Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 84

O cheiro do café com leite ainda estava fresco quando dei mais um gole devagar. Meus movimentos eram lentos, cuidadosos… o corte ainda latejava, mas eu já conseguia respirar sem tanta dor.

A luz da manhã entrava pelas frestas da janela e, por um momento, tudo parecia calmo. Até a porta se abrir.

Ergui os olhos devagar. Alessandro.

Respirei fundo. Internamente, pedi paciência aos céus, mas por fora, me mantive firme. Não valia a pena começar outro embate. Pelo menos não agora.

Ele se aproximou da cama devagar, como se estivesse pisando em ovos.

— Como você tá? — perguntou, a voz mais baixa do que o normal.

— Bem — respondi, sem muita emoção.

Ele assentiu, mas não disse mais nada. O silêncio se esticou entre a gente como um fio tenso prestes a arrebentar.

— Vai receber alta hoje? — ele perguntou, quebrando o gelo.

Assenti com a cabeça, enquanto mexia distraidamente na borda da xícara.

— Ótimo… então eu te levo pra casa.

Fiz uma careta automática, largando a xícara no pires.

— Não precisa, Alessandro.

— Eu faço questão — ele insistiu, se aproximando mais um passo.

Levantei os olhos e fui direta:

— O que você quer com tudo isso, hein?

Ele pareceu confuso, mas não interrompi.

— Sério mesmo, Alessandro… o que é que você quer? Porque eu não tô entendendo esse interesse todo. Essa presença constante. Você me odeia, lembra?

Ele esfregou a nuca, como se aquilo pesasse nele.

— Eu não te odeio. Você é minha ex-mulher, Larissa. Eu só quero cuidar de você agora.

Ri, sem humor algum. Quase cuspi o resto do café.

— Cuidar de mim? — repeti, sarcástica. — Quando você deveria ter cuidado, você virou as costas. Me destruiu de todas as formas possíveis. Agora vem com esse discurso de compaixão? Eu não preciso da sua pena.

Ele abriu a boca, talvez pra se defender, mas o celular dele tocou. Ele atendeu imediatamente, virando de costas enquanto falava baixo com alguém do outro lado da linha. Eu só fiquei observando.

Cada gesto dele. A tensão nos ombros. O tom de voz abafado. Quando desligou, demorou alguns segundos pra se virar de novo.

— Eu preciso ir agora — disse, sem me encarar por muito tempo.

Assenti em silêncio.

Ele hesitou por um instante, como se quisesse dizer algo mais, mas desistiu. Virou-se e saiu do quarto sem olhar pra trás.

Soltei o ar preso nos pulmões. A xícara agora estava fria na minha mão. E meu coração? Também. Porque eu realmente não entendia que diabos Alessandro queria comigo agora. Depois de tudo.

***

O carro desacelerou em frente à minha casa. Respirei fundo ao ver o prédio. Estava de volta. Mais machucada, mais confusa, mas viva.

Diogo saiu do carro e correu para abrir a porta do carona.

— Devagar, Larissa. — Ele estendeu a mão com um cuidado que me arrancou um meio sorriso. — Não precisa provar força agora.

— Eu tô bem — menti, porque não queria parecer fraca. Mesmo que cada músculo doesse e meu estômago apertasse cada vez que a lembrança da faca cruzava minha mente.

Ele me ajudou a entrar. O cheiro familiar da casa me envolveu, e me senti ainda melhor.

Meu pai veio na hora, os olhos marejados e um sorriso triste nos lábios.

— Minha menina... — ele disse, me abraçando com cuidado.

— Já tô em casa, pai. Já passou. — Beijei a bochecha dele e, com Diogo do lado, fui para o meu quarto devagar.

Quando me acomodei na cama, com as costas cuidadosamente apoiadas nos travesseiros, suspirei aliviada. Diogo colocou uma garrafa d’água e um remédio na mesinha de cabeceira, como se fosse meu enfermeiro particular.

— Vai conseguir descansar? — ele perguntou, olhando ao redor do quarto, como se conferisse se estava tudo seguro.

— Vou tentar. Obrigada por tudo, Diogo. De verdade.

Ele sorriu de canto.

— Qualquer coisa, me chama. Tô só um telefonema de distância. Mas se não for urgente, me espera acordar, tá? Porque você liga em horários bem ingratos. — Brincou, me fazendo rir baixinho.

— Prometo tentar respeitar o sono do doutor herói.

Ele saiu, e minutos depois o celular vibrou. O nome de Rafael piscou na tela. Sorri. Atendi.

— Alô?

— Larissa?! Finalmente! Eu fiquei sabendo do que aconteceu. Tentei falar com você ontem, mas disseram que não podia receber ligação. Tá tudo bem? Onde você tá? Você tá em casa?

— Calma, Rafa. Tô bem. Quer dizer... dentro do possível. Fui esfaqueada, mas já tô em casa, me recuperei da cirurgia.

— Como assim "só" esfaqueada? Larissa, pelo amor de Deus! — A voz dele soava entre indignação e puro medo.

— Foi um assalto. Pelo menos é o que parece. Mas eu tô bem, de verdade. O pior já passou.

— Eu tenho que voltar para o Brasil.

— Não precisa — tentei conter. — Resolva suas coisas aí. Diogo está aqui, cuidando de algumas coisas.

— Tudo bem... mas me avisa se precisar de qualquer coisa. Eu quero saber quem fez isso com você.

— Obrigada por estar aqui.

— Sempre. E agora, vamos comer um brigadeiro. Isso cura até facada, menina.

Não pude deixar de rir. Talvez ela estivesse certa. Mas no fundo, eu ainda sentia que aquilo tudo tava longe de acabar.

Ouvi a porta da frente se abrir com força, e logo os passinhos apressados ecoaram pela casa.

— MAMÃEEEEEE!

Sorri antes mesmo de vê-lo. Meu coração disparou de alegria. Gabriel apareceu na porta do quarto com os olhinhos brilhando e a mochila ainda pendurada no ombro, e correu em direção à cama com toda a empolgação do mundo.

— Vai com calma, Gabriel! — a voz do meu pai veio logo atrás, aflita. — A mamãe ainda tá dodói.

Gabriel freou no meio do caminho, e então começou a andar mais devagarzinho, quase se arrastando, como se estivesse numa missão secreta. Eu ri, com o coração derretendo.

Ele se aproximou da cama e deitou o corpinho em cima do meu, devagar, depois me abraçou pelo pescoço, me apertando como se nunca mais quisesse soltar.

— Ai, meu amor... que saudade da sua mamãe. — Sussurrei, tentando conter a emoção. — Tava contando os minutos pra te ver.

— Eu também, mamãe... — ele falou baixinho, com a voz embargada de emoção. — Eu fiz uma cartinha pra você na escola. A professora Tônia ajudou.

— Uma cartinha? — Meus olhos se iluminaram. — Jura? Ai, meu coração já tá derretendo...

Ele sorriu e pulou da cama de novo, correndo até a mochila como um foguete.

— Espera aí! Tá aqui, ó! — puxou um papel meio amassado e colorido com giz de cera. Voltou correndo e entregou nas minhas mãos com um brilho nos olhos.

Peguei a cartinha com todo o cuidado do mundo, como se fosse um tesouro. Estava escrita com letrinhas um pouco tortas, provavelmente copiadas com a ajuda da professora, mas era a coisa mais linda que eu já tinha visto. No meio dos desenhos coloridos, li:

"Mamãe, eu te amo muitão. Você é minha heroína. Volta logo pra casa. Assinado: Gabriel."

As palavras eram simples. Mas o amor que transbordava dali... não tinha como explicar.

Beijei o rostinho dele, o cheirinho do seu cabelo me acalmando por dentro.

— Eu te amo mais do que tudo, Gabriel. Você é meu solzinho.

Ele me abraçou de novo e encostou a cabeça no meu peito.

Fechei os olhos e inspirei fundo, sentindo aquela presença pequena, mas tão cheia de vida e amor.

Agradeci a Deus em silêncio.

Agradeci por estar viva. Por poder abraçar meu filho. Por ter mais um dia com ele.

Porque naquele momento, tudo o que importava... era isso.

Eu estava aqui e ele também. E isso bastava.

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