Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 93

Acordei devagar, como se estivesse submergindo de um mar espesso. Tudo parecia meio embaçado, os sons abafados. Respirei fundo, tentando entender onde estava, mas o ar veio com certa dificuldade.

Senti uma fisgada do lado direito do abdômen, e uma dor surda se espalhou pelas costelas. Pisquei, tentando focar a visão, e percebi que havia uma máscara de oxigênio sobre o meu rosto.

Aos poucos, o ambiente foi tomando forma. Estava em um quarto de hospital. As paredes claras, o leve zumbido do monitor cardíaco ao lado da cama. Me mexi um pouco, sentindo a dormência nas pernas e a cabeça pesada. Quando virei o rosto para o lado, vi ela.

Larissa.

Estava sentada em uma cadeira ao lado da cama, o corpo levemente curvado para frente, as mãos entrelaçadas no queixo. Os olhos dela estavam vermelhos, como se tivesse chorado por horas. Quando percebeu meu movimento, levantou-se rapidamente, vindo até mim.

Tentei erguer a mão para tirar a máscara, mas ela se adiantou.

— Calma — disse suavemente, afastando a máscara com cuidado. — Deixa que eu ajudo.

O toque dela era gentil. Diferente de tudo que eu lembrava. Havia algo mais ali. Uma exaustão antiga, misturada com algo que não consegui decifrar de imediato.

— Deu tudo certo? — murmurei com dificuldade, a voz rouca, arranhando minha garganta.

Ela respirou fundo, como se estivesse se preparando para me dizer aquilo.

— Sim. Retiraram o seu rim com sucesso. A doutora disse que... — ela pausou por um segundo, como se a emoção estivesse travando suas palavras — que ele é do tamanho perfeito para o Gabriel, mesmo sendo uma criança. A cirurgia dele está quase terminando.

Fechei os olhos por um instante, sentindo uma onda de alívio me invadir. Meus dedos apertaram levemente o lençol sob mim.

— Graças a Deus... — sussurrei, mais para mim mesmo do que para ela.

Larissa ficou em silêncio por um instante. Depois respirou fundo, se aproximando mais e me olhando nos olhos.

— Obrigada, Alessandro. — a voz dela tremeu. — De verdade... eu... eu sei que a gente precisa conversar depois sobre tudo. Sei que tem muita coisa entre nós que ficou mal resolvida. Mas agora... agora eu só quero te agradecer. Eu... eu devo a minha vida a você. Você pode ter salvado o meu filho.

A lágrima que escorreu do rosto dela foi como uma navalha silenciosa.

Virei meu rosto com dificuldade, encarando-a. Minha voz saiu fraca, mas firme:

— Nosso filho. Você não me deve nada, Larissa. O Gabriel é meu filho também. Se eu soubesse disso antes, se você tivesse me dito... eu teria feito isso de qualquer forma. Sem pensar duas vezes.

Ela desviou o olhar, e pude ver seus ombros encolhendo, como se aquelas palavras tivessem um peso maior do que ela esperava.

— Eu tentei te contar... — murmurou. — Naquela vez. Eu juro que tentei...

Assenti devagar. A dor no meu corpo parecia pequena diante da dor que havia entre nós.

Ela passou a mão no rosto, limpando a lágrima teimosa que ainda escorria.

— Eu... eu vou esperar na sala de recepção — disse depois de um tempo. — Eu só queria estar aqui até você acordar. E te agradecer.

— Tudo bem — respondi, tentando conter o aperto no peito.

Ela me olhou por um segundo a mais, como se quisesse dizer algo, mas não disse nada. Apenas assentiu e saiu da sala.

A porta se fechou com um clique baixo, e eu fiquei ali, sozinho, sentindo um peso esquisito no coração.

Eu queria sentir raiva. Queria gritar com ela, exigir respostas, confrontar o passado. Mas não conseguia. No fundo, eu entendia. Eu entendia o medo, a dor, as decisões erradas feitas com o coração partido.

E agora tudo era diferente.

Gabriel era meu filho. Estava vivo. E talvez, eu ainda tivesse uma chance de fazer parte da vida dele.

Mas a verdade era que a ferida entre mim e Larissa não se curaria com um único gesto. Nem com um rim. Seria preciso muito mais e eu ainda não sabia se ela me deixaria tentar.

Fechei os olhos devagar, tentando silenciar o turbilhão dentro de mim.

— Quando ela tinha poucos meses de gestação.

A raiva me golpeou no estômago mais forte do que qualquer cirurgia. Cerrei os punhos sobre o lençol, sentindo o coração martelar contra o peito.

— Você deveria ter me contado! — explodi, mesmo sentindo a pressão do corte me fazer ver estrelas por um instante.

— Ei, ei! Calma, Alessandro! — Diogo se aproximou e colocou uma mão no meu ombro. — Você acabou de retirar um órgão. Não pode se agitar assim.

Fechei os olhos, tentando controlar a respiração, mas tudo parecia girar em minha mente. O peso do que eu não sabia, do que perdi, era esmagador. Quando abri os olhos de novo, ele ainda estava ali, me observando com uma expressão séria, contida.

— Eu conversei com a Larissa naquela época — ele disse, a voz firme. — Pedi pra ela contar a verdade. Ela disse que ia… mas estava com medo. Naquele tempo você fazia de tudo pela Chiara. Larissa estava apavorada que você tentasse tirar a criança dela, ou que não acreditasse que o filho era seu.

Balancei a cabeça, inconformado. — Eu nunca faria isso.

— Eu sei — ele assentiu. — Hoje eu sei. Mas na época… olhando de fora… você estava cego, Alessandro. Cego por Chiara. Larissa não tinha apoio, estava sozinha, com medo, e você não enxergava nada além da mulher que te manipulava.

Fiquei em silêncio por um momento. Olhei para a janela ao meu lado. Lá fora, a madrugada ainda cobria tudo de escuridão, mas eu sabia que em breve o céu começaria a clarear. O amanhecer vinha… mas dentro de mim tudo ainda era noite.

— Você guardou um segredo muito importante — falei, a voz mais baixa. — Eu ouvi o Gabriel chamar o Rafael de pai. — Olhei para Diogo, tentando conter o gosto amargo na boca. — Ele chamou aquele homem de pai, Diogo. Isso... isso me matou por dentro.

Diogo fechou os olhos, como se cada palavra também o machucasse.

— Foi o próprio Gabriel quem pediu. Ele sentia falta de ter um pai. Não era a Larissa quem obrigava… Era o jeito que ele encontrou de preencher um vazio. Rafael sempre esteve presente, e Gabriel achava que… que aquilo era o mais próximo de ter um pai de verdade.

A dor no peito cresceu, uma fisgada aguda, mais intensa do que qualquer ponto da cirurgia. Meus olhos arderam, e pisquei rápido, tentando não chorar.

— Ele não precisava chamar o Rafael de pai. Eu sou o pai dele. Ele tinha um pai! — falei com raiva, com tristeza, com tudo misturado. — E a Larissa tirou isso dele, de mim.

— E você tirou tudo dela antes disso — Diogo respondeu. — Você precisa lembrar disso, Alessandro. Precisa lembrar de como tratou a Larissa quando ela tentou contar. Ela foi até você, grávida, sangrando, pedindo um exame de DNA. E o que você fez? A expulsou. Mandou embora. Disse que ela estava mentindo. Você acreditou na Chiara.

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