(Larissa)
Sabe aquele tipo de dia que parece meio fora do eixo? Foi assim. Eu tinha saído apressada, meio atrasada pra uma reunião que acabou sendo cancelada de última hora. Resolvi andar um pouco, tomar um café, tentar organizar as ideias. Às vezes, só de respirar um pouco longe do caos já dá uma ajudada.
Entrei naquela cafeteria charmosa que sempre passava em frente, mas nunca parava. Pedi um cappuccino e fui até a prateleira de livros no canto. Ela era uma dessas cafeterias que tentam ser descoladas e culturais ao mesmo tempo.
Foi aí que ouvi uma voz familiar.
— Olha só… Se eu soubesse que vir pro Brasil me renderia mais um encontro com você, teria vindo antes.
Virei devagar, meu coração deu uma pequena batida fora do ritmo. Enzo.
Aquele sorriso que misturava charme e provocação ainda estava ali. Os cabelos castanhos um pouco bagunçados, a barba por fazer, e o jeito despreocupado que me fez lembrar imediatamente da cena em Chicago… a da bolsa, do empurrão, e dele surgindo como um improvável herói de filme.
— Enzo? — falei, rindo de surpresa. — Não acredito… de novo?
— Segunda vez. — ele sorriu, se aproximando. — Acho que é oficial… o universo tá tentando me convencer de alguma coisa.
Revirei os olhos, mas não consegui conter o sorriso.
— Talvez você só tenha boa sorte.
— Ou talvez você seja meu prêmio por ela. — Ele piscou, descaradamente.
Enzo era… direto. E muito bonito. Aquele tipo de homem que sabe exatamente o efeito que causa e mesmo assim, não exagera. O pior é que o charme dele não era só visual, era o jeito leve de falar, como se tudo fosse fácil ao lado dele.
— Você tá morando aqui agora? — perguntei, tentando parecer casual, mas sentindo minhas bochechas esquentarem.
— Não exatamente. Vim resolver umas coisas, visitar amigos, dar um tempo do frio de Chicago. — Ele me olhou por um segundo a mais do que devia. — Mas talvez eu prolongue a estadia se tiver bons motivos.
— Ah, então é isso? Tá sondando se eu sou um bom motivo?
Ele riu, aquele riso leve, envolvente.
— Talvez eu esteja sendo descarado?
— Um pouco. — respondi, pegando minha xícara e tentando esconder o sorriso atrás dela.
Ele então se aproximou um pouco mais, pegou um livro qualquer da estante sem nem olhar o título.
— E se eu pagar um jantar pra você? Nada demais. Só um jantar, duas pessoas que já se esbarraram duas vezes, conversando direito pela primeira vez. Pode ser?
Hesitei. Por um segundo, a imagem de Alessandro passou pela minha cabeça. Por quê? Nem sei. Era como uma sombra que insistia em aparecer nos momentos errados. Mas eu respirei fundo. Enzo era gentil, tinha sido incrível comigo e… talvez o universo realmente estivesse tentando dizer alguma coisa.
— Tá bem. — suspirei. — Aceito o jantar.
Ele sorriu de um jeito tão satisfeito que até fiquei sem graça.
— Ótimo. Espero que goste de vinho e massas artesanais, porque eu conheço um lugar incrível.
— Se tiver sobremesa, já ganhou pontos extras.
— Feito. Pode me passar seu contato então?
Enzo pegou meu número, combinamos o lugar e o horário, e quando ele se despediu com um beijo leve na bochecha, eu senti que aquele dia tinha saído completamente dos trilhos, mas de um jeito bom.
Talvez eu estivesse pronta pra permitir que novos caminhos se abrissem.
Saí da cafeteria com um leve sorriso no rosto, ainda processando o convite de Enzo. Era estranho como o dia tinha virado do avesso em tão pouco tempo, de um cancelamento frustrante a um jantar promissor. O sol já estava mais baixo, dourando as calçadas, e o ar parecia mais leve.
Mas é claro que o universo não ia me dar essa paz por muito tempo.
Estava distraída, pegando o celular da bolsa, quando esbarrei em alguém.
— Ai, desculpa! Foi mal, eu não vi você...
Ergui os olhos.
Pronto. Lá se foi a paz.
Ali, de pé na minha frente, toda montada no salto e no veneno, estava ela. Rosa.
O rosto dela se contorceu em desgosto no mesmo segundo que me reconheceu.
— Larissa? — ela disse, o tom quase cuspido, como se só meu nome tivesse gosto ruim.
Suspirei. Eu podia simplesmente sorrir, desejar um bom dia e sair andando. Mas ela não ia facilitar.
Levei Gabriel pro banho, ajudando com o shampoo, o pijaminha, secando aquele cabelo bagunçado. Era um ritual nosso, e eu gostava disso. No fundo, me trazia paz — me lembrava que, não importa o que acontecesse lá fora, aqui dentro eu era mãe. E era amada.
Quando voltamos pra cozinha, a mesa já estava com o jantar servido. Alguém tinha esquentado o que a Cida tinha deixado mais cedo. Me sentei ao lado do Gabriel, que já engolia colheradas de arroz com feijão como se não comesse há dias.
— E aí, como foi a reunião? — Álvaro perguntou, me lançando um olhar curioso.
Suspirei e mexi no prato.
— Cancelaram. — dei de ombros. — Coisa de última hora. Mas tudo bem, marquei pra semana que vem. Aos poucos, tô voltando pro ritmo da empresa.
— E tá tudo certo com isso? — ele perguntou de novo, preocupado. — Você tá se sentindo bem de voltar, depois de tudo?
— Tô, pai. De verdade. — olhei pra ele com carinho. — Acho que parte de seguir em frente é também retomar o que é nosso, né?
Ele assentiu, orgulhoso, e a conversa seguiu leve por alguns minutos — até eu decidir cutucar.
Virei o rosto pra Rafael, que comia calado.
— Ah, e a loira do baile? Vai apresentar pra gente?
Rafael fez uma careta tão clássica que quase ri.
— Se a coisa se firmar... quem sabe. — deu um sorriso torto.
— Acho justo.
Ele riu sem graça e abaixou os olhos, pegando o copo de suco.
— A gente ainda tá vendo no que dá.
Foi então que Gabriel, com a boca suja de molho, soltou:
— Papai tá namorando?
— Ainda não, campeão. — Rafael respondeu, bagunçando o cabelo dele. — Tô conhecendo ela.
Fiquei observando os dois com uma sensação estranha no peito. Não era ciúme, pelo menos não daquele tipo romântico. Era só... estranho ver alguém fazendo parte do mundo que, por tanto tempo, foi só nosso.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...