Sentei num canto da recepção, com a bolsa dela no colo e o coração na garganta. Aquele cara, aquele infeliz… não estava atrás da bolsa dela, ele queria matá-la. Por isso ele a esfaqueou e largou a merda da bolsa caída ao lado. Respirei fundo, iria encontrar esse desgraçado.
O celular de Larissa tinha descarregado... Alguém já devia estar atrás dela. Será que deviam saber? Será que eu deveria avisar o Diogo?
Só de pensar no nome dele, meu maxilar travou.
Eu confiava nele... confiava. Mas a forma como ele se aproximava dela, como ela sorria quando ele aparecia... aquilo me dava nos nervos. Eu não tinha mais o direito de sentir ciúmes, mas... caralho, como eu queria ser o primeiro que ela visse quando acordasse.
Sim, eu sabia que era egoísmo puro. Mas eu já tinha perdido ela uma vez, não podia fazer isso de novo.
— Senhor Alessandro Moratti? — a voz grave me arrancou do turbilhão.
Levantei num pulo.
— Sou eu. Como ela tá?
O médico parecia cansado, o jaleco manchado de sangue, o olhar abatido. Ele respirou fundo antes de falar, e aquilo já me deixou em alerta.
— A situação dela é delicada. Precisamos urgentemente de transfusão de sangue, mas o estoque do hospital... acabou.
— Como assim acabou?! — minha voz saiu mais alta do que devia. — Que tipo de hospital imprestável é esse?!
Ele ergueu as mãos, tentando manter a calma.
— Senhor Alessandro, por favor. Temos mais de vinte pacientes em estado de emergência nesse momento. O banco de sangue foi consumido rapidamente. Estamos tentando reforço de outras unidades, mas não é rápido.
— Então o senhor sabe o seu tipo sanguíneo, se é compatível com o dela? — ele perguntou, direto.
— O negativo.
Os olhos dele se acenderam.
— Perfeito. O negativo é doador universal. Vamos precisar que o senhor doe imediatamente.
Assenti sem pensar.
— Onde?
— O hemoba do hospital. Vou avisar para liberarem você direto. Quanto mais rápido a gente conseguir o sangue, mais chances ela tem. Uma das perfurações acertou o fígado, ela perdeu muito sangue e está em cirurgia agora. Houve uma laceração no lobo hepático esquerdo, e o sangramento foi interno. O procedimento é delicado, estamos fazendo uma hepatorrafia, tentando estancar a hemorragia. Mas sem sangue suficiente, ela não aguenta.
Minhas pernas ameaçaram falhar. Eu não entendi metade dos termos, mas entendi o mais importante: ela podia morrer.
— Eu vou agora. — falei, quase sem voz.
Ele assentiu e indicou o corredor.
— Vão te encaminhar. E, por favor, mantenha a calma. Ela está nas mãos dos melhores profissionais que temos aqui.
Corri pelo hospital como um maluco, quase trombando em uma enfermeira na curva. Me apontaram a sala do hemoba e entrei sem nem bater.
— Vim doar sangue. O negativo. É urgente, pra uma paciente na sala 03, Larissa Martins.
Uma mulher de jaleco me mandou sentar, já separando os materiais.
— Vai doer um pouco, mas precisa ficar calmo, tá?
Assenti com a cabeça. Me recostei na cadeira, estiquei o braço.
Senti a agulha entrar. O sangue começou a escorrer pela bolsa. Mas era como se eu nem estivesse ali.
As palavras do médico giravam na minha cabeça como um zumbido infernal: laceração no fígado, sangramento interno, sem sangue suficiente, ela não aguenta.
O rosto dela, caído no meu colo... o sangue nas minhas mãos... e agora, naquela maldita cadeira, com a bolsa enchendo devagar... Eu doava vida enquanto ela lutava pra segurar a dela.
A sala parecia distante. Eu estava ali, mas não estava.
Era como se o mundo estivesse embaçado. Tudo o que importava... era que ela sobrevivesse. Que ela abrisse os olhos. Que ela vivesse, nem que fosse longe de mim.
Mas porra... como eu queria que ela acordasse me vendo ali.
— Pronto — a enfermeira disse, me tirando do transe. — Já foi. Você se saiu bem.
Foram só alguns minutos. Mas pra mim, foi uma eternidade.
Eu me levantei devagar, com o corpo mais leve, mas o coração pesando toneladas.
— Agora salva ela. — murmurei, mais pra mim do que pra qualquer um.
E então saí, com as mãos tremendo, de volta pra espera. Porque agora... só me restava isso. Esperar.
***
Eu já tinha perdido a noção de quanto tempo estava ali naquele corredor branco e frio. Andava de um lado pro outro, sentava, levantava. Cada vez que a porta balançava, meu coração disparava como se fosse sair pela boca. Mas ninguém chamava meu nome. Até que, finalmente, vi o médico vindo na minha direção.
Voltei pra sala de espera com o corpo mais leve por fora, mas carregado por dentro. Ver Larissa daquele jeito me destruiu mais do que eu estava preparado pra admitir. Me sentei no mesmo lugar de antes, esfregando o rosto com as mãos. O celular começou a vibrar no bolso. Era o Pedro. De novo.
Ignorei.
Eu sabia das reuniões das quatro e meia. Mas já passava das sete. Tarde demais pra qualquer planilha, contrato ou apresentação. Foda-se.
O celular vibrou de novo. Olhei: Chiara. Revirei os olhos e deixei tocar. Ela insistiu. Ligou de novo. E de novo.
Atendi.
— O que você quer?! — soltei, sem nem pensar.
Do outro lado, ela pareceu se assustar.
— Nossa… o que aconteceu? Por que você tá falando assim comigo? Você sumiu! — a voz dela veio mais baixa, confusa.
Fechei os olhos. A culpa me bateu como uma marreta. Ela não sabia de nada… Mas, ao mesmo tempo, se não fosse por aquela ligação dela mais cedo, talvez eu tivesse visto aquele desgraçado se aproximando da Larissa. Talvez eu tivesse conseguido evitar tudo isso. Talvez…
Tentei respirar.
— O que você quer, Chiara? — perguntei, agora com a voz menos cortante.
— Só queria saber se você vai jantar… — ela respondeu, meio hesitante.
— Não.
— Onde você tá?
— Tô ocupado.
— Alessandro…
— Vou desligar. — E desliguei.
Fiquei encarando a tela do celular por um tempo. O nome dela ainda aceso. Raiva e arrependimento brigando dentro de mim.
Deslizei os contatos e liguei pra quem realmente precisava saber.
— Alê? — Diogo atendeu na segunda chamada. — Tá tudo bem?
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Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...