(Larissa)
A dor no abdômen voltou a latejar assim que me movimentaram para a maca. Era um incômodo profundo, como se algo dentro de mim estivesse fora do lugar. Eu queria gemer, mas só consegui apertar os olhos e tentar respirar fundo enquanto as vozes ao meu redor se misturavam com um zumbido.
Me disseram que eu estava indo para o quarto. Eu queria falar, queria perguntar pelo meu pai, por Gabriel, por... tudo. Mas minha cabeça ainda girava. Era como se meu corpo estivesse voltando devagar, como se minha alma tivesse se afastado por um tempo e agora estivesse tentando se reencaixar.
A luz do quarto não era tão forte quanto a do centro cirúrgico, mas ainda me incomodava um pouco. A cama era mais confortável, e o lençol fresco me deu uma sensação de segurança que há muito eu não sentia.
Estava tentando entender onde estava, tentar encontrar alguma ordem nos pensamentos embaralhados, quando alguém bateu na porta. A enfermeira foi atender, e minha visão ainda meio embaçada focou na figura que apareceu logo depois.
Meu coração disparou.
Ali, nos braços de Alessandro, estava o meu filho.
— Gabriel... — sussurrei, sem conseguir acreditar no que via.
Por que Alessandro estava com ele? Por que ele estava aqui?
Eles entraram no quarto e a enfermeira avisou:
— Só não podem ficar muito tempo, ela ainda precisa descansar, tá bom?
Assenti levemente, com o olhar preso em Gabriel, que imediatamente esticou os bracinhos pra mim.
— Mamãe! — a vozinha dele trêmula, como se estivesse prestes a chorar. — Mamãe!
Meu instinto foi tentar me levantar, mas uma fisgada de dor me impediu. Alessandro se aproximou, segurando Gabriel com mais firmeza.
— Ei, garoto... a mamãe não pode pegar você no colo agora. Ela precisa descansar, tá?
— Mas... mas o que acoteceu com a mamãe? — Gabriel perguntou, as palavrinhas emboladas do jeitinho que ele falava quando estava nervoso. — Por que ela tá aqui?
Meus olhos se encheram de lágrimas. Eu não queria que ele me visse assim, fraca, deitada, com fios enfiados no braço e o rosto pálido. Mas ele tava ali, olhando pra mim com aqueles olhinhos assustados que só queriam entender.
— A mamãe se machucou, meu amor... — falei com a voz embargada, tentando sorrir. — Mas eu tô bem, viu? Logo, logo a mamãe vai voltar pra casa.
Gabriel olhou pro Alessandro com os olhos molhados.
— Leva a mamãe pra casa, por favor...
Alessandro forçou um sorriso e respondeu com a voz calma:
— Assim que ela puder, eu vou levar ela, tá bom?
Mas minha atenção já não estava só em Gabriel. Eu olhava pra Alessandro, sério, desconfiada.
O que ele estava fazendo com meu filho? O que ele queria? A presença dele ali... me confundia, me inquietava.
Antes que eu pudesse dizer algo, a porta se abriu de novo e Diogo entrou sorrateiro, com aquele jeito debochado de sempre.
— Me esquivei da enfermeira... ela tá ocupada com outro paciente.
— Tinha certeza que você ia dar um jeito — falei, tentando sorrir um pouco, mesmo com a dor.
Gabriel imediatamente esticou os braços pra ele.
— Diiiiiogo! Quero colo do Diogo!
Diogo riu e pegou o pequeno no colo com cuidado, se aproximando da minha cama.
— E aí, Larissa... como você tá?
— Tô bem agora. — olhei pra ele com gratidão. — E o meu pai? Como ele tá?
— Tá bem. Tá descansando.
Soltei um suspiro de alívio. Saber que meu pai estava bem me tirava um peso enorme das costas.
— Obrigada, Diogo... de verdade. Por cuidar dele. E do Gabriel também.
Ele balançou a cabeça, como se dissesse que não era nada.
— Eu só fiquei esperando você acordar pra ele ver que você tá bem. Mas agora acho que é hora dele descansar um pouco também, né, campeão?
