(Larissa)
A sala de espera estava silenciosa, quase vazia àquela hora. Algumas luzes estavam mais baixas, e o ar-condicionado fazia minha pele arrepiar. Cruzei os braços e puxei o moletom para mais perto do corpo, tentando me aquecer um pouco mais.
O banho rápido que tomei antes de voltar me ajudou a clarear a mente, mas não tirou aquele nó no estômago que insistia em ficar.
Eu não sabia explicar o que estava sentindo.
Cansaço? Sim. Raiva? Um pouco. Medo? Provavelmente mais do que queria admitir.
Mas no fundo, o que mais me incomodava era a ansiedade de não poder fazer nada. Só esperar. Esperar por notícias do meu filho. Esperar para entender o que fazer com Alessandro. Esperar para não surtar de vez.
Ao meu lado, Diogo mexia no celular, deslizando o dedo pela tela de forma distraída. Ele sempre teve esse jeito calmo, quase zen, como se nada fosse capaz de abalar de verdade o equilíbrio dele. Mas eu conhecia bem o olhar dele. Por trás daquela tranquilidade toda, ele estava tenso. Preocupado comigo. Com Gabriel. Com tudo.
— Ele te contou? — ele perguntou de repente, ainda olhando para o celular.
Virei o rosto pra ele, confusa.
— Contou o quê?
Diogo finalmente desviou o olhar da tela e me encarou.
— Alessandro. A gente conversou, logo depois da cirurgia. Ele estava acordando ainda, meio grogue. Mas… me reconheceu. Me chamou pelo nome. Falamos um pouco.
Respirei fundo e inclinei a cabeça pra trás, encostando na parede fria.
— E aí? Como ele tava? Não voltei lá depois que saí.
— Cansado. Com dor, mas lúcido. Meio assustado. Acho que caiu a ficha, sabe? Do que fez, do que perdeu.
Fechei os olhos por um segundo e deixei o ar sair em um suspiro longo.
— Eu vou ter que encarar ele aos poucos… Não consigo… não agora. Tá tudo muito recente. Muito bagunçado aqui dentro.
Toquei o peito com a ponta dos dedos, como se conseguisse mostrar a ele o que eu estava tentando organizar. Diogo assentiu, compreensivo.
— Faz bem. Vai no seu tempo, Lari. O cara parece disposto a enfrentar as consequências, mas… também vai ter que aprender a respeitar os teus limites.
— Tomara — murmurei.
Diogo sorriu de leve e cruzou os braços.
— Ainda bem que você não tava lá quando a Rosa e a Chiara apareceram.
Virei o rosto devagar e fiz uma careta automática, sem conseguir conter.
— Ah, nem me fala. Ainda bem mesmo. Porque eu não ia aturar aquelas duas nem a pau. Com o estado que eu estava, tinha jogado as duas pela janela do corredor.
Ele riu, e eu também deixei escapar um sorriso meio torto.
— É sério — continuei. — Chiara com aquele olhar julgador dela… e Rosa bancando a matriarca ofendida. Eu tô cansada de gente que só aparece quando convém.
— Eu sei, eu sei — Diogo balançou a cabeça. — Fica tranquila. A enfermeira nem deixou elas entrarem. Só falaram com Alessandro, depois foram embora porque ele mandou. A Rosa ficou fazendo um escândalo na recepção, mas a segurança foi chamada.
— Ah, que pena que eu perdi isso — ironizei.
— Pois é. Uma pena — ele riu de novo.
O riso dele me fez bem. Que bom que ele estava ali. Se não fosse o Diogo, acho que eu teria desabado de vez. Só de saber que tinha alguém do meu lado, alguém que conhecia cada pedaço da minha história e me entendia sem eu precisar explicar, já dava um certo alívio no peito.
— E o Rafael? — ele perguntou em seguida, mais sério agora. — Conseguiu falar com ele?
Suspirei e passei a mão pelo rosto.
— Consegui. Liguei assim que Gabriel saiu da cirurgia. Ele ficou… louco. Mal deixou eu terminar, e o homem já tava gritando no telefone que ia pro aeroporto naquela hora mesmo.
Diogo ergueu as sobrancelhas, surpreso.
— Caramba… sério?
— Sério. Eu só consegui dizer "Gabriel está bem, mas..." e pronto. Ele interrompeu e disse: “Tô indo. Agora. Reserva o que for, eu me viro depois.”
— Ele vai chegar que horas?
— Provavelmente umas três da manhã. Ele não quis nem esperar passagem melhor. Só veio no primeiro que conseguiu.
Diogo assentiu com um sorriso leve.
— Eu busco ele no aeroporto, tá?
Olhei pra ele, surpresa.
— Tem certeza?
— Claro. Você vai estar aqui com Gabriel, cansada, preocupada… E o Rafael provavelmente vai estar tenso também. Melhor alguém equilibrado lá. Eu explico tudo a ele no caminho.
Dei um meio sorriso, tocada pelo cuidado dele.
— Obrigada, Diogo.
— Sempre, Lari. Você sabe disso.
Encostei de novo na cadeira e fiquei em silêncio por alguns segundos, ouvindo apenas os ruídos baixos do hospital, passos abafados, um carrinho médico ao longe, vozes murmuradas.
— Vocês estão bem? — ele perguntou, educado.
Tereza se virou pra ele e deu um leve abraço, um gesto gentil, carregado de emoção contida.
— Você sabia? — ela perguntou, olhando direto nos olhos dele.
Diogo desviou o olhar. Eu sabia o quanto ele odiava mentiras, mas também sabia o quanto ele odiava ter que se justificar.
— Sabia — ele respondeu, calmo. — Há muito tempo.
Ela soltou um suspiro longo, mas não havia raiva. Só cansaço.
— Fico até um pouco mais tranquila, então. Saber que… pelo menos alguém cuidou deles. De Larissa e do meu bisneto, todo esse tempo.
Diogo assentiu, com aquele olhar sóbrio dele.
— Eu só fiz o que achei certo.
Tereza e Lucio trocaram um olhar entre si. Era como se tivessem recebido mais informações em dois minutos do que em anos de ausência e silêncio.
— E o Alessandro? — Lucio perguntou.
— Ele tá bem. — respondi. — O Diogo foi ver ele há pouco. Estava dormindo, a cirurgia foi longa, mas correu tudo certo.
— E o menino? — perguntou Tereza.
— Gabriel tá na UTI — falei, tentando manter a voz firme. — A médica explicou que, se tudo correr bem, ele deve ficar lá até amanhã à tarde. Só por precaução. Mas, por enquanto, ele tá estável.
— Vai correr bem sim, minha filha — Tereza disse com convicção. — Eu tenho fé. E ele é forte. Vai sair dessa.
Assenti, tentando acreditar com toda a força naquela certeza que ela dizia com tanta firmeza.
— A gente ficou sabendo só há pouco — Lucio completou. — Viemos assim que conseguimos. Mas amanhã voltamos pra ver o Alessandro com calma.
— Eu agradeço — respondi, sincera. — Mesmo. Por virem. Por entenderem.
— Só peço que vocês nos mantenham informados — ele disse. — Qualquer novidade, por favor, avisem.
— Claro, pode deixar. A gente vai avisar, sim.
Eles me deram mais um abraço antes de sair. E enquanto eu via os dois sumindo pelo corredor silencioso do hospital, senti uma pontinha de alívio. Porque mesmo em meio ao caos… havia empatia. Havia afeto. E talvez… um começo de reconciliação.
Voltei a me sentar ao lado de Diogo, que apenas passou o braço pelos meus ombros, em silêncio.
Dessa vez, meu silêncio era um pouco mais leve.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...