Ela fez uma careta e ergueu uma sobrancelha. Aquele olhar de quem sabia que eu estava certo, e odiava admitir.
— Argh... você tem noção de como você é insuportável às vezes?
— E irresistível. — respondi, jogando charme, mas a verdade é que eu só não queria ir sem ela.
Ela revirou os olhos e soltou um suspiro.
— Me dá quinze minutos. Vou me arrumar.
Assenti, e ela foi pro quarto, fechando a porta com um “pá” típico dela.
Eu fiquei com Gabriel ali na sala, ainda com ele nos braços. Ele me olhou de lado, curioso.
— Vocês dois vão namorar de novo?
Eu dei uma risada e afrouxei o abraço, só pra olhar bem aquele rostinho atento.
— Sua mãe é esperta, Muito esperta. E eu... — suspirei, pensando em como explicar. — Eu fiz ela se machucar. Tipo quando a gente cai e rala o joelho, sabe? Só que no coração. E agora ela tá brava comigo.
Ele franziu a testa, pensativo, como se estivesse processando aquilo. Então, com a maior naturalidade do mundo, disse:
— Ela gosta de chocolate. Com coco.
Eu travei por um segundo, surpreso.
Chocolate com coco.
Claro. Como eu não lembrei disso antes? Toda vez que eu trazia algo doce pra casa, ela só pegava se fosse com coco. Uma vez ela disse que era o sabor da infância, da vó dela.
Eu encarei Gabriel, sorrindo, apertando ele com mais carinho ainda.
— Obrigado pela dica, campeão.
Ele abriu um sorriso tímido, daqueles de criança que acha que tá ajudando a salvar o mundo e talvez, naquele momento, estivesse mesmo.
Mesmo que ela ainda achasse que eu era um babaca e ela não estava tão errada assim. Mas até um babaca pode tentar fazer a coisa certa.
E eu ia fazer. Começando com chocolate e coco.
***
Eu estava encostado no capô do carro quando ela apareceu. Cabelos presos num coque meio bagunçado, vestido claro, sandália baixa. Simples e linda. O tipo de beleza que não precisa de esforço pra arrancar o ar dos pulmões.
Gabriel veio correndo atrás, com a mochila nas costas maior que ele. Uma cena que deveria ser banal, mas me arrancou o ar. A minha cria ali, correndo na minha direção como se tudo estivesse certo no mundo.
— Tá pronto, campeão? — perguntei, me agachando pra falar com ele no nível dos olhos.
— Tô! A vovó Teresa vai ter pão de queijo? — os olhos dele brilhavam.
Sorri.
— Se eu conheço ela, vai ter pão de queijo, bolo, biscoito... e provavelmente vai tentar te dar uns trocados escondido.
Ele riu, encantado com a ideia.
Larissa chegou mais perto, já segurando a chave do carro.
— A cadeirinha tá instalada no meu carro. É melhor ir com ele.
— Eu dirijo então. — falei no impulso, como se isso fosse algo negociável.
Ela me lançou aquele olhar que dizia “não começa, Alessandro”, mas só suspirou e me entregou a chave depois de uns segundos de relutância.
Entrei no lado do motorista. Gabriel pulou animado para o banco de trás e eu ajustei o banco da frente, tentando dar mais espaço para as perninhas inquietas dele.
— Coloca a música, moço! — ele disse, empolgado.
"Moço". Eu teria preferido "pai", claro. Mas ele só tinha três anos. Tinha acabado de descobrir quem eu era. E mesmo assim… me chamar de "moço" com aquele sorrisão já me fazia sentir parte de algo que eu achei que nunca teria.
— Qual música você quer ouvir?
— Aquela do “b**e palma, faz o coração b**er!” — disse com toda certeza do mundo, como se fosse o hino nacional infantil.
Revirei os olhos, sorrindo.
— Isso é novo pra mim, hein — murmurei, mexendo nas playlists até encontrar o bendito remix.
Quando a música começou, o carro virou uma festa infantil sobre rodas.
— Mais alto! — Gabriel gritou.
Aumentei um pouco. O suficiente pra ver Larissa tentar segurar o riso.
— Isso é sério mesmo? — perguntei, de canto, mal acreditando que aquele som de bateria eletrônica e palmas era real.
Ela balançou a cabeça, já rendida ao caos.
— Ele tá viciado nessa música. Já ouvi trinta vezes só essa semana.
— Trinta e uma, agora — comentei, soltando uma risada baixa.
Gabriel começou a dançar na cadeirinha ou ao menos tentou, mexendo os ombros e batendo palma de forma completamente aleatória.
— Olha, mãe! O moço não sabe dançar! — ele disse, gargalhando.
— Ainda bem que ele tá dirigindo. Senão a gente batia.
— Respeita o dançarino aqui, hein — falei, fazendo um passinho ridículo com a mão só pra provocar. — Já dancei muito forró nos bailes da minha avó.
— Meu Deus, acho que não. — ela sussurrou.
— Tá dançando igual o Rafa! — Gabriel soltou, rindo alto.
— Ei, opa! Aí já é ofensa — falei, olhando pelo retrovisor. — Vou ter que treinar mais.
O carro seguiu assim por alguns minutos. Eu ao volante, tentando parecer indiferente, quando por dentro tudo em mim gritava que aquele era o lugar onde eu devia estar: dirigindo com os dois ali comigo, com risos no ar e aquele sentimento de... casa.
Logo a música terminou, e Gabriel ficou olhando pela janela.
— Será que a vovó Tereza vai gostar de mim? — ele perguntou, meio tímido.
Me virei de leve pra olhar pra ele.
— Acho que ela vai te apertar tanto que você vai virar bolinha.
— Igual bolinha de sabão?
— Igualzinha — respondi, rindo. — É a primeira vez que você vai ver ela e o vô Lúcio. Eles vão te adorar, Gabriel.
Larissa se virou também, com um sorrisinho discreto.
— Eles sempre gostaram de crianças.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...