Fechei os olhos e respirei fundo.
— Não, cara. A Larissa… ela foi esfaqueada.
A linha ficou muda. Eu podia ouvir ele tentando processar.
— Como assim? — a voz dele veio num tom diferente, mais baixo e tenso. — Quem fez isso? Por quê?
— Não sei ainda. Eu… eu explico tudo quando você chegar. Tô no hospital Aurélio Campos.
— Tô indo pra aí agora.
Ele desligou sem dizer mais nada. Fiquei ali, com o telefone ainda colado na orelha, ouvindo o silêncio.
Soltei mais um suspiro. Eu não podia guardar isso pra mim. Não agora. A Larissa precisava de gente que ela gostava por perto.
E eu ia garantir isso. Nem que fosse a última coisa que eu fizesse hoje.
Eu já estava de pé quando vi Diogo entrando no hospital. Ele vinha rápido, o rosto tenso. E não estava sozinho. Atrás dele, vinha Álvaro, o pai da Larissa, com cara de quem saiu correndo de onde quer que estivesse. Mas o que realmente me pegou de surpresa foi ver o Gabriel… nos braços do Diogo.
O moleque estava agarrado no pescoço dele, com o rosto colado no ombro. Quando me viu, levantou a cabeça devagar, me encarando com aqueles olhos curiosos e grandes. Aquilo me incomodou mais do que eu queria admitir. Mas engoli seco e fiquei calado.
Eles chegaram perto e Álvaro veio direto pra cima.
— Que aconteceu com a minha filha, Alessandro?! — ele falou alto, o rosto vermelho, olhos arregalados.
Levantei as mãos devagar, tentando manter a calma.
— Não fui eu, Álvaro. Calma. Parece que foi um assalto.
— Assalto?! — ele cuspiu a palavra como se não acreditasse.
— Eu encontrei ela no parque… ela já tava caída, esfaqueada. Trouxe ela pra cá. A cirurgia acabou há pouco tempo.
Ele me encarou com raiva, mas sem saber o que dizer.
— O médico disse que foi um sucesso. Ela perdeu muito sangue, mas tá viva. Tá na UTI agora, se recuperando.
Diogo ficou em silêncio por um tempo. Ele ajeitou melhor o Gabriel no colo, e eu percebi o moleque ainda me olhando. Não sei o que ele pensava, mas não desviava os olhos.
— Por que você não avisou antes? — Diogo perguntou, sério.
Soltei o ar devagar.
— Porque eu queria ter certeza que ela ia ficar bem… foi tudo muito rápido, uma confusão da porra. O hospital estava lotado, ninguém fazia nada, eu quase derrubei essa merda de lugar pra atenderem ela.
— E ainda tive que doar sangue porque nem isso tinham aqui. — Acrescentei, sentindo a raiva voltando só de lembrar.
— Agora ela tá na UTI. Estável. O médico disse que, com sorte, em breve ela vai pro quarto.
Álvaro cambaleou um pouco e se sentou numa das cadeiras da sala de espera. Botou as mãos no rosto. Ele parecia mal, como se não tivesse mais forças nem pra brigar.
Diogo se abaixou um pouco ao lado dele, com o Gabriel ainda no colo.
— Respira, Álvaro… ela tá viva. Já é uma vitória. A gente tá aqui com ela agora.
O silêncio caiu por uns segundos.
Eu olhei pro garoto de novo. Ele me olhou de volta, mas dessa vez encostou a cabeça no ombro do Diogo e fechou os olhos, cansado.
Eu virei o rosto. Aquilo me apertou o peito de um jeito que eu não esperava.
Larissa estava viva. Mas ainda havia um buraco enorme dentro de mim. E agora… todo mundo ia precisar ser forte por ela.
Ainda estava encostado na parede, ainda tentando organizar as merdas na minha cabeça, quando vi o Gabriel se mexendo. Ele escorregou do colo do Diogo, com cuidado, e veio andando na minha direção. Pequeno, passos leves, o olhar fixo em mim.
— Ela tá bem? — ele perguntou, parando na minha frente. A voz dele era baixa, meio tímida, mas firme. — A minha mamãe... ela tá bem?
Olhei pra ele.
Aquela sensação voltou com tudo. Familiaridade. Uma conexão estranha, como se eu já tivesse segurado aquele menino antes. Mas empurrei isso pro fundo da cabeça. Não era hora pra pensar nessas coisas.
Assenti devagar, me agachando pra ficar na altura dele.
— Tá sim. Ela só tá dormindo agora, pra descansar. Mas tá bem. Assim que ela acordar, eu te levo pra ver ela, combinado?
Os olhos dele brilharam e ele sorriu.
— E você tem que se controlar — Fernando alertou. — Eu conheço você. Não pode fazer nenhuma besteira agora.
Suspirei, o maxilar travado.
— Se ele fez isso só por causa de dinheiro... se foi só por uma porra de uma carteira ou celular... — balancei a cabeça, com a voz baixa e amarga — ...eu juro que mato esse filho da puta com as minhas próprias mãos.
— Alessandro...
— Não vem com sermão agora — cortei. — É estranho, Fer. Quando eu cheguei lá, a bolsa da Larissa estava no chão, do lado dela. Inteira. Ele não levou nada. Nada. Que assaltante é esse?
Do outro lado da linha, Fernando ficou em silêncio por alguns segundos.
— Então tem coisa aí. E a gente vai descobrir. Mas primeiro, vem pra cá. A gente segura ele até você chegar.
— Tô indo.
Desliguei.
Me virei e voltei pra sala. Diogo estava sentado com Gabriel no colo, e Álvaro, mais calmo, enquanto tomava um copo d’água. Fiquei olhando por uns segundos antes de falar.
— Eu preciso sair.
Diogo me olhou, confuso.
— Aconteceu algo?
— Descobriram quem fez isso com ela. Eu preciso ir ver esse cara... entender o que tá por trás disso. — Respirei fundo. — Me avisa assim que ela acordar, por favor.
Diogo assentiu.
— Pode deixar.
Olhei mais uma vez para Gabriel, que agora cochilava nos braços dele. Depois, encarei Álvaro, que apenas me observava em silêncio, o olhar ainda duro, mas menos hostil.
Sem dizer mais nada, me virei e saí do hospital.
Entrei no carro com o coração acelerado e as mãos tremendo. O destino era a casa pequena onde Fernando me esperava. E lá, cara a cara com aquele miserável, eu ia tirar a verdade inteira. Nem que fosse na porrada.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...