Estava revisando os últimos relatórios da área de testes, sozinha na minha sala, quando o e-mail chegou. A notificação surgiu no canto da tela. Eu ia ignorar, como sempre fazia quando estava concentrada, mas o assunto chamou minha atenção:
"Convite oficial – Competição Nacional de Empresa"
Arregalei os olhos. Sentei reta na cadeira, o coração acelerando um pouco. Cliquei no e-mail, ainda duvidando se era real ou alguma pegadinha. Mas ali estava, preto no branco, com todos os detalhes e assinatura da comissão organizadora.
Eu pisquei. Duas vezes.
— Não, não é possível... — murmurei, sorrindo sozinha, completamente incrédula.
Levantei da cadeira de um pulo e saí da sala, atravessando o corredor até o setor de criação onde a equipe estava prestes a sair para o almoço. Abri a porta com empolgação demais, quase assustando o pessoal.
— Gente! Espera aí! Antes de todo mundo sair... preciso contar uma coisa!
Todos pararam, me olhando. Os olhos atentos. Curiosos.
— Fomos convidados pra participar da Competição Nacional de Empresa do Ano. — soltei de uma vez, o sorriso já tomando conta do meu rosto.
Por um segundo, ficou todo mundo em silêncio.
— COMO ASSIM?! — gritou Fábio, levantando da cadeira.
— Isso é sério? — Ana Paula arregalou os olhos.
— Muito sério! — assenti, segurando o celular com o e-mail aberto. — É oficial. A comissão da competição fez uma seleção baseada em impacto tecnológico e inovação. E nosso projeto… foi reconhecido.
A explosão veio de uma vez. Palmas. Gritos. Abraços. Fábio girando a cadeira e batendo palma como se estivesse num estádio. Ana Paula já chorando, dizendo que “sabia que a gente era foda”.
Eu me permiti rir. Ver aquele brilho no olhar deles me deixava mais feliz do que qualquer premiação. Mas, claro, alguém precisava ser o freio daquele entusiasmo todo.
— Ei, calma aí! — ergui as mãos, ainda sorrindo. — A gente foi convidado, o que já é incrível. Mas agora é hora de foco. Vamos manter os pés no chão. Essa competição é nacional, vão ter empresas grandes, com estrutura de outro nível.
— Mas nenhuma com mais coração que a nossa. — disse Ricardo, com aquele orgulho gostoso que dava gosto de ver.
— Concordo. — sorri. — Mas coração sem organização não ganha prêmio. Então, bora comemorar no almoço, mas segunda-feira, a gente começa os ajustes pro dossiê de apresentação.
Eu estava liderando algo grande. Algo real.
****
Saí da empresa com a cabeça ainda girando. O convite pra competição, a empolgação da equipe, aquela sensação boa de que eu estava vivendo o que sempre sonhei… Tudo isso ainda dançava na minha mente quando cheguei ao restaurante onde tinha combinado de encontrar o Diogo.
Ele já estava lá, sentado numa mesa mais reservada, mexendo no celular. Sorri ao vê-lo. Diogo era uma das pessoas mais constantes da minha vida.
— Olha quem resolveu aparecer. — falei, puxando a cadeira à frente dele.
— E ainda por cima de terno. — ele comentou, me dando aquele sorriso de canto. — Tá poderosa, hein?
— Tô tentando, né. — ri, me acomodando.
Fizemos o pedido rápido, e quando a garçonete se afastou, ele me olhou de novo, com um brilho curioso nos olhos.
— E aí, como tá a empresa? Ouvi uns boatos…
— Ah, é verdade. — me ajeitei na cadeira, animada. — A gente recebeu um convite pra participar da Competição Nacional de Empresa do Ano.
Os olhos dele brilharam, mas ele não pareceu surpreso.
— Eu sabia. Tinha certeza que vocês iam ser reconhecidos. Você tá fazendo história, Larissa.
Revirei os olhos, rindo.
— Para, Diogo. Ainda nem aconteceu, só foi o convite. Tem muita empresa boa concorrendo.
— Mas nenhuma com você no comando. — ele rebateu, e eu apenas balancei a cabeça, sem saber se agradecia ou se dava risada.
— Tá bom, chega de me bajular. — falei, rindo. — Agora fala… o que era aquela conversa séria que você disse que queria ter comigo?
Ele ficou sério, cruzando os dedos sobre a mesa.
— É sobre o Alessandro.
