A luz do fim da manhã entrava suave pela janela do quarto. Eu ainda me sentia fraca, mas a dor no abdômen já não latejava tanto.
A porta se abriu devagar e eu sorri, aliviada, ao ver Diogo entrando com aquele jeito tranquilo dele, com uma sacolinha na mão.
— Trouxe o seu lanche da tarde e fica tranquila, o doutor liberou — ele disse, colocando tudo na mesinha ao lado da cama.
— Eu devia ter te conhecido antes, sabia? — brinquei, tentando aliviar o peso que eu mesma sentia no peito.
Ele puxou a cadeira e sentou ao meu lado, sorrindo de canto.
— Como você tá se sentindo hoje?
— Melhor... Fisicamente, pelo menos. Mas tem uma coisa me remoendo desde ontem. — Respirei fundo. — Você... sabe quem foi o cara que me atacou?
Diogo fez uma careta contida e passou a mão na nuca, meio tenso.
— Fui na delegacia mais cedo e vi ele de longe. É um cara comum, sabe? Bem... bem qualquer coisa. E realmente parece que foi pago. Nem tentou fugir, não deu desculpa. Só ficou calado. Frio. Como se tivesse feito um trabalho e pronto.
Senti um arrepio. Aquilo só confirmava o que Alessandro tinha dito.
— O Alessandro me contou ontem... — comecei, encarando minhas próprias mãos no lençol. — Ele disse que pagaram pro cara fazer isso. E desde então, eu só consigo pensar em quem teria esse tipo de ódio por mim.
Diogo ficou me observando em silêncio, como se pesasse cada palavra antes de falar.
— E você... tem alguma ideia?
Assenti devagar.
— Só uma pessoa me vem à cabeça. A Chiara.
Ele franziu um pouco o cenho.
— Você realmente acha que ela seria capaz de algo assim?
— Eu não acho, Diogo. Eu sinto. — Olhei nos olhos dele, firme. — Eu vi a maldade naquele olhar dela. Não foi coisa da minha cabeça. Ela foi quem armou contra mim no passado, foi ela quem inventou aquela história de que o Gabriel era filho do Guilherme... Só pra afastar o Alessandro. Ela já tentou me destruir antes. Só não conseguiu porque eu sou teimosa demais pra cair.
Ele ficou quieto por um tempo, só me olhando. Acho que estava processando.
— O Alessandro não acredita nisso — murmurou, por fim.
— Eu sei que não. Mas também... ele tá cego. Sempre esteve, quando se trata dela. Só que agora, Diogo, eu tenho medo de verdade. Porque isso passou dos limites. Alguém tentou tirar minha vida. E se for ela... ela não vai parar por aqui. Pode ir atrás do meu filho ou do meu pai.
Só de pensar nisso, meu estômago se revirou, e não foi por causa dos pontos.
Diogo passou a mão no rosto devagar, respirando fundo, e depois assentiu.
— Tá. Eu vou pedir pra alguém ficar na cola dela. Discretamente. Ver se a gente encontra alguma pista, qualquer coisa que ligue ela ao cara.
— Obrigada, Diogo — falei, aliviada. — Mas... deixa que eu pago. Eu resolvo isso.
Ele ergueu uma sobrancelha, arqueando o canto da boca com aquele ar debochado dele.
— Você tá me desafiando?
— Não. — Dei um leve sorriso. — Só dizendo que eu quero me responsabilizar. É minha vida, minha família.
— Larissa... — Ele inclinou o corpo um pouco mais pra frente. — Eu é que vou cuidar disso. Você só precisa se concentrar em uma coisa agora: se recuperar. O resto é comigo. Entendido?
Olhei pra ele por um tempo, sentindo aquele aperto no peito que às vezes vinha quando eu via o quanto ele se importava. Diogo não era só apoio. Ele era presença firme. Lealdade.
— Entendido, chefe. — Falei num tom mais leve, mesmo com a emoção batendo forte. — Mas só porque eu ainda tô deitada.
Ele riu, se recostando na cadeira.
— É. Aproveita enquanto pode, porque quando você sair daí, eu vou fazer você descansar de verdade.
— Duvido.
***
Era início da tarde quando bateram na porta do quarto. Achei que fosse alguma enfermeira vindo verificar alguma coisa, mas, quando a porta se abriu, vi um homem alto, vestindo camisa social e calça jeans escura, com um crachá da polícia preso na cintura. Ele deu dois passos pra dentro e olhou ao redor com cuidado, antes de parar os olhos em mim.
— Boa tarde. Larissa, né?
Assenti, ajeitando o travesseiro atrás das costas.
— Sim, sou eu.
— Sou o inspetor Fernando. Tô responsável pela investigação do seu caso. Posso conversar com você por alguns minutos?
— Claro... pode entrar.
Ele se aproximou com calma, puxou uma cadeira e sentou ao lado da minha cama. Tirou um caderno de anotações do bolso e uma caneta. Seu olhar era sério, mas ao mesmo tempo gentil. Parecia preocupado de verdade.
— Antes de tudo, quero dizer que sentimos muito pelo que aconteceu. E que, felizmente, você está bem agora.
— Obrigada — murmurei, engolindo em seco. — Eu ainda tô tentando entender como isso aconteceu comigo.
Fernando assentiu.
— A gente também tá tentando. O homem que te atacou já foi preso e, pelas informações que conseguimos até agora, tudo indica que ele foi contratado pra isso. Um serviço sujo, pago e planejado. Não foi um crime aleatório.
Meu coração acelerou. Eu já sabia, mas ouvir aquilo da boca da polícia era outra coisa.
— Você... já conseguiu saber quem mandou?
— Ainda não. Ele não abriu o bico, mas estamos rastreando ligações, movimentações financeiras, câmeras de segurança. É um trabalho demorado, mas a gente vai descobrir. E, por isso mesmo, eu preciso te fazer algumas perguntas.
— Claro. Pode perguntar.
— Hmm… então… você vai precisar esperar um pouquinho.
Ele fez uma pausa.
— Esperar? Por quê? Aconteceu alguma coisa?
— Aconteceu sim — falei, tentando manter a voz firme. — Eu fui assaltada... e esfaqueada.
O silêncio do outro lado durou alguns segundos.
— O quê? Como assim, Larissa? Meu Deus, você tá bem? Onde você tá? Em que hospital?
— Calma, Enzo. Eu tô bem agora. Foi uma cirurgia complicada, mas deu tudo certo. Tô me recuperando. Se tudo correr bem, recebo alta amanhã.
— Caramba… — ele disse, com a voz embargada de preocupação. — Eu não acredito. Como isso aconteceu?
— Eu… prefiro não entrar em detalhes por enquanto. Quando eu sair, a gente conversa com calma, tá?
— Tá. Tá, claro. O importante é que você tá viva e bem. Quer dizer, o melhor que pode estar numa situação dessas.
— Pois é — murmurei, ajeitando a coberta sobre as pernas. — Já passou o pior. Agora é respirar e me cuidar.
— Então amanhã… — ele falou, mais calmo agora. — Eu posso te visitar em casa?
Sorri, sentindo o coração aquecer um pouco.
— Pode sim. Eu vou gostar de te ver.
— Você precisa começar a tomar mais cuidado. As pessoas hoje em dia tiram a vida dos outros por qualquer coisa.
— Eu sei… e pode deixar. Agora vou andar com mil olhos abertos.
Ele deu um suspiro leve do outro lado.
— Ainda bem que você tá aqui falando comigo. Eu estava com saudade da sua voz.
— Então amanhã a gente mata um pouquinho dessa saudade, combinado?
— Combinado.
— Se cuida, viu? Qualquer coisa, me liga.
— Obrigada, Enzo. De verdade.
— Até amanhã, Larissa.
— Até amanhã.
Desliguei a chamada com um leve sorriso no rosto. Por um instante, me permiti sentir algo bom. Depois de tanta dor, medo e confusão… ouvir a voz dele foi como um abraço silencioso.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...