Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 65

A mãozinha de Gabriel apertava a minha com força. Ele andava do meu lado pulando em alguns quadradinhos da calçada, como se aquele dia fosse só mais uma aventura qualquer. Eu, por outro lado, sentia o coração bater forte no peito.

Chegamos à escola, uma casinha colorida com o som de crianças brincando nos fundos. O portão de ferro estava aberto, e uma moça de uniforme azul nos recebeu com um sorriso caloroso.

— Bom dia! Você é a Larissa? A mãe do Gabriel? — ela perguntou.

Assenti, apertando a mão dela.

— Sim. Vim conversar com o diretor sobre a matrícula.

— Claro! Podem entrar. Eu sou a Tereza, uma das professoras. Gabriel, quer ver nossa brinquedoteca enquanto sua mamãe conversa um pouquinho?

Gabriel olhou pra mim com os olhos brilhando. Eu sorri e balancei a cabeça.

— Vai lá, amor. Mamãe vai estar aqui te esperando.

Ele foi correndo atrás dela e eu fiquei ali parada por um segundo, só observando. Era estranho como, mesmo sendo tão pequeno, ele parecia ter mais coragem que eu.

Fui levada para uma sala simples, mas acolhedora. O diretor se chamava Maurício, devia ter uns cinquenta e poucos anos, e me recebeu com um aperto de mão firme e um olhar sincero. Conversamos sobre a rotina da escola, as atividades, o acompanhamento das crianças.

— Gabriel vai gostar muito daqui. E você também pode ficar tranquila. Ele vai estar em boas mãos.

Assenti, tentando conter a emoção. Iria matricular meu filho na escolinha porque ele não tinha nenhum coleguinha por perto na nossa casa, e eu queria que ele tivesse contato com outras crianças da idade dele.

Ele me entregou uma ficha de matrícula e uma caneta. Me sentei à mesa e comecei a preencher os dados. Nome completo do aluno. Data de nascimento. Alergias. Contato de emergência.

Então veio o campo que me travou.

Nome do pai.

A caneta parou.

Eu encarei aquele espaço em branco como se ele tivesse um peso que ninguém ali poderia entender. Por um momento, senti minha garganta fechar. Pensei em tudo o que já tinha passado. Tudo o que Gabriel merecia… e o que nunca teve.

Com um suspiro discreto, escrevi.

Não declarado.

E segui preenchendo o resto da ficha, tentando ignorar o aperto no peito.

***

Mais tarde, depois de ter acertado tudo e recebido a listinha de material, encontrei Diogo do lado de fora. Ele tinha prometido ir me encontrar e apareceu com aquele sorriso meio de canto.

— Fala, mãezona. E aí, como foi?

— Foi bom. Ele vai começar semana que vem. A escola é linda, Diogo. A professora foi um amor com ele.

— Sabia que ia dar certo. E pra comemorar... sorvete.

— Ah não, você tá mimando demais esse menino.

— Eu? Ele que pediu. Não vou negar um pedido desses.

Gabriel saiu correndo da brinquedoteca com os cabelos bagunçados e o rosto corado de tanto brincar. Quando viu Diogo, abriu um sorriso.

— Tio Diogo!

— E aí, garotão? Pronto pra provar o melhor sorvete da cidade?

— Siiim!

Fomos caminhando juntos até uma sorveteria próxima. Sentamos numa mesinha ao ar livre, com Gabriel se lambuzando todo de chocolate e baunilha.

— Ele vai ser feliz, sabe? — eu disse de repente, encarando Gabriel com o coração apertado. — Mesmo com tudo... Eu vou dar um jeito.

Diogo me olhou por um instante, sem zombaria, sem aquele tom brincalhão de sempre. Só assentiu.

— Eu não duvido disso nem por um segundo, Larissa.

Gabriel continuava lambendo o sorvete como se fosse a melhor coisa do mundo. O rosto dele já estava sujo de chocolate até o nariz, e eu só conseguia sorrir com aquela cena. Era impossível não se sentir grata por momentos assim, por mais simples que fossem.

Diogo mexia no copinho de sorvete dele distraidamente quando me olhou de lado e perguntou:

— E aí, você chegou a falar com o Rodolfo?

Assenti com a cabeça, limpando com um guardanapo o cantinho da boca de Gabriel.

— Falei sim. Marquei uma reunião com ele amanhã à tarde.

— Boa! — Ele sorriu largo, genuinamente feliz por mim. — Ele já ouviu falar de você. E, modéstia à parte, eu faço questão de elogiar o seu trabalho pra todo mundo. Você merece, Larissa. De verdade.

Fiquei sem graça por um segundo, mas sorri de volta, sentindo o peito aquecer com as palavras dele.

— Obrigada, Diogo. Não sei se eu teria dado conta disso tudo se não fosse você.

— Ah, para — ele disse, balançando a cabeça. — Você sempre deu conta. Eu só tô aqui... empurrando um pouquinho às vezes.

Caminhamos juntos até o estacionamento, Gabriel pulando entre a gente, segurando nossas mãos como se fosse um cabo de guerra. A tarde já começava a cair, e o céu tinha aquele tom dourado bonito, quase como se o dia tivesse tentando se redimir de tudo o que já foi difícil.

— É aqui — falei, parando ao lado do meu carro. Gabriel soltou a mão do Diogo e correu pro banco de trás, animado pra entrar.

Me virei pra ele e sorri.

— Obrigada por hoje... de verdade. Por tudo.

Ele balançou a cabeça devagar, com aquele sorriso calmo de sempre.

— Não precisa agradecer, Larissa. Eu gosto de estar por perto.

Fiquei olhando pra ele por uns segundos, meio sem saber o que dizer, com o peito leve e pesado ao mesmo tempo. Me aproximei e deixei um beijo suave na bochecha dele, demorando um segundo a mais que o necessário.

— Mesmo assim... obrigada.

Ele assentiu, olhando pra mim com aquele olhar que dizia mais do que ele se permitia falar.

— Se cuida, tá? E boa sorte com o Rodolfo amanhã. Você vai arrasar.

— Vou tentar — sorri. — Agora preciso buscar meu pai no hospital.

— Como ele tá?

— Melhorando... aos poucos. Ainda vai precisar de acompanhamento, mas estável, graças a Deus.

— Qualquer coisa, é só me chamar — disse ele com firmeza. — Qualquer coisa mesmo.

Assenti, grata mais uma vez. Entrei no carro e dei uma última olhada antes de fechar a porta. Diogo ainda estava lá, parado, observando a gente com um meio sorriso e as mãos nos bolsos.

Dei partida e respirei fundo. Tinha um mundo pela frente — uma reunião importante no dia seguinte, decisões novas, um recomeço com o Gabriel, cuidar do meu pai...

Mas naquele momento, enquanto dirigia com a brisa entrando pela janela e Gabriel cantando baixinho no banco de trás, eu só conseguia pensar que, mesmo com tudo o que me aconteceu, eu ainda tinha força.

E talvez, só talvez… esperança.

Acordei cedo naquela manhã, com o coração acelerado e uma mistura de ansiedade e empolgação. Gabriel ainda dormia, abraçado no travesseiro com o rostinho sereno. Eu o beijei na testa e deixei um bilhete para a vizinha que ficaria com ele por algumas horas. Era o primeiro passo oficial rumo ao meu novo começo — e eu não podia perder.

Cheguei na sede da empresa de brinquedos com uns quinze minutos de antecedência. O prédio era moderno, cheio de vidro e verde por todos os lados. Respirei fundo antes de entrar. Estava nervosa, claro… mas era aquele tipo bom de nervosismo, o que te faz querer dar o seu melhor.

A recepcionista foi simpática e me conduziu até uma sala de reuniões ampla, com uma grande mesa oval e cadeiras de couro claro. Não demorou muito e Rodolfo chegou — sorridente, com uma pasta debaixo do braço e o carisma de alguém que amava o que fazia.

— Larissa! Que bom te ver de novo — ele disse, apertando minha mão com entusiasmo. — Fiquei realmente interessado depois da conversa rápida na festa. O Diogo me falou muito bem de você, aliás.

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