— Alessandro? — meu coração deu um leve pulo no peito. — O que tem ele?
— Ele não sabe que eu sei… Mas a empresa dele tá à beira da falência, Larissa.
Meu sorriso desapareceu. Arregalei os olhos, encostando nas costas da cadeira.
— O quê? Como assim?
— A situação tá feia. Funcionários incompetentes, decisões erradas… — ele suspirou. — Ele tá tentando segurar tudo sozinho, mas se não resolver logo, até o final do ano ele não vai ter mais nada.
Fiquei em silêncio por alguns segundos, processando aquilo. O Alessandro podia ser um babaca, mas sempre foi competente. Era estranho imaginar ele nesse tipo de caos.
— Mas por que ele não foi até você? Vocês sempre foram parceiros…
— Orgulho. — Diogo deu de ombros. — E orgulho demais nunca foi bom conselheiro.
Respirei fundo, ainda em choque.
— Então... o que você quer que eu faça?
— A sua empresa tá em alta. Com nome forte, reputação limpa. Se vocês fizerem uma parceria estratégica agora, dá pra recuperar a credibilidade dele no mercado. Dá fôlego pra ele reestruturar.
— Diogo… — falei, cruzando os braços, pensativa. — Ele já prejudicou minha carreira uma vez e a empresa. Eu não sei se consigo meter minha mão de novo nesse vespeiro.
— Eu sei. — ele assentiu, calmo. — Mas talvez essa seja a lei do retorno. Só que dessa vez, você tem o poder. E quer saber? Isso vai doer mais no orgulho dele do que qualquer rejeição.
Fiquei em silêncio, olhando pela janela do restaurante. Parte de mim se lembrava do Alessandro frio, estúpido, tomando decisões sem pensar duas vezes no impacto que teria em mim. Mas… também lembrava do homem que apareceu por mim naquela festa. Que me protegeu, chorou pelo filho. Que estava tentando do jeito dele.
— Ele me levou pra uma parte isolada da casa, me beijou... eu tentei afastar, e ele agarrou meu cabelo, me forçou. Eu consegui dar um chute nele e foi quando o Alessandro apareceu.
— Meu Deus. — ela colocou a mão na boca. — Eu devia ter subido atrás de você... ai, amiga. Sinto muito por isso, que quem te chamou para ir.... Que nojo! Que filho da puta!
— Pois é. Eu nunca imaginei isso dele. Mas é aquela história... a gente só conhece mesmo quando diz "não", né?
Cathe bufou, claramente revoltada.
— Tô excluindo as músicas deles agora mesmo. E se eu ver esse desgraçado de novo, juro por Deus que perco minha compostura.
Soltei um risinho sem graça.
— Tá tudo bem agora, Cathe. De verdade. Só... precisava contar pra alguém.
— E o Alessandro? — ela me olhou, mais calma agora. — Ele te defendeu?
Suspirei fundo e encostei a cabeça no sofá, olhando pro teto.
— Defendeu. E foi bem mais do que eu esperava, pra ser sincera. Ele apareceu do nada, me protegeu, me tirou de lá. Ele veio para cá e ficou comigo.
— Ficou com você?! — ela arregalou os olhos.
— Não desse jeito, relaxa. — ri baixo. — Ele se machucou e eu fiz um curativo nele. Só isso.
— Hum. — ela me olhou de lado, desconfiada. — Tá balançada?
— Tô. — confessei, quase num sussurro. — Mas é pouco. Ainda tem muita coisa aqui dentro quebrada, sabe? Eu não confio nele e não adianta ele me salvar uma, duas vezes. Não é assim que se reconstrói o que ele destruiu.
Ela assentiu, compreensiva.
— Eu entendo. Mas... é só atração?
— Por enquanto, acho que sim. Ou pelo menos, é o que eu tô deixando ser. — dei um pequeno sorriso. — Ele ainda é o Alessandro, com todo aquele jeito que mexe comigo. Só que... não dá pra esquecer o que ele fez só porque ele apareceu como herói numa noite.
— Verdade. Mas... você ainda ama ele, né?
Fiquei em silêncio por uns segundos.
— Acho que sim. Mas amar não é suficiente, né?
Ela me puxou pra um abraço apertado e encostou a cabeça no meu ombro.
— Tô aqui, viu? Pro que der e vier.
Sorri, sentindo o peso no peito aliviar um pouco.
— Eu sei. E ainda bem que você tá.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...