Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 70

Passei o fim de semana inteiro naquele hotel, trancado num quarto frio com garrafas vazias, travesseiros jogados no chão e a cabeça girando. Ignorei Chiara, ela mandou mensagem, ligou, tentou saber onde eu estava. Mas eu não queria ver ninguém. Principalmente ela.

Acordei na segunda cedo, ou pelo menos abri os olhos, dormir de verdade eu não tinha dormido. Tomei um café fraco na recepção do hotel e fui direto pra empresa. Estava acabado. Literalmente.

Cheguei antes de todo mundo. Estacionei no subsolo e subi direto pro meu andar. Entrei na minha sala e fui pro banheiro privativo. Tirei a roupa amassada e entrei no chuveiro quente tentando lavar a bagunça que eu estava por dentro. Não adiantou muito, mas pelo menos eu parecia menos um zumbi.

Vesti um dos ternos reserva que eu sempre deixo no armário de emergência. Camisa branca, blazer escuro, gravata torta, nem me importei de arrumar. Me olhei no espelho e quase não me reconheci. Cara amassada, olheiras fundas, olhar vazio.

Respirei fundo, ajeitei o cabelo e voltei pra mesa. Me joguei na cadeira giratória com um suspiro pesado. A dor de cabeça latejava, como se minha cabeça tivesse um martelo batendo bem no centro da testa.

Peguei o telefone e disquei.

— Pedro? — minha voz saiu rouca. — Consegue alguma coisa pra dor de cabeça? Qualquer coisa. Até veneno se for rápido.

Ele riu do outro lado. — Pode deixar, chefe. Tô indo aí com um remédio e um café forte.

Desliguei e encostei a cabeça na cadeira, tentando relaxar, tentando focar. Abri o notebook, li o primeiro e-mail. Nada fazia sentido. O segundo pior ainda. Meu cérebro estava lerdo, embaralhado.

Dez minutos depois, Pedro entrou com uma bandeja.

— Café, dipirona e... uma garrafinha d'água. O kit sobrevivência.

Peguei o remédio e virando com a água.

Ele saiu, mas nem deu tempo de eu tomar um gole do café. Meu telefone tocou.

— Senhor Alessandro, a equipe de marketing está reunida na sala três. Houve um problema com a nova campanha. Parece que houve vazamento de imagem antes do lançamento oficial.

Lá vamos nós.

Levantei devagar, sentindo a cabeça latejar ainda mais. Peguei o café e fui até a sala três. A equipe inteira estava ali: rostos tensos, olhares nervosos. Assim que entrei, se calaram.

— Alguém pode me explicar o que tá acontecendo? — perguntei, tentando manter a voz firme.

A coordenadora, Juliana, começou…

— As imagens da campanha nova foram publicadas em uma conta anônima no I*******m. O problema é que o slogan e o design ainda estavam em fase de aprovação. Isso pode queimar a marca, causar retrabalho, ou até virar um processo se descobrirem que a arte copiou parcialmente um concorrente europeu...

Fechei os olhos por um segundo. Inspirei fundo.

— Primeiro, derrube a publicação. Já acionaram o jurídico?

Ela assentiu.

— Sim, eles já estão cuidando.

— Ótimo. Agora, descubram de onde isso vazou. Eu quero saber quem teve acesso ao material, o caminho que ele percorreu e onde foi parar. Alguém aqui ainda não entendeu que nossa empresa vive de confiança e planejamento?

Silêncio.

Eu senti vontade de gritar, quebrar algo, qualquer coisa. Mas me contive. Respirei fundo outra vez.

— Vocês têm duas horas. Quero um relatório completo na minha mesa. Não deixem nada de fora. Dispensados.

Eles saíram apressados e eu voltei pra minha sala. Fechei a porta, larguei o copo de café na mesa e encostei a testa na parede por um segundo. A dor de cabeça ainda estava ali, firme e forte, mas agora misturada com frustração.

Mal tinha me jogado de volta na cadeira e pegado o café quando o telefone tocou de novo. Olhei o visor. Número desconhecido.

Revirei os olhos, já esperando alguma cobrança ou crise nova, e atendi no automático:

— Alessandro falando.

— Senhor Alessandro? Aqui é o enfermeiro Vinícius, do Hospital Saint Claire. O senhor está na lista de contatos prioritários do paciente Cauã Ribeiro.

Na hora, meu corpo inteiro ficou tenso. Endireitei na cadeira.

— O que aconteceu? Algum problema? — minha voz saiu mais alta do que eu queria.

— Na verdade… não. Ou melhor, esperamos que não. — Ele fez uma pausa. — O senhor Cauã apresentou reações compatíveis com sinais de consciência. Reflexos neurológicos, movimento dos olhos, resposta a estímulos sonoros. Ele pode estar despertando do coma.

Meu coração bateu forte no peito, um misto de susto e esperança.

— Ele tá acordando? Tem certeza?

— Estamos iniciando exames mais específicos agora. A esposa dele já foi informada e está a caminho. Achei que o senhor gostaria de saber.

Levantei tão rápido que quase derrubei a cadeira.

— Sim, claro. Obrigado por me ligar. Eu tô indo agora.

— Tudo bem. Assim que tivermos algo mais concreto, atualizaremos vocês.

Desliguei sem dizer mais nada.

Ele parecia mais magro, mais pálido, mas os olhos… estavam abertos. E vivos.

— Ei, cara… — murmurei, tentando manter a calma, me aproximando devagar da cama.

Os olhos dele se moveram até mim. Ele piscou. Duas vezes. Soltou um som rouco, um grunhido, quase como um esforço desesperado de falar. Meu peito apertou.

— Sou eu, Alessandro. — sorri, inclinando um pouco o corpo pra ele. — Você tá seguro, tá? Você voltou.

Ele tentou falar outra vez. Os lábios mexeram, sem coordenação. Um som saiu, abafado, arrastado. Quase um “sssá…”

— Calma… Não força. Você vai conseguir falar de novo, mas no seu tempo, tá?

O médico se aproximou.

— Senhor Alessandro, posso explicar a situação atual?

Assenti, sem desviar os olhos de Cauã.

— Ele tá reagindo, o que é excelente. Os exames mostram que, até agora, não há sequelas neurológicas graves, o que é quase um milagre considerando o tempo que ele ficou em coma. — O médico folheou a prancheta. — Mas o corpo ainda está se readaptando. Ele vai precisar de fisioterapia, fonoaudiologia, acompanhamento psicológico. Caminhar, falar, até comer normalmente… tudo vai exigir tempo e paciência.

— E a memória? Ele… vai lembrar do que aconteceu?

O médico fez uma pausa.

— É possível, mas ainda não sabemos. Vamos observar nos próximos dias, ver se ele começa a puxar algumas lembranças. No momento, é impossível prever.

Cauã mexeu os olhos de novo, com mais intenção agora. Ele queria dizer algo. Queria muito.

— Fica tranquilo, parceiro. Não precisa correr. — falei baixo, segurando a mão dele. — Você vai sair dessa. E quando sair… a gente vai conversar.

Ele apertou de leve meus dedos. Pequeno, mas firme. Quase como se tivesse dizendo: “Eu tô aqui”.

E isso já era mais do que eu esperava ver hoje.

Me afastei um pouco, deixando que a esposa dele se aproximasse. Saí do quarto com o peito apertado e a mente a mil.

Se ele lembrasse… se ele dissesse o que aconteceu naquela noite… tudo mudaria. Tudo.

E eu finalmente saberia quem, nesse maldito jogo, tava jogando sujo desde o começo.

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