Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 136

A luz fria da delegacia doía nos meus olhos fazendo minha cabeça latejar. Podia ser pela bebida, mas sei que a vergonha tinha grande valor nisso.

Encostado no banco gelado da cela, tentei não pensar em nada, só respirar, mas era impossível. O que diabos eu fui fazer?

A porta rangeu e ouvi passos.

Levantei o rosto e vi Fernando entrando com aquele sorrisinho maldito no rosto, acompanhado de Diogo, que já veio balançando a cabeça em negação como se eu fosse um adolescente pego colando na prova.

— Eu não tô acreditando nisso... — Fernando começou a rir, passando a mão pelos cabelos. — O grande Alessandro Moratti... preso.

— Preso e embriagado. — Diogo completou. — E o motivo? A ex-mulher. É poético.

— Vocês dois tão de sacanagem com a minha cara? — rosnei, me levantando e indo até as grades. — Abre logo essa merda.

— Calma, Romeu, — Fernando zombou, cruzando os braços e se encostando no batente. — Vai que a Julieta aparece com uma carta de amor e te tira daqui com um beijo.

— Engraçadinho você, né? — falei, sem paciência. — Abre logo essa droga antes que eu perca o resto da sanidade.

— Restou alguma? — Diogo provocou, rindo. — Porque invadir prédio, ameaçar porteiro e sair preso... isso não parece o Alessandro que a gente conhece.