(Larissa)
A campainha tocou e eu fui até a porta com passos lentos, ainda meio dolorida, mas bem melhor do que nos últimos dias. Gabriel estava na escola e Cathe tinha saído com meu pai pro tratamento. Eu estava sozinha em casa.
Por isso, quando olhei pelo olho mágico e vi Enzo, meu coração bateu um pouco mais rápido.
Abri a porta, apoiando uma mão na parede.
— Oi.
Ele sorriu e entrou, trazendo uma caixinha bonita de chocolates nas mãos. E antes que eu falasse qualquer coisa, deixou um beijo mais demorado nos meus lábios, o que me fez sorrir, mesmo com o leve incômodo que ainda sentia.
— Trouxe pra você. — ele estendeu a caixa. — Achei que você podia gostar.
— Obrigada, parecem deliciosos. Quer se sentar? Quer um chá, café, suco ou água? — perguntei enquanto ele se acomodava no sofá.
— Água tá ótimo.
Levei os chocolates até a geladeira e coloquei lá dentro, depois peguei um copo de água e entreguei a ele. Sentei ao seu lado com cuidado, puxando uma almofada pro colo.
— Como você tá? — ele perguntou, com um olhar meio sério.
— Tô melhor. Aos poucos, as coisas estão voltando ao normal.
— Fiquei preocupado. — ele disse, abaixando um pouco o olhar. — Como anda o caso do cara que te esfaqueou?
— Ele vai ter audiência hoje, vai ser o julgamento.
— Que horas vai ser? Você vai precisar ir?
— Sim, como vítima. Vai ser às três da tarde.
Ele assentiu devagar, tomando um gole da água. Depois, ficou em silêncio por alguns segundos antes de dizer:
— Na empresa comentaram que… a noiva do seu ex-marido…
— Chiara. — falei automaticamente. — O que tem ela?
— Tentaram sequestrar ela duas vezes.
— O quê? — franzi a testa, surpresa. — Espera, como você sabe que o Alessandro é meu ex-marido? Não lembro de ter falado o nome dele.
Enzo sorriu de um jeito meio sem graça e coçou a nuca.
— Ah… eu dei uma pesquisadinha. Fiquei curioso, queria saber se ele podia estar envolvido em alguma coisa. Só isso.
Fiquei olhando pra ele por alguns segundos. Aquilo foi estranho. Muito estranho. Quer dizer… tudo bem ele querer saber mais de mim, mas pesquisar minha vida assim? Fiquei incomodada, mas tentei não demonstrar.
— Eu… não sabia disso da Chiara. Dos sequestros.
— Foi. — ele disse, mais sério. — Você acha que pode ter alguma ligação com o que aconteceu com você? Será que alguém está tentando atingir ele por outras pessoas? Vocês tão desconfiando de algo?
Fiquei olhando pra ele, meio surpresa com a pergunta direta demais. Ele estava preocupado ou investigando? Por um momento, não consegui decifrar.
— Acho que não. — menti, desviando o olhar. — Não tem nada a ver comigo. Eu não tô mais com o Alessandro. Não tem porquê quererem atingir ele por minha causa.
— Mas você mesma disse que ele estava tentando se reaproximar, né?
— É… mas só porque ficou preocupado com o que aconteceu. Só isso. Ele ama mesmo é a Chiara.
— Foi ela quem separou vocês dois?
Suspirei. Aquela pergunta me incomodou. Demais.
Não sabia o que ele queria com tudo isso. Por que insistia nesse assunto? Era íntimo, delicado. A gente mal se conhecia.
Forcei um sorriso, tentando cortar o clima estranho.
— Enzo, melhor a gente não falar sobre isso agora, tá?
Ele assentiu, respeitando. O clima ficou meio murcho depois disso. Um silêncio meio estranho se instalou por alguns segundos, até o celular dele tocar.
Na hora que ele atendeu, o semblante dele mudou. Ficou mais sério, como se algo tivesse virado uma chave ali. Ele tentou disfarçar, falando baixo e rápido. Mas eu percebi.
Quando desligou, se levantou, pegando o casaco.
— Preciso ir. Surgiu um negócio na empresa, bem urgente.
— Claro.
Me levantei devagar. Ele se aproximou de novo e disse, encostando a mão no meu braço:
— Vou ter que voltar pra Itália por uns dias. Mas volto em uma semana. Prometo.
Assenti, dando um selinho nele antes de ir abrir a porta. Ele saiu e eu fechei a porta devagar, ficando alguns segundos parada ali.
Respirei fundo.
— Os seguranças agiram na hora. Um deles tentou neutralizar o cara, mas outros dois apareceram e começaram uma troca de tiros. Acabou atingindo a Julia e o Gabriel. — Diogo desviou os olhos, engolindo em seco. — Julia estava com o Gabriel no colo. O tiro dele ter atravessado ela e acertado Gabriel.
— Não… — sussurrei, caindo sentada no sofá, as lágrimas já escorrendo. — Meu filho… o meu filho… não… não…
Diogo correu até a cozinha, abriu a geladeira e voltou com um copo de água com açúcar.
— Bebe isso, Larissa. Por favor. — Ele encostou o copo nos meus lábios.
— Eu… eu não consigo… — sussurrei, soluçando. — Ele é só um menino… ele é só um menino, Diogo! O querem com a gente, pelo amor de Deus?
— Eu não… eu não sei… mas você precisa ser forte por ele agora.
— Onde tá a minha bolsa? — perguntei, meio zonza.
— Tá no quarto, né?
— Tá… Em cima da cômoda.
Ele correu e voltou com a bolsa.
— Os documentos do Gabriel estão aqui? — ele perguntou, abrindo o zíper.
— Estão… — minha voz era quase inaudível.
Diogo me puxou, me colocando de pé.
— A gente precisa ir. Já avisaram o hospital, eles estão indo direto pra lá.
— Diogo… — agarrei o braço dele. — Se… se o Gabriel morrer, eu… eu não vou aguentar. Eu não consigo, Diogo. Eu não sobrevivo a isso.
Ele me segurou com as duas mãos, firme, encostando a testa na minha.
— Ele não vai morrer. Você me ouviu? O Gabriel é forte e a Julia também, eles vão ficar bem. Eu prometo. Mas a gente precisa ir agora.
Foi como se, de repente, meu corpo tivesse sido atingido por uma descarga elétrica. Me soltei e saí o mais apressada até a porta, as lágrimas cegando meus olhos. Entrei no elevador, Diogo me segurava o tempo todo, mas eu só conseguia pensar numa coisa:
Meu filho.
Entramos no carro, eu sentia meu corpo todo tremer, o rosto quente, o peito prestes a explodir.
O caminho até o hospital parecia um pesadelo. O Diogo falava comigo o tempo todo, tentando me manter acordada, me acalmando. Mas minha cabeça só repetia uma frase sem parar:
“Por favor, Deus… salva o meu fillho.”
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...