Dr. Victor olhou para o irmão de Julia.
— Julia está bem. A cirurgia foi um sucesso. A bala atravessou o corpo dela, mas por sorte não atingiu nenhum órgão vital. Conseguimos conter o sangramento, e ela já está sendo levada para o pós-operatório. Logo vocês poderão vê-la.
A senhora Erismar levou as mãos à boca e caiu de joelhos, chorando alto.
— Obrigada, meu Deus… obrigada, doutor… obrigada! — dizia, entre soluços.
Me aproximei um pouco mais, sentindo uma dor apertada no peito. Eu estava feliz pela Julia… mas e o Gabriel?
— Doutor… — falei, com a voz mais fraca do que imaginei. — E o meu filho? O Gabriel… ele também levou um tiro. Ele ainda está na cirurgia? O senhor sabe de alguma coisa?
O doutor Victor virou-se para mim com um olhar compreensivo.
— Eu lamento, senhora… ainda não tenho atualizações sobre ele. Até o momento em que saí do centro cirúrgico, ele ainda estava sendo operado. Mas posso garantir que a doutora Sandra está fazendo tudo o que pode. Assim que eu souber de algo, prometo que trarei notícias. Eu mesmo vou voltar e ajudá-la, se for necessário.
Assenti com a cabeça, mas as lágrimas já tinham começado a escorrer antes mesmo de eu perceber. A senhora Erismar se levantou e veio até mim. Me abraçou com força, mesmo sendo praticamente uma estranha.
— Ele vai ficar bem, minha filha… ele é forte. É um menino cheio de luz. Deus vai cuidar dele, vai sim.
— Tomara… — murmurei, com a voz embargada, encostando o rosto no ombro dela. — Tomara…
Voltei a me sentar com o corpo pesado, as pernas bambas. Diogo se aproximou e passou a mão nas minhas costas devagar. Catherine segurou minha mão com força. E eu só conseguia olhar para aquela maldita porta da sala de cirurgia, esperando, esperando, esperando…
Como se minha alma estivesse lá dentro, sendo operada junto com ele.
As horas passaram lentamente, como se o tempo tivesse se esticado apenas para me torturar. Eu não lembrava da última vez que tinha olhado no relógio. Talvez porque olhar só me lembrasse que Gabriel ainda não estava de volta. Ainda não estava comigo.
Estávamos todos em silêncio quando a porta se abriu mais uma vez. Me levantei num salto. Ao lado do doutor Victor, vinha uma mulher de jaleco branco, expressão séria e olhos firmes. Meu coração disparou.
— Como ele está? — perguntei, sentindo minha voz falhar. — É o meu filho. O Gabriel. Como ele está?
A mulher se aproximou, parando diante de nós com a compostura de quem estava acostumada a dar notícias difíceis. Ela inspirou fundo antes de falar.
— Eu sou a doutora Sandra, a cirurgiã que operou o Gabriel. — Ela me olhou nos olhos. — A cirurgia foi longa e delicada. A bala atingiu o rim direito dele de forma severa. Nós conseguimos remover a bala, mas…
— Mas o quê? — interrompi, sentindo o estômago revirar. — O que aconteceu?
— O rim direito foi completamente comprometido. Não conseguimos salvá-lo. Gabriel vai precisar de um transplante renal.
Minhas pernas ficaram bambas, e Diogo segurou meu braço com firmeza. A doutora continuou:
— Além disso, o rim esquerdo apresentou um leve comprometimento funcional. Provavelmente devido à perda de sangue intensa e à concussão provocada pelo segundo disparo, que atingiu a lateral esquerda do abdômen. A bala que acertou a mulher que estava com ele também causou um trauma indireto nessa região, mas o impacto foi menor. O rim esquerdo sofreu uma perfuração leve, mas não foi necessário removê-lo. Ainda assim, com a ausência do rim direito e a possibilidade de disfunção progressiva no esquerdo, o transplante é a melhor alternativa para garantir a estabilidade da saúde dele.
Eu levei as mãos à boca, tentando conter o soluço que subia pela garganta.
— Eu posso doar. — falei quase sem pensar, o desespero tomando conta. — Eu sou a mãe dele. Eu quero doar!
A doutora assentiu, com um leve sinal de empatia no olhar.
— Você precisa ir atrás do Alessandro.
Minha boca se abriu, mas não consegui dizer nada de imediato. Só balancei a cabeça, num "não" instintivo, desesperado.
— Não dá, Diogo… você sabe que não dá…
— Larissa… — a voz dele foi mais firme. — Gabriel precisa de você. E você precisa pensar nele agora. Alessandro pode ser compatível. Ele é o pai do Gabriel, mesmo que o tenha negado. Você tem que deixar o orgulho e a dor de lado. Pelo seu filho.
Fechei os olhos e respirei fundo.
Gabriel. Eu via o rostinho dele sorrindo. As mãozinhas segurando as minhas. O jeito que ele me chamava de “mamãe” quando acordava assustado à noite.
Peguei o celular com dedos trêmulos. Abri a agenda. O nome dele ainda estava lá. “Alessandro”.
Nunca consegui apagar. Talvez uma parte de mim soubesse que esse momento um dia poderia chegar.
Fiquei encarando o nome. O dedo parado sobre a tela.
E então apertei.
Iniciar ligação.
A chamada começou a tocar. E meu coração, mais do que nunca, parecia prestes a parar.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...