Cheguei em casa já passando da metade da noite. O silêncio na sala parecia mais alto que o motor do carro no caminho. Larguei a chave no aparador da entrada e joguei a jaqueta no sofá, sem muita cerimônia. Minha cabeça estava um caos. Entre Enzo, Larissa, Cauã… não sobrava espaço pra mais nada.
Ou quase nada.
— Você demorou. — ouvi a voz da Chiara vindo do corredor, suave, mas com aquele tom de cobrança disfarçada.
Olhei pra ela por um segundo, mas segui andando. Eu só queria subir, tomar um banho e tentar, por pelo menos cinco minutos, pensar em silêncio.
— Alessandro… — ela insistiu, me seguindo. — Você tá estranho há dias. Mais frio, distante. Aconteceu alguma coisa? Você… não me ama mais?
Parei no meio da escada. Suspirei. Aquilo era a última coisa que eu queria discutir agora.
— Chiara, por favor... não agora. — murmurei, voltando a subir os degraus.
Ela veio atrás de mim.
— Não agora? Alessandro, você mal me olha! Você mal fala comigo! Tem alguma coisa acontecendo, sim, e você acha que eu não percebo?
Já no quarto, comecei a tirar os sapatos, tentando manter a calma. Ela parou na porta, me olhando.
Respirei fundo. Me virei devagar pra ela.
— A Larissa foi esfaqueada. — soltei de uma vez.
Chiara empalideceu. Por um segundo, ficou muda, só me encarando com os olhos arregalados. Depois, pigarreou, tentando recompor a expressão.
— Por que não parece que você ficou surpresa?
— Nossa… eu… me assustei, mas... bom, a vida dela não me importa, Alessandro. Você sabe disso.
— Pois é. E foi exatamente essa a impressão que você passou. — falei seco, tirando a gravata e jogando na cama. — Uma mulher quase morreu e você só... deu de ombros. Nem fingir surpresa direito conseguiu.
Ela se aproximou, cruzando os braços.
— Tá querendo o quê? Que eu chore por ela? Que me descabele? Você sabe muito bem que a gente não se dá bem, que ela quis te enganar!
— Sei. Mas eu também sei reconhecer quando tem coisa estranha por trás de uma reação. — comecei a desabotoar a camisa, tentando controlar o tom.
— E como você soube disso, afinal? — ela perguntou com a voz um pouco mais alta, o ciúme escancarado na pergunta. — Você tava com ela?
— Isso não vem ao caso. — falei sem olhar pra ela.
Chiara bufou e andou até o outro lado do quarto.
— Claro que tava. Óbvio. Por isso essa tensão toda. Você tá agindo como se ainda fosse o marido dela.
— Chiara… — virei pra ela, já sem camisa, cansado de rodeios — o Enzo está no Brasil.
Ela congelou.
— O quê? — a voz dela saiu falha, quase um sussurro. — Como assim? Como você sabe disso?
— Foi ele quem mandou assustar a Larissa. — respondi firme. — Mas o cara se passou e quase matou ela. Foi o próprio bandido quem falou. Um homem ruivo, italiano. Era ele, Chiara. Sem dúvidas.
Ela levou a mão à boca, parecendo digerir aquilo aos poucos. A cor do rosto sumiu por completo.
— Meu Deus… ele tá aqui? Aqui no Brasil?
Assenti. Me aproximei dela e coloquei as mãos nos ombros dela, firme.
— Calma, é o cacete! — segurei firme o celular com a mão suando. — Você sabe o que ele vai fazer se me encontrar! Ele vai me matar, Francesco! Eu o enganei e ele prometeu vingança, você sabe!
— Você tá noiva de um bilionário, não tá? — ele falou com sarcasmo. — Pede segurança pra ele, reforço, qualquer coisa. É o mínimo.
— Você é um idiota. — rosnei. — Se o Enzo aparece, ele pode muito bem contar tudo pro Alessandro. Tudo, Francesco! Você tem noção do que isso significa?
— Não é assim que ele vai agir. — disse calmo. — Enzo só vai se mexer quando souber exatamente onde tá o dinheiro. Até lá, ele não arrisca.
Fechei os olhos e respirei fundo. Medo. Era isso que eu sentia. Medo puro e paralisante.
— Você não tá entendendo… ele é esperto. Muito esperto. Ele vai me encontrar. Vai acabar com a minha vida.
— Entrar em desespero não adianta merda nenhuma. — respondeu firme. — Se acalma, se mantém segura e espera eu chegar. Já tô resolvendo isso.
— Tem mais uma coisa. — falei baixo, olhando pro céu escuro da noite. — Ele mandou alguém assustar a ex do Alessandro. Aquela Larissa. Mas o cara exagerou e quase matou ela.
— Larissa? Não sei nada sobre ela. — ele respondeu confuso. — Mas vou descobrir. Me manda tudo que souber. Nome completo, onde mora, qualquer coisa.
— Tá. — respondi, já exausta. — Mas se você demorar demais, pode ser tarde.
— Não vai ser. Aguenta firme.
Desliguei a chamada com os dedos tremendo. Fiquei ali parada por um tempo, olhando o celular na mão. O som do chuveiro ainda vinha do quarto.
Respirei fundo.
— Pelo menos o Enzo podia ter feito o serviço completo e matado aquela desgraçada de uma vez. — murmurei baixinho, com raiva. — Seria um problema a menos.
Guardei o celular no bolso e voltei devagar pro quarto, tentando recuperar a expressão controlada antes que Alessandro saísse do banho. Mas por dentro… tudo em mim estava à beira do colapso.
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Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...