Gabriel fez um biquinho.
— Eu não quero ir...
— Eu sei, mas a mamãe precisa ficar forte. — Diogo disse, afagando o cabelo dele. — Vamos deixá-la descansar um pouco e depois a gente volta pra visitar, combinado?
Eu assenti, olhando pros dois com carinho.
— Obrigada, Diogo... de verdade.
Antes de sair, Alessandro deu um passo à frente.
— Eu posso levá-los.
Minha expressão se fechou imediatamente. Eu olhei pra ele, séria.
— Não precisa. O Diogo cuida deles.
Houve um silêncio estranho, como se o ar tivesse ficado mais denso por um momento. Alessandro recuou, o olhar dele endurecendo, mas ele não disse nada. A raiva estava ali, visível, mas eu não ia abrir espaço pra isso hoje. Não com Gabriel presente. Não com tudo o que ainda tava rodando na minha cabeça.
Diogo se aproximou da cama e estendeu Gabriel pra mim, inclinando o corpo o suficiente para que ele pudesse me alcançar.
— Dá um beijo na mamãe, meu amor.
Gabriel se debruçou e me deu um beijinho na bochecha.
— Eu volto pra visitar você, tá bom, mamãe?
— Eu vou estar esperando. — falei com a voz embargada, lutando pra não chorar de novo. — Te amo, meu amor.
— Também te amo.
Diogo ajeitou Gabriel nos braços e começou a caminhar até a porta. Quando estava quase saindo, ele parou e olhou por cima do ombro.
— Um desgraçado qualquer. Um cara... pagaram pra ele fazer aquilo.
— Pagaram? — minha voz saiu trêmula. — Por quê? Por que alguém pagaria pra me matar? Eu não tenho inimigos... A única pessoa que me odeia nessa vida é você.
Ele fechou a expressão na hora, os olhos escureceram.
— Larissa... eu nunca faria mal a você.
— Está falando “mal de novo”, Alessandro? Você já fez mal o suficiente. E você sabe disso.
O silêncio caiu como um peso entre nós. Ele baixou o olhar por um momento, mas logo voltou a me encarar.
— Não é sobre isso agora. É sobre essa pessoa que mandou, a gente precisa descobrir quem foi.
Soltei uma risada amarga, cheia de cansaço e raiva acumulada.
— Eu imagino quem pode ter sido.
— Quem?
— Sua noivinha. Ela nunca gostou de mim.
— Não. — A voz dele veio mais alta, mais firme. — A Chiara nunca seria capaz de machucar alguém.
— E você tem tanta certeza assim dela? — retruquei, já me irritando também. — Certeza o suficiente pra apostar minha vida?
Ele deu mais um passo, mas eu ergui a mão, sinalizando que não queria mais ouvir.
— Já deu. Agradeço de coração pelo o que você fez, sei que estaria em uma situação mais delicada agora se não fosse por ti, mas eu me viro. Vai embora, por favor. Vou resolver com a polícia, sozinha.
— Larissa, isso não se resolve assim. Pode envolver gente grande, perigosa.
— Eu mesma dou um jeito!
Ele apertou os punhos ao lado do corpo, a voz carregada de ironia e raiva.
— Vai fazer isso com o Diogo? Ou com o Rafael? Vai correr pra um dos dois?
— E se for? Isso não é da sua conta. Eu já te agradeci. Agora... vai embora. Eu não quero mais ver a sua cara.
Ele me olhou. E por um segundo, eu vi. Vi a dor ali, crua, sem disfarce. Mas eu não podia mais aguentar. Estava fragilizada, sensível, não queria ele perto estando assim.
E ele também era parte do que me quebrava.
— Eu quero descansar. Por favor.
Alessandro respirou fundo. Seus olhos ainda estavam presos nos meus, como se quisessem dizer o que a boca não conseguia. Mas então ele se virou e saiu.
A porta se fechou e com ela, o ar do quarto ficou mais leve. Ou talvez só mais solitário.
Eu encostei a cabeça no travesseiro e deixei que uma lágrima escapasse.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...