(Alessandro)
Eu não sentia mais minhas mãos. O volante parecia feito de pedra. Meu coração batia tão forte no peito que doía, uma dor real, sufocante, que atravessava meu corpo como uma faca. Cada semáforo, cada curva, cada segundo parecia uma eternidade.
Droga, Larissa... aguenta.
Ela estava tão quieta no banco de trás. Eu olhava pelo retrovisor a cada segundo, mas não via movimento nenhum. Nem um gemido. Nada.
Estacionei com pressa na entrada da emergência e pulei pra fora do carro. Fui até a porta de trás e a abri com força.
O estofado estava encharcado de vermelho. O sangue dela.
O sangue da Larissa.
Minhas pernas fraquejaram por um segundo. Ela tava pálida, gelada... tão diferente da mulher cheia de vida que eu conhecia. Aquela imagem me deu um soco no estômago.
— Alguém me ajuda, caralho! — gritei, olhando ao redor.
A emergência estava movimentada. Gente entrando, gente chorando, funcionários correndo. Um caos.
Uma enfermeira veio correndo, olhou pra Larissa e arregalou os olhos.
— Ela foi esfaqueada! — Eu disse e ela saiu correndo e voltou com dois caras e uma maca.
Eu me abaixei e a peguei no colo com cuidado. Meu Deus... como ela tava fria. Tão leve. Como se o corpo já estivesse desistindo.
— Fica comigo, Larissa... pelo amor de Deus, não faz isso comigo... — sussurrei contra o cabelo dela, sentindo a sua pele contra meu peito.
Coloquei ela na maca com as mãos tremendo. Meus braços sujos de sangue, minha camisa colada de tanto vermelho. A dor no meu peito era insuportável.
Joguei a chave do carro pro primeiro idiota que vi.
— Tira meu carro da frente. Agora.
O cara franziu a testa.
— Senhor, isso não é minha função—
Segurei ele pelo colarinho e aproximei meu rosto do dele.
— É agora, porra! Tira meu carro da frente antes que eu te faça engolir essa farda ridícula.
Ele engoliu seco, assentiu e saiu correndo meio pálido pra pegar o carro.
Segui a maca, grudado nela, com o coração despedaçado. Mas no meio do caminho... eles pararam.
— Por que pararam?! — gritei, fora de mim. — O que vocês tão fazendo?
A enfermeira hesitou, olhando ao redor, suando frio.
— Senhor... há meia hora chegou um grupo de vítimas de um prédio que desabou... A emergência tá lotada. A gente tá sem vaga, sem sala, sem médico disponível...
— Você acha que eu me importo com desculpa agora?! — berrei, avançando pra cima dela. — Essa mulher tá morrendo aqui!
Ela recuou, tremendo.
— Eu sei, mas... não tem mais onde colocar ela. A gente já tá tentando estancar o sangra—
— Foda-se!
Tirei o celular do bolso com as mãos tremendo de raiva. Meus dedos mal conseguiam pressionar os botões direito. Liguei pro Aurélio.
Nada na primeira tentativa. Maldito. Na segunda ele atendeu.
— Alessandro? — ele começou a falar, mas eu nem deixei.
— Minha esposa foi esfaqueada. Ela está sangrando muito e precisa de uma cirurgia agora mesmo, mas estão me dizendo que não tem a porra de uma vaga. Se vocês não a levarem e a salvarem, eu JURO que até o final do dia vou acabar com esse hospital. Ou você resolve essa merda agora ou amanhã não sobra um tijolo nesse lugar. Você me entendeu?!
Desliguei antes de ouvir a resposta.
A enfermeira me encarava com os olhos arregalados. Mas eu não estava nem aí.
Me abaixei de novo e toquei o cabelo da Larissa. Ela estava inconsciente, tão quieta.
— Você vai ficar bem, tá? Me escuta... você vai sair dessa, Larissa... por favor.
Toquei o rosto dela com cuidado. Pálido. Macio.
— Quem fez isso com você, hein? Quem? — minha voz quebrou. — Eu vi você sair da casa da minha avó. Eu te segui. Eu não sei por que caralho eu fiz isso, mas eu fiz. E quando você se sentou naquele banco... eu fiquei ali... só te olhando.
Ela poderia morrer.
Sacudi a cabeça, entrei no carro e peguei a bolsa dela. Tranquei as portas e puxei o celular do bolso, ligando imediatamente para Fernando.
— Fala, Ale — ele atendeu rápido.
— Larissa foi atacada. Esfaquearam ela no parque da cidade por volta das quatro horas. Eu preciso que você ache o filho da puta que fez isso. Verifica as câmeras, a área perto da casa da minha avó, qualquer coisa. Mas eu quero ele. E não deixa ninguém encostar nele até eu chegar, entendeu?
Silêncio por dois segundos.
— Você ainda vai arrumar problema pra mim na delegacia, cara.
Revirei os olhos, irritado.
— Fernando, você ganha muito bem pra isso. Faz teu trabalho direito e não me venha com discurso agora.
Ele soltou um suspiro pesado do outro lado da linha.
— Tá. Eu vou ver o que consigo. Mas se der merda, é nas tuas costas.
— Como sempre. — finalizei, e desliguei.
Apertei o volante com força antes de sair do carro. Caminhei rápido de volta pro hospital com a bolsa dela em mãos. Fui direto pra recepção, encostei no balcão e a atendente, uma mulher de óculos e cara de poucos amigos, me olhou com tédio.
— Nome da paciente?
— Larissa Martins. — falei rápido, entregando os documentos.
Ela digitou algo no sistema.
— E o senhor é o quê dela?
— Esposo.
Ela assentiu, sem levantar os olhos.
— Certo. Aguarde um momento enquanto eu finalizo o cadastro.
Esposo. Repeti mentalmente. O divórcio... Aquele papel ainda estava lá no cofre, com a assinatura dela e o meu espaço em branco. Eu nunca tive coragem de assinar. E agora, vendo ela naquele estado, entre a vida e a morte, percebi que eu nunca conseguiria.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...