Meu coração disparou. Droga. Por que justo ele?
Olhei ao redor, o reflexo já automatico de quem sabia o tamanho da encrenca. E sim… onde estava Chiara? Porque se ela aparecesse agora…
— Me solta. — pedi baixo, tentando puxar o braço, mas ele não largou. Ao contrário, deu um passo pra perto e colocou a outra mão na minha cintura.
— Dança comigo. — ele disse, a voz baixa, o rosto mais perto do que deveria.
— Eu não quero dançar com você. — respondi firme. — E tira a mão de mim.
Ele inclinou o rosto ainda mais, sussurrando próximo ao meu ouvido:
— É melhor não fazer cena. As pessoas estão olhando. Não vai pegar bem causar um barraco na festa do seu amiguinho Diogo.
Suspirei, soltando o ar com raiva contida. Estávamos mesmo sendo observados. Alguns curiosos, outros só acompanhando a dança. Se eu empurrasse ele ali, com certeza viraria assunto da festa inteira.
Engoli em seco, controlando o impulso de socar o nariz dele, e deixei que ele me conduzisse de volta para o meio do salão.
As luzes suaves, o salão elegante, e ali estávamos nós em uma cena que, pra qualquer um, pareceria um reencontro bonito. Mal sabiam o que realmente existia ali.
Começamos a dançar. Ele conduzia com firmeza, e eu deixava, por pura estratégia. Mas não olhei pra ele em momento algum. Meus olhos estavam em todo lugar: teto, pessoas, chão… qualquer lugar, menos nele.
O silêncio entre nós era incômodo, mas ainda assim preferível ao que veio depois.
— Por que você voltou? — ele perguntou, a voz baixa, carregada.
Olhei pra ele, finalmente, e levantei o queixo.
— Isso não é da sua conta.
Ele cerrou os olhos, mas manteve o rosto neutro.
— Por que tá fazendo isso?
Revirei os olhos e usei o sarcasmo como escudo.
— Ué, até onde me lembro, você me odiava. Afinal, eu te traí, né?
A mão dele apertou um pouco mais na minha cintura, não o suficiente pra doer, mas o bastante pra incomodar.
— Eu só quero entender, Larissa.
— Não tem nada pra entender. — disse entre os dentes, já cansada daquela encenação.
Ele então mudou o tom, mais seco:
— Você tá com o Rafael?
Não respondi. Olhei pro lado, fingindo que não ouvi.
— Já tava com ele quando ainda trabalhavam juntos? — ele insistiu.
Engoli o orgulho e a vontade de responder à altura… Mas no lugar disso, pisei com força no pé dele. De propósito.
Ele travou a expressão, cerrando os dentes.
— Larissa!
Fingi surpresa e soltei um sorrisinho:
— Ai, desculpa. Acho que me desconcentrei.
Ele respirou fundo, e eu vi que ele ia abrir a boca de novo pra perguntar outra coisa.
Antes que ele dissesse uma palavra, pisei de novo.
— P*rra, Larissa!
— Ops. — sorri com falsa inocência. — Tô péssima hoje, né?
Ele me girou como parte da coreografia, provavelmente pra escapar do meu pé assassino. Quando voltei, aproveitei e pisei de novo. Com gosto.
A música finalmente acabou. Graças a Deus.
Me aproximei dele, mantendo o tom baixo, mas firme:
— Nunca mais toque em mim sem a minha permissão. Da próxima vez, eu não penso duas vezes antes de ir atrás de uma medida protetiva.
Ele franziu o cenho, respirando com dificuldade, talvez pela dor no pé, talvez pela raiva.
Inclinei o rosto, olhando por cima do ombro dele. Vi Chiara, de longe, de braços cruzados, claramente furiosa.
Sorri, com todo o deboche que eu tinha guardado.
— Agora arruma uma boa desculpa, porque sua noivinha tá vindo furiosa. Boa sorte com isso.
Me soltei do braço dele antes que respondesse qualquer coisa e caminhei até o bar com a cabeça erguida.
— Uma bebida forte. Qualquer coisa que queime. — falei pro barman, sentando sem cerimônia.
Ele me entregou um copo cheio de algo âmbar.
Virei de uma vez só, sentindo a garganta arder.
Maldita seja essa noite… e tudo que voltou com ela.
Depois da dose forte que virei no bar, fiquei um tempo ali, tentando me acalmar. O gosto amargo desceu queimando, mas não tanto quanto a raiva que eu estava engolindo desde aquela maldita dança com Alessandro.
O ar do salão já me parecia pesado demais, e eu estava prestes a sair dali quando ouvi alguém me chamar.
Virei pro Alessandro.
— Qual o seu problema?
Ele deu de ombros.
— Só achei curioso você querer se associar com alguém como ele. Já ouvi histórias demais do seu amiguinho e de como ele trata os funcionários.
— Você ouviu história ou inventou pra me sabotar? — encarei ele de frente. — Porque foi isso que você fez. Você destruiu uma oportunidade que poderia mudar a minha vida!
— Talvez você precise de oportunidades reais, não de ilusões — ele disse seco.
— E quem é você pra decidir isso? — minha voz tremeu, mas não de fraqueza. Era de raiva contida.
Ele me olhou como se não esperasse aquilo. Mas não disse nada.
Dei as costas e fui embora antes que dissesse ou fizesse algo pior. Meu coração batia tão forte que quase engolia meu peito. A vontade de chorar e de gritar se misturavam, mas eu engoli seco e segui em frente.
Porque se ele queria guerra… agora ele tinha.
A raiva ainda pulsava em mim enquanto meus passos cruzavam o salão lotado. Meu único pensamento era encontrar Rafael. Eu precisava de um rosto familiar, de um amigo, alguém que pudesse ser um abrigo naquela tempestade que se instalava dentro de mim.
Olhei ao redor, varrendo o salão com os olhos. A pista de dança, o bar, os sofás próximos da varanda… nada. E então vi uma das garçonetes passando, e parei ela.
— Oi, por acaso você viu um rapaz alto, cabelo castanho, camisa azul-marinho, dançando há pouco?
Ela franziu a testa, tentando lembrar.
— Acho que ele saiu com uma moça, de vestido dourado. Foram pro jardim, depois não vi mais.
Fechei os olhos por um segundo, respirei fundo e engoli em seco. Eu precisava ir embora antes que tudo aquilo me fizesse perder o controle.
Foi quando vi Diogo do outro lado do salão. Me aproximei, tentando manter a expressão neutra, mas ele me viu antes que eu chegasse e veio ao meu encontro.
— Larissa? — Ele franziu o cenho. — Aconteceu alguma coisa?
— Não… quer dizer, nada demais. Só uma dor de cabeça chata. Acho que o ambiente me cansou um pouco. Ia chamar um táxi pra ir pra casa.
Diogo não comprou totalmente a desculpa, eu percebi no olhar dele. Mas, educado como sempre, ele assentiu com suavidade.
— Espera aí, tá? Eu vou pedir pro meu motorista te levar. Não quero você sozinha essa hora.
— Diogo, eu posso chamar um…
— Sem discussão — ele sorriu de lado. — Você já me aguentou a noite inteira, é o mínimo que eu posso fazer. Fica ali sentada que eu já mando ele vir.
Não tive forças pra discutir. Apenas murmurei um “obrigada” e fui até um dos sofás perto da entrada, me sentando com as mãos no colo e o coração pesado.
Minutos depois, o motorista chegou. Um senhor simpático, que abriu a porta do carro com cuidado e me desejou boa noite com um sorriso gentil. Entrei no banco de trás, afundando no estofado como se quisesse desaparecer.
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Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...