O fim do dia chegou mais rápido do que eu esperava. Saí da empresa exausta, mas com aquela sensação boa de missão cumprida. Ainda estava digerindo tudo o que aconteceu.
Os olhares dos colegas, os sorrisos discretos, o fato de ter conseguido conduzir a reunião mesmo com o coração apertado e a cabeça cheia.
Entrei no carro e me recostei no banco por um segundo, soltando o ar devagar. Liguei o rádio numa estação qualquer, mais por precisar de som do que por gostar da música. Foi quando o celular vibrou no banco do passageiro. Olhei o visor.
Número desconhecido.
Franzi o cenho. Quase não atendo esses, mas um pressentimento, me fez deslizar o dedo na tela.
— Alô?
Houve um segundo de silêncio antes de uma voz conhecida estourar do outro lado:
— Lari! É você?
Meu coração deu um pulo.
— Cathe?!
— AAAAAAAH, eu sabia que você ia atender!
Soltei uma risada surpresa, levando a mão à testa.
— Meu Deus, mulher, você sumiu!
— Eu sumi nada, você que fugiu pra Alemanha me deixou órfã por anos! — ela disse com aquele tom dramático de sempre.
— Você não tá entendendo... tô até com vontade de chorar. Cê tá de volta mesmo?
— Tô, tô sim. Cheguei faz dois dias, mas quis organizar as coisas antes de ligar. E agora só consigo pensar numa coisa: EU PRECISO VER O GABRIEL!
Sorri de verdade, daquela forma que aquece o peito.
— Ele vai amar te ver. Sempre falei para ele sobre você.
— Aaaaaah meu coração! Bora marcar alguma coisa? Podemos jantar hoje? Tem um restaurante bem legal com brinquedoteca.
— Tudo bem, me manda o endereço que apareço lá com ele.
— Tá bom, eu quero olhar na tua cara e ouvir as fofocas e te dar uns t***s por ter desaparecido.
— Combinado então, até mais tarde.
— Até! Tô mandando o endereço novo no W******p, tá? Ai, Larissa... que saudade, amiga.
— Eu também, Cathe. Muito. Foi um alívio ouvir tua voz.
— E olha, tem tanta coisa que eu preciso te contar... mas a gente fala pessoalmente. Te amo, viu?
— Também te amo.
Desliguei com um sorriso no rosto, o celular ainda na mão.
Era como se, por um instante, uma fresta de luz tivesse se aberto entre todas as dúvidas e fantasmas do passado. A Cathe era parte boa da minha história.
***
Cheguei em casa e a primeira coisa que ouvi foi a risadinha gostosa do Gabriel vindo lá do quarto dele. A van já tinha deixado ele, como sempre, e a Júlia, a babá, estava terminando de arrumar os brinquedos na sala.
— Oi, Ju, tudo certo por aqui?
— Tudo tranquilo, Larissa. Ele comeu direitinho e só fez um pouquinho de bagunça na hora de desenhar — ela falou sorrindo, me entregando o caderno com uns rabiscos e, claro, um sol com carinha feliz.
— Ele adora esses desenhos dele. Obrigada por cuidar dele direitinho.
— Imagina! Até amanhã, tá? — ela pegou a bolsa e saiu.
Fui direto pro quarto do Gabriel. Ele estava sentadinho no chão, brincando com os carrinhos, e quando me viu, abriu aquele sorriso banguela.
— Mamãe! — ele correu até mim tropeçando nos próprios pés e eu o peguei no colo.
— Oi, meu amor. Como foi seu dia?
— Bão. A Júia deixô eu comê biscoito! — ele disse todo empolgado, e eu fiz uma cara de falsa bronca.
— Ah é? Hmm... depois a mamãe conversa com a Júlia, hein! Mas agora... sabe o que a gente vai fazer?
— O quê?
— A gente vai tomar um banho bem gostoso e depois sair!
— Sair? Pra onde?
— Pra ver uma pessoa muito especial... — falei enquanto ia levando ele pro banheiro.
— Quem é?
Gabriel veio correndo com um carrinho na mão.
— Mamãe, tô lindu?
Me abaixei, peguei ele no colo e beijei sua bochechinha.
— Você tá o menino mais lindo desse mundo. Agora vamos deixar a Cathe feliz?
— Vamos!
O restaurante era aconchegante, desses com iluminação amarela suave e cheiro de pão fresco no ar. Escolhi uma mesa perto da brinquedoteca, não queria perder Gabriel de vista nem por um segundo. Ele estava no meu colo, virando o rostinho curioso pra todo lado.
Quando vi Cathe se aproximando, foi impossível não sorrir. Ela vinha apressada, com aquele jeito vibrante de sempre, e os olhos arregalados assim que bateu em Gabriel.
— Meu Deus! Olha esse menino!
Ela se agachou na frente dele, os olhos brilhando, e eu senti meu coração ficar quente.
— Oi, pequenino! Eu sou a Cathe, sua tia doida, muito prazer! — falou com a voz animada.
Gabriel olhou desconfiado por meio segundo, depois deu aquele sorrisinho tímido e se jogou no abraço dela.
— Oi... Cacchi. — falou, meio embolado, e ela gargalhou, ainda apertando ele.
— Cacchi? Eu amei esse apelido. Tô oficialmente batizada!
Ela se levantou, e aí fui eu que ganhei o abraço apertado dela.
— Menina, você tá linda! Olha essa cara de mãe poderosa!
— Olha quem fala... A mulher que conquistou metade da Europa!
Nos sentamos e já pedimos alguma coisa — suco pro Gabriel, refrigerante pra gente e uma porção de batata frita pra começar.
Enquanto o garçom saía, Gabriel puxou minha blusa.
— Mamãe... Posso ir... na binquedoteca?
— Pode sim, amor. Mas fica só ali, tá? A mamãe tá te olhando.
Ele saiu animado, correndo com os passinhos apressados e já se enturmando com outras crianças. Fiquei ali, com o olho nele, enquanto Cathe me encarava com um sorrisinho maroto.
— Tá. Agora vamos lá. Como você tá? Tá mesmo de volta? Vai ficar? Tá com o Rafael? Ou aquele gato do Diogo? E, por favor, me diz que você não viu o traste do Alessandro.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...