Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 91

(Alessandro)

Estava no escritório de casa, com as luzes apagadas e apenas a luz fraca da tela do notebook iluminando o ambiente. Minha cabeça fervia. Eu mal conseguia me concentrar em qualquer coisa. Chiara estava no quarto, chorando… de novo depois de mais uma briga. Mais acusações, mais cobranças, mais silêncios que doíam mais que gritos.

Ela dizia que eu não era mais o mesmo. Talvez não fosse mesmo. Talvez eu nunca tivesse sido o que ela queria que eu fosse. Passei o dia inteiro com o coração apertado, uma sensação estranha, como se algo muito errado estivesse acontecendo.

Larissa… Diogo… nenhum dos dois apareceu no julgamento daquele desgraçado. E eu tinha quase certeza que eles nem sabiam que o infeliz foi morto dentro da cela, antes mesmo de ser levado para o tribunal.

Enzo. Claro que foi ele. Tinha todos os motivos para querer calar aquele verme, e conseguiu.

Soltei um suspiro e esfreguei o rosto com força. Minha cabeça latejava.

Foi quando o celular vibrou sobre a mesa.

O nome dela apareceu na tela, como uma pancada no peito.

Larissa.

Meu coração errou umas batidas.

Eu tinha conseguido o número dela há alguns dias, através de uma pesquisa. Nunca tive coragem de ligar. Me faltava o que dizer. Me sobrava arrependimento. Mas agora… agora ela que estava me ligando.

Algo estava errado. Muito errado.

Atendi com a mão trêmula e respirei fundo.

— Alô? — minha voz saiu mais seca do que eu gostaria.

Do outro lado, o som abafado de um soluço.

— Alessandro… É Larissa...

Ouvir o tom de voz dela... aquele lamento... foi como um soco no estômago.

— O que houve? — me levantei de imediato da cadeira, já sentindo o sangue gelar. — Larissa, fala comigo, o que aconteceu?

— Eu… — ela fungou, chorando de verdade agora. — Você pode… pode vir ao hospital?

— Hospital? — repeti, já pegando o blazer e jogando por cima da camisa. — O que aconteceu, Larissa? Me diz agora!

Silêncio.

Então, quase num sussurro, ela deixou escapar:

— É o Gabriel.

E tudo dentro de mim parou.

— Ele… ele tá em estado grave, Alessandro.

Senti o gosto amargo subindo pela garganta. O rosto do menino invadiu minha mente. O mesmo olhar que eu neguei tantas vezes. O mesmo sorriso tímido que agora podia desaparecer.

Desliguei o telefone. Não conseguia sequer pensar. Peguei a carteira, o celular, as chaves. Estava atravessando a sala quando ouvi passos se aproximando.

— Onde você vai a essa hora, Alessandro? — Chira cruzou os braços, mas os olhos estavam vermelhos. — O que aconteceu?

— Depois a gente conversa. Agora não dá. — tentei passar, mas ela se colocou na frente.

— Se você sair… você vai se arrepender. — a voz dela falhou. — Eu… eu…

— Chega, Chiara. — minha voz foi firme, impaciente. — Eu não tenho tempo para as suas birras agora.

Ela tentou me segurar pelo braço.

— Não faz isso, Alessandro! Olha pra mim!

— Larissa me ligou — soltei, furioso. — É o Gabriel. Ele está no hospital. Em estado grave.

Chiara congelou. A mão dela ainda no meu braço, mas sem força agora.

— Você vai mesmo por causa daquele menino? Que nem sabe se é...

— Cala a boca, Chiara! — soltei meu braço com firmeza.

Ela começou a chorar mais alto, mas eu não esperei. Abri a porta e saí, o coração batendo no peito como um tambor desgovernado.

Entrei no carro, joguei as chaves no banco do passageiro, respirei fundo com as duas mãos no volante. Tudo estava se tornando um verdadeiro inferno.

***

Entrei no hospital o mais rápido que consegui. Estacionei o carro de qualquer jeito, sem nem olhar se estava certo, e desci com o coração martelando no peito.

A recepção estava movimentada, mas antes que eu me aproximasse do balcão, vi uma mulher conhecida, era a Catherine, amiga da Larissa, indo para a sala de espera. Meu instinto me fez segui-la, os passos apressados, a respiração descompassada.

Parecia que o ar ficava mais denso a cada metro.

— Transplante... — repeti, atônito.

Ela assentiu.

— Eu, Diogo e Cathe fizemos os testes... nenhum de nós é compatível e...

Ela parou. O silêncio que se formou foi mais cortante que qualquer grito. O ar parecia congelado.

— E...? — minha voz saiu mais áspera do que eu queria. — E o pai dele? Guilherme, não é?

Larissa demorou, os olhos agora cheios de lágrimas. E então, com a voz mais baixa que um sussurro, ela disse:

— Guilherme... não é o pai do Gabriel.

Meu corpo inteiro ficou rígido. Um arrepio me percorreu como um choque elétrico.

— O quê?

— O pai dele está... bem aqui na minha frente — ela disse, olhando diretamente pra mim. — E pode ser o único que pode salvar a vida do meu filho.

Fiquei sem fala. O tempo parou. Só via a boca dela se mover, mas minha mente girava. Não podia ser.

— Não... você disse... você disse que ele não era meu filho!

— Eu só queria viver em paz! — ela gritou, a voz embargada, desesperada. — Naquele dia, naquele maldito dia... eu disse. Eu te disse que ele era seu filho. Mas você me virou as costas. Você preferiu acreditar na Chiara, nas mentiras dela!

— Eu... — dei um passo pra trás, sentindo tudo girar.

— Você quase me deixou perder o Gabriel. Eu fui pro hospital sozinha, Alessandro. Você me deixou lá, naquele dia, depois de me fazer sangrar, depois de me acusar de tudo... Eu prometi a mim mesma que ia criar o Gabriel sozinha. Eu só queria paz. Eu queria viver com ele, só com ele. Mas agora... — ela chorava tanto que mal conseguia falar — agora ele pode morrer. E você é a única chance que ele tem!

Fiquei ali parado, olhando pra ela, vendo tudo que destruí com minhas próprias mãos. Meus olhos ardiam, o peito queimava. A dor era real. Fisicamente real. Era como se tivessem arrancado um pedaço de mim.

Ela chorava, o rosto coberto pelas mãos, e eu... eu me sentia um lixo.

Eu me lembrava... daquela noite... do exame, das fotos, das conversas... de Chiara jurando que Gabriel não era meu. Eu me lembrei do olhar desesperado de Larissa, das palavras que eu não quis ouvir. Eu neguei meu filho. Eu escolhi acreditar em uma mentira confortável. Eu destruí tudo.

Sem dizer mais nada, dei as costas. O blazer ainda estava sobre os ombros dela.

Voltei para dentro do hospital com a alma em frangalhos. Tudo estava desmoronando. Eu precisava ver aquele menino... meu filho.

Meu filho.

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