Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 61

Eu não sei como é que eu vim parar nessa situação. Só sei que Chiara estava me arrastando, praticamente puxando meu braço, enquanto apontava animadíssima para mais uma loja de vestidos de luxo.

— Ali! — ela disse, com os olhos brilhando como se tivesse encontrado um oásis no deserto. — Ali eu tenho certeza que vou achar o vestido perfeito!

Soltei um suspiro pesado, me sentindo já derrotado.

— Você falou isso nas outras cinco lojas, Chiara — murmurei, sem conseguir esconder o cansaço.

— Ah, mas dessa vez eu tô sentindo! — Ela piscou pra mim, soltou meu braço e já saiu correndo pra dentro da loja.

Encostei na parede ao lado da entrada, balançando a cabeça.

— Eu espero aqui fora — falei alto, mesmo sabendo que ela já nem estava mais ouvindo.

Peguei o celular no bolso quando ele vibrou. Pedro. De novo. Respirei fundo, já sem paciência, pronto pra mandar ele pastar, quando uma bola azul rolou até parar nos meus pés.

Olhei em volta, meio confuso, e vi um garotinho correndo na minha direção. Devia ter uns três ou quatro anos, bochechas coradas e um sorriso que iluminava o rostinho todo.

Ele parou na minha frente, pegou a bola e me encarou.

— D-dedculpa, moço... — disse, a fala ainda meio enrolada por causa da idade.

Fiquei olhando pra ele, sem conseguir dizer nada por um momento. Tinha alguma coisa nesse moleque... Não sei explicar. Um aperto estranho no peito. Ele parecia... familiar.

Ele abraçou a bola contra o peito e olhou para todos os lados, de repente parecendo pequeno demais no meio daquela movimentação toda do shopping. Vi o lábio inferior dele tremer.

Desliguei o celular sem nem lembrar de Pedro e me abaixei pra ficar na altura do garoto.

— Ei, está tudo bem? Qual é o seu nome?

Ele olhou pra mim com olhos marejados e respondeu baixinho:

— Gabiéu... — depois corrigiu: — Gabriel.

— Gabriel, né? Bonito o seu nome. — Forcei um sorriso pra tentar acalmá-lo. — Você tá perdido?

Ele assentiu, apertando ainda mais a bola contra o peito, o olhinho já cheio de lágrimas.

— Eu vim buscar a bola... agora não acho a mamãe nem o papai... — a vozinha dele era tão triste que doeu.

Suspirei e passei a mão na cabeça, sem saber muito bem o que fazer.

— Tá, vamos fazer o seguinte, onde você viu eles pela última vez?

— No paquiinho... — respondeu, fungando.

— Então a gente vai até lá procurar, tudo bem? — estendi a mão.

Ele olhou pra mim por um segundo, desconfiado, mas acabou se aproximando e agarrou a barra da minha calça, pequenininho do jeito que só uma criança assustada consegue ser.

Começamos a andar pelo shopping. Eu andando devagar e ele praticamente grudado em mim, tentando equilibrar a bola com uma mão e segurando minha calça com a outra.

— Tá tudo bem, Gabriel. A gente vai encontrar eles — falei, tentando acalmá-lo, mas ele só fungava baixinho.

Quando nos aproximamos do parquinho, comecei a olhar em todas as direções. Nada. Nenhum sinal de adultos procurando por uma criança. O pequeno começou a chorar baixinho.

Me abaixei na frente dele.

— Você sabe o telefone da sua mamãe ou do seu papai? Ou onde mora?

Ele balançou a cabeça, fungando, e antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ele olhou por cima do meu ombro e gritou:

— Papai!!

Me virei no reflexo.

Vi o garoto largar minha calça e sair correndo, a bola rolando de lado, os pezinhos batendo no chão num desespero só.

E foi aí que observei tudo em completo choque. Vi Gabriel se atirar nos braços de um homem. O homem se abaixar e segurá-lo forte, tentando acalmá-lo.

Rafael.

Ele me olhou por cima da cabeça de Gabriel, os olhos arregalados quando me viu ali, parado feito uma estátua.

Ele ainda tentava consolar o garoto, que chorava em seu ombro, mas o olhar dele estava preso em mim.

O mundo ainda estava girando devagar na minha cabeça, quando uma voz — uma que eu nunca conseguiria esquecer — rasgou o ar e fez meu coração bater tão rápido que chegou a doer.

— Gabriel! Meu Deus, onde você estava?! — ela correu na direção de Rafael e do menino.

Vi a mulher atravessar o espaço entre nós, os cabelos balançando, o rosto tenso de preocupação. Quando ela alcançou Rafael e Gabriel, passou a mão pelo rosto do filho, como se pra ter certeza que ele tava inteiro, e depois o abraçou, ainda no colo de Rafael.

Foi uma cena tão íntima... tão de família... que eu perdi completamente o ar.

Eu... Eu reconheceria aquela mulher em qualquer lugar.

Larissa.

Ela parecia tão desesperada, tão aliviada por ter encontrado o menino... e tão confortável ali nos braços de Rafael. Como se aquilo fosse normal. Como se fossem... uma família.

Rafael me olhou por alguns segundos, como se estivesse tentando decifrar minha presença ali. Mas então ele quebrou o silêncio, me dando um meio sorriso, forçado.

— Alessandro... caramba, quanto tempo. — Ele estendeu a mão pra mim. — Faz uns bons anos, hein?

Eu encarei a mão dele por um segundo antes de apertar. Meu sangue ainda fervia, mas por fora, eu tentava manter alguma compostura.

— É... tempo demais, parece — respondi, minha voz mais baixa do que eu esperava. — Então... é você? O pai da criança?

Rafael hesitou. Olhou pra Larissa como se buscasse algum tipo de autorização antes de abrir a boca, mas ela foi mais rápida.

— Isso não é da sua conta, Alessandro. — A voz dela cortou o ar feito faca. Firme. Fria.

Ela se virou pra Rafael logo em seguida, ainda com Gabriel nos braços.

— Vamos. A gente já ficou tempo demais aqui.

Ela deu um passo pra sair, mas alguma coisa em mim se recusava a deixar isso acabar desse jeito. Dei um passo à frente, rápido, a mão indo instintivamente até o braço dela.

— Larissa... o que você tá fazendo aqui? Por que voltou?

Ela parou, sem olhar pra mim. E aí, devagar, se virou e tirou o braço da minha mão com um movimento seco, decidido.

— Outra vez, Alessandro... isso não te diz respeito. — Ela olhou direto nos meus olhos. — Você me expulsou desse país. Me fez ir embora como se eu fosse lixo. Mas agora... eu não tenho mais medo de você.

O baque foi seco. Não tinha grito, nem lágrima... só verdade crua.

Meu peito apertou. Eu não consegui responder. Só consegui olhar pra ela... e depois pro garoto nos braços dela.

Gabriel.

Ela viu o meu olhar, e isso pareceu atiçar ainda mais a raiva dentro dela.

— E não ouse mais se aproximar do meu filho. Nunca mais.

Antes de ir, ela lançou mais um olhar rápido pro Rafael.

— Vamos, Rafael.

Ele só assentiu com a cabeça, como se não quisesse contrariá-la, e foi atrás dela, em silêncio.

Fiquei ali. Parado.

Larissa tinha voltado com o seu filho, o fruto da traição… Minha cabeça estava confusa e eu sentia algo que não queria. Não iria permitir que nada mudasse o que aconteceu. Ela me traiu com aquele desgraçado do Guilherme e mesmo que seja Rafael, a quem a criança chama de pai, eu não quero mais me meter nisso.

Histórico de leitura

No history.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra