do que queria admitir.

Mas no fundo, o que mais me incomodava era a ansiedade de não poder fazer nada. Só esperar. Esperar por notícias do meu filho. Esperar para entender o que fazer com Alessandro. Esperar para não surtar de vez.

Ao meu lado, Diogo mexia no celular, deslizando o dedo pela tela de forma distraída. Ele sempre teve esse jeito calmo, quase zen, como se nada fosse capaz de abalar de verdade o equilíbrio dele. Mas eu conhecia bem o olhar dele. Por trás daquela tranquilidade toda, ele estava tenso. Preocupado comigo. Com Gabriel. Com tudo.

— Ele te contou? — ele perguntou de repente, ainda olhando para o celular.

Virei o rosto pra ele, confusa.

— Contou o quê?

Diogo finalmente desviou o olhar da tela e me encarou.

— Alessandro. A gente conversou, logo depois da cirurgia. Ele estava acordando ainda, meio grogue. Mas… me reconheceu. Me chamou pelo nome. Falamos um pouco.

Respirei fundo e inclinei a cabeça pra trás, encostando na parede fria.

— E aí? Como ele tava? Não voltei lá depois que saí.

— Cansado. Com dor, mas lúcido. Meio assustado. Acho que caiu a ficha, sabe? Do que fez, do que perdeu.

Fechei os olhos por um segundo e deixei o ar sair em um suspiro longo.

— Eu vou ter que encarar ele aos poucos… Não consigo… não agora. Tá tudo muito recente. Muito bagunçado aqui dentro.

Toquei o peito com a ponta dos dedos, como se conseguisse mostrar a ele o que eu estava tentando organizar. Diogo assentiu, compreensivo.

— Faz bem. Vai no seu tempo, Lari. O cara parece disposto a enfrentar as consequências, mas… também vai ter que aprender a respeitar os teus limites.

— Tomara — murmurei.

Diogo sorriu de leve e cruzou os braços.

— Ainda bem que você não tava lá quando a Rosa e a Chiara apareceram.

Virei o rosto devagar e fiz uma careta automática, sem conseguir conter.

— Ah, nem me fala. Ainda bem mesmo. Porque eu não ia aturar aquelas duas nem a pau. Com o estado que eu estava, tinha jogado as duas pela janela do corredor.

Ele riu, e eu também deixei escapar um sorriso meio torto.

— É sério — continuei. — Chiara com aquele olhar julgador dela… e Rosa bancando a matriarca ofendida. Eu tô cansada de gente que só aparece quando convém.

— Eu sei, eu sei — Diogo balançou a cabeça. — Fica tranquila. A enfermeira nem deixou elas entrarem. Só falaram com Alessandro, depois foram embora porque ele mandou. A Rosa ficou fazendo um escândalo na recepção, mas a segurança foi chamada.

— Ah, que pena que eu perdi isso — ironizei.

— Pois é. Uma pena — ele riu de novo.

O riso dele me fez bem. Que bom que ele estava ali. Se não fosse o Diogo, acho que eu teria desabado de vez. Só de saber que tinha alguém do meu lado, alguém que conhecia cada pedaço da minha história e me entendia sem eu precisar explicar, já dava um certo alívio no peito.

— E o Rafael? — ele perguntou em seguida, mais sério agora. — Conseguiu falar com ele?

Suspirei e passei a mão pelo rosto.

— Consegui. Liguei assim que Gabriel saiu da cirurgia. Ele ficou… louco. Mal deixou eu terminar, e o homem já tava gritando no telefone que ia pro aeroporto naquela hora mesmo.

Diogo ergueu as sobrancelhas, surpreso.

— Caramba… sério?

— Sério. Eu só consegui dizer "Gabriel está bem, mas..." e pronto. Ele interrompeu e disse: “Tô indo. Agora. Reserva o que for, eu me viro depois.”

— Ele vai chegar que horas?

— Provavelmente umas três da manhã. Ele não quis nem esperar passagem melhor. Só veio no primeiro que conseguiu.

Diogo assentiu com um sorriso leve.

— Eu busco ele no aeroporto, tá?

Olhei pra ele, surpresa.

— Tem certeza?

— Claro. Você vai estar aqui com Gabriel, cansada, preocupada… E o Rafael provavelmente vai estar tenso também. Melhor alguém equilibrado lá. Eu explico tudo a ele no caminho.

Dei um meio sorriso, tocada pelo cuidado dele.

— Obrigada, Diogo.

— Sempre, Lari. Você sabe disso.

Encostei de novo na cadeira e fiquei em silêncio por alguns segundos, ouvindo apenas os ruídos baixos do hospital, passos abafados, um carrinho médico ao longe, vozes murmuradas.

— Vocês estão bem? — ele perguntou, educado.

Tereza se virou pra ele e deu um leve abraço, um gesto gentil, carregado de emoção contida.

— Você sabia? — ela perguntou, olhando direto nos olhos dele.

Diogo desviou o olhar. Eu sabia o quanto ele odiava mentiras, mas também sabia o quanto ele odiava ter que se justificar.

— Sabia — ele respondeu, calmo. — Há muito tempo.

Ela soltou um suspiro longo, mas não havia raiva. Só cansaço.

— Fico até um pouco mais tranquila, então. Saber que… pelo menos alguém cuidou deles. De Larissa e do meu bisneto, todo esse tempo.

Diogo assentiu, com aquele olhar sóbrio dele.

— Eu só fiz o que achei certo.

Tereza e Lucio trocaram um olhar entre si. Era como se tivessem recebido mais informações em dois minutos do que em anos de ausência e silêncio.

— E o Alessandro? — Lucio perguntou.

— Ele tá bem. — respondi. — O Diogo foi ver ele há pouco. Estava dormindo, a cirurgia foi longa, mas correu tudo certo.

— E o menino? — perguntou Tereza.

— Gabriel tá na UTI — falei, tentando manter a voz firme. — A médica explicou que, se tudo correr bem, ele deve ficar lá até amanhã à tarde. Só por precaução. Mas, por enquanto, ele tá estável.

— Vai correr bem sim, minha filha — Tereza disse com convicção. — Eu tenho fé. E ele é forte. Vai sair dessa.

Assenti, tentando acreditar com toda a força naquela certeza que ela dizia com tanta firmeza.

— A gente ficou sabendo só há pouco — Lucio completou. — Viemos assim que conseguimos. Mas amanhã voltamos pra ver o Alessandro com calma.

— Eu agradeço — respondi, sincera. — Mesmo. Por virem. Por entenderem.

— Só peço que vocês nos mantenham informados — ele disse. — Qualquer novidade, por favor, avisem.

— Claro, pode deixar. A gente vai avisar, sim.

Eles me deram mais um abraço antes de sair. E enquanto eu via os dois sumindo pelo corredor silencioso do hospital, senti uma pontinha de alívio. Porque mesmo em meio ao caos… havia empatia. Havia afeto. E talvez… um começo de reconciliação.

Voltei a me sentar ao lado de Diogo, que apenas passou o braço pelos meus ombros, em silêncio.

Dessa vez, meu silêncio era um pouco mais leve.

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