Saí do quarto e fui direto pra sala. O barulho da narração esportiva me avisou que meu pai estava vendo futebol. Ele tava jogado no sofá, meio largado, com a cara cansada e os olhos fixos na TV. Me joguei no sofá do lado dele, puxando uma almofada pro colo.
— O time tá ganhando, pai?
Ele deu um sorriso de canto, sem tirar os olhos da TV.
— Milagre... tão ganhando, sim.
— Então hoje tá tudo alinhado no universo mesmo, porque meu dia também foi bom.
Ele virou o rosto pra mim, curioso.
— É mesmo? Conta aí.
— Fui lá na empresa, né? Me apresentei pro pessoal do marketing, troquei uma ideia com eles... até dei uma sugestão pra uma campanha nova de reposicionamento. E olha, pai... me receberam melhor do que eu esperava.
Ele se ajeitou um pouco no sofá, interessado.
— Fico feliz por você, minha filha. De verdade.
— Mas vou te confessar uma coisa... fiquei com receio. Tinha uns olhares estranhos, sabe? Tipo... “lá vem a filha do ex-dono que afundou a empresa”.
Ele suspirou fundo, passando a mão no rosto.
— É normal, Larissa. A verdade é que eu deixei tudo escorregar pelos dedos. Eu errei, me enrolei... confiei demais em gente errada.
— Você confiou no Alessandro, pai. E ele jogou sujo, muito sujo. Não foi sua culpa. Ele quis nos destruir por pura vingança. Mas eu... eu juro que vou mudar isso. Vou dar um jeito de trazer a empresa de volta pra gente.
Ele olhou pra mim com um misto de orgulho e tristeza.
— Você é forte, filha. Sempre foi. Mas é uma luta grande, viu? Não quero ver você se machucando por minha causa.
— Não é só por você, pai. É por mim também e pelo Gabriel. Eu quero que ele tenha orgulho da nossa história. Que saiba que a gente não deixou que ninguém apagasse nosso nome.
Ele assentiu, emocionado. Ficamos em silêncio por um tempo, até que ele falou:
— E... você já viu o Alessandro desde que voltou?
Suspirei, encostando a cabeça no encosto do sofá.
— Infelizmente, sim. E hoje... ele apareceu na escola do Gabriel.
Meu pai virou o rosto na hora, surpreso.
— Na escola? Pra quê?
— Disse que foi ver o meu filho. Mas... pai, eu tô com medo. De verdade. Tenho pavor de que ele descubra que o Gabriel é filho dele e tente tirar ele de mim.
Meu pai se calou por um segundo, depois passou a mão no meu ombro.
— Larissa, escuta uma coisa. Mesmo que o Alessandro descubra... ele não vai conseguir te tirar o Gabriel. Você é uma mãe maravilhosa. Ele é seu. Ele cresceu com você, tem seu cheiro, seu cuidado. E nenhuma influência ou poder que aquele homem tenha vai mudar isso.
Senti os olhos marejarem. Me inclinei e abracei meu pai forte, como não fazia há tempos.
— Obrigada, pai... eu precisava ouvir isso.
— Sempre que precisar, filha. Eu tô aqui. E se o Alessandro tentar alguma coisa, ele vai ter que passar por mim antes.
Sorri com um nó na garganta.
***
Dei um beijo no rosto de Gabriel antes dele correr com a mochilinha balançando nas costas em direção ao portão da escola. Ele virou pra mim e acenou com aquele sorriso banguela que sempre fazia meu coração derreter.
— Tchau, mamãe! — gritou.
— Boa aula, amor! Se comporta, hein! — respondi, rindo.
Observei até ele entrar e desaparecer entre as crianças. Foi quando ouvi o som do celular vibrando na minha bolsa. Peguei o aparelho, ainda sorrindo, mas assim que vi o nome na tela, meu sorriso desapareceu.
Tereza.
Desliguei e fiquei ali por mais alguns segundos, segurando o celular com força, como se ele fosse desintegrar na minha mão. Passei a mão no rosto, tentando respirar fundo. A verdade é que eu tinha esquecido. Esquecido do quanto eles tinham sido parte da minha vida. Esquecido da dor deles também.
E agora, tudo tava voltando. Com força.
Mas talvez fosse hora de encarar isso também.
***
Estacionei o carro e desliguei o motor, mas fiquei ali por alguns segundos, com as mãos no volante. O nervosismo subia como uma maré difícil de conter. Respirei fundo, tentei me convencer de que era só uma visita, só duas pessoas queridas... mas meu coração não parava de bater acelerado.
Quando finalmente criei coragem, saí do carro. Antes que eu pudesse tocar a campainha, a porta se abriu.
Tereza estava ali, com um sorriso gentil no rosto... mas assim que a vi, meu peito apertou. Ela tinha envelhecido. Muito mais do que eu imaginava. As rugas estavam mais marcadas, os olhos mais cansados... e ainda assim, o calor dela era o mesmo de sempre.
— Minha menina... — ela sussurrou, me puxando para um abraço apertado.
Fechei os olhos e me permiti aquele momento, sentindo um nó se formar na garganta.
— Como você tá, Larissa? — ela perguntou, me soltando e segurando minhas mãos com firmeza.
— Tô indo, Tereza... tô levando. — forcei um sorriso, mas ela leu meu cansaço nos olhos.
— Vem, entra. Lúcio tá na sala, tava ansioso pra te ver.
Entrei e, assim que pisei na sala, lá estava ele.
Lúcio.
Meu coração doeu. Ele também parecia outro. Mais magro, o rosto mais abatido, o olhar... o olhar trazia uma mágoa que me atingiu direto no peito.
— Oi, Lúcio... — murmurei.
Ele demorou um pouco pra falar. Me observou, sério. Parecia estar lutando com as próprias emoções.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...