(Larissa)
Entrei no elevador com o coração martelando no peito. Meu braço instintivamente envolvia Gabriel, como se eu quisesse protegê-lo do mundo, ou talvez de mim mesma. Respirei fundo, tentando recuperar o controle, mas as lembranças me invadiram sem piedade.
O rosto dele… A expressão de raiva… A forma como ele me olhou aquele dia, como se eu fosse um erro, uma traição viva.
“Some da minha casa, Larissa.”
A voz dele ainda ecoava, mesmo depois de tanto tempo.
E o pior de tudo? O sorriso satisfeito da Chiara ao fundo, como se ela tivesse vencido.
Meus olhos começaram a arder, mas não deixei nenhuma lágrima cair. Não na frente do meu filho.
Senti uma mão no meu ombro e me virei um pouco, e ali estava Rafael, com aquele olhar compreensivo que ele sempre teve, mesmo quando eu nem sabia se merecia.
Ele sorriu de leve e me puxou pra um abraço, encaixando Gabriel entre nós com cuidado.
— Tá tudo bem — ele murmurou, baixinho, perto do meu ouvido. — Ele só ficou surpreso. Foi só isso, Larissa. Ele não pode te machucar mais.
Fechei os olhos por um segundo, deixando o calor daquele abraço me ancorar. Assenti, engolindo em seco.
— Eu... eu não esperava ver ele hoje. Nem pensar nisso, sabe? — minha voz saiu rouca, trêmula. — Foi como... como se tudo voltasse de uma vez só. A dor, a raiva, a humilhação.
Rafael encostou a testa na minha por um instante, um gesto silencioso de apoio.
— Você ficou forte, Lari. Você passou por tudo isso e ainda tá aqui. Com o Gabriel. Com dignidade. Isso é o que importa.
Afastei um pouco o rosto e olhei pra baixo, pro meu pequeno. Gabriel estava tranquilo agora, só encostado em mim, sugando o dedinho e com os olhinhos já mais calmos. Puxei ele mais pra perto, como se quisesse que o mundo inteiro soubesse: esse aqui é meu. Meu amor. Minha força.
Beijei a testa dele com carinho.
— A única coisa boa que aquele homem me deixou foi o Gabriel. Só isso. O resto... o resto ele pode ficar. A desconfiança, o desprezo, o julgamento... que ele engula tudo sozinho.
Rafael passou a mão nos meus cabelos e sorriu pequeno.
— Eu tô aqui. E vou continuar aqui, tá? Você não está sozinha. Nunca mais.
Dei um meio sorriso, meio triste, meio grata. Tanta coisa dentro de mim. Dor. Mágoa. Mas também uma sensação estranha de... alívio.
— Obrigada, Rafa. Por tudo.
Ele assentiu com a cabeça, sem dizer nada. Só ficou ali, firme do meu lado.
Assim que chegamos em casa, fui direto para o quarto com Gabriel. Ele estava exausto, o rostinho ainda um pouco inchado do choro.
Preparei um banho rápido, coloquei o pijaminha favorito dele, aquele com desenhos de dinossauros, e o deitei na cama, sentando ao lado pra fazer carinho em seu cabelo até ele adormecer.
Fiquei ali mais um tempo só olhando pra ele. O peito ainda pesado. As emoções todas embaralhadas depois daquele encontro.
Quando finalmente saí do quarto, Rafael já estava na sala, sentado no sofá com uma xícara de chá na mão e outra me esperando na mesinha de centro. Ele sempre fazia isso... esses pequenos gestos que mostravam que ele conhecia cada uma das minhas cicatrizes.
Sentei ao lado dele e peguei a xícara, ainda quente.
— Ele dormiu? — ele perguntou em voz baixa.
Assenti.
— Dormiu. Exausto... ficou tão assustado.
— É, ele ficou bem abalado... mas você soube acalmar ele. Você é uma mãe incrível, Lari.
Dei um sorriso fraco, bebendo um gole do chá. Ficamos em silêncio por um tempo, até que ele quebrou com delicadeza.
— Sobre hoje... você quer conversar?
Soltei o ar devagar, encarando o líquido quente na minha xícara.
— Quero. Preciso, na verdade.
Ele me olhou com atenção, esperando.
— Eu não quero que o Alessandro saiba. — Falei de uma vez, olhando pra frente, sem encarar ele. — Que o Gabriel é filho dele. Não quero. Não acho certo.
Rafael franziu o cenho, mas ficou calado por uns segundos antes de perguntar, com cuidado.
— Tem certeza disso? Ele é o pai, Lari... ele tem o direito de saber.
— Direito? — soltei uma risada seca. — Ele teve a chance de exercer esse "direito", Rafael. Eu disse a ele que o filho era dele, e ele escolheu acreditar na Chiara. Me olhou como se eu fosse um lixo e me expulsou. Grávida. No meio do caos. Me acusou de traição, de ser mentirosa, de tudo o que ele quis. E você vem me falar de direito?
***
Fiquei parada por alguns segundos em frente ao espelho, observando meu reflexo. O vestido azul-marinho abraçava meu corpo com perfeição. A parte superior, com bordados brilhantes e delicados, deixava meus ombros à mostra, e o corte lateral revelava parte da minha perna, com elegância e ousadia na medida certa.
Os fios do meu cabelo caíam em ondas suaves sobre um dos ombros, enquanto a maquiagem destacava meus olhos, com um leve esfumado, cílios marcados e batom nude que equilibrava o conjunto.
Suspirei. Eu parecia outra mulher. Uma que não carregava o peso de tantas feridas, mas sim, uma mulher que escolheu levantar a cabeça.
Ouvi batidas leves na porta.
— Posso? — a voz de Rafael veio baixa, quase hesitante.
— Entra.
Ele entrou... e parou. Literalmente parou. Seus olhos percorreram todo o meu corpo, devagar, como se tivesse medo de perder algum detalhe. Um sorriso nasceu no canto da boca dele, e depois se transformou em algo mais terno.
— Larissa... você está... linda. De verdade. Incrível.
Senti meu rosto esquentar e dei um meio sorriso, me virando um pouco de lado, meio envergonhada.
— Obrigada... você também tá muito elegante. Mas a gente já esperava isso, né?
— Nem vem mudar de assunto. Você está deslumbrante. Vai deixar muita gente sem ar hoje.
— Não é o objetivo... — brinquei, pegando minha bolsa pequena enquanto ele se aproximava.
— Mas vai acontecer mesmo assim.
Ele me ofereceu o braço com aquele ar de cavalheiro que sempre me fazia sorrir por dentro. Antes de sairmos, fui até a porta do quarto onde Gabriel dormia, dei mais uma espiada, e então seguimos até a sala, onde Samira me esperava.
— Ei... — falei, me aproximando da minha vizinha. — Obrigada mesmo por isso. Eu sei que cuidar do Gabriel não é obrigação sua e que o papai, às vezes...
— Ah, para, Lari. — Samira cortou com um sorriso. — Eu adoro aquele molequinho. E seu pai é ótimo, só... meio esquecido às vezes. Já coloquei os dois na rotina do sono e deixei tudo anotado na geladeira. Vai tranquila, aproveita essa noite. Você merece.
— Te devo uma. Ou várias.
Ela me deu um beijo no rosto e acenou para Rafael, que agradeceu com um sorriso discreto.
E então, saímos.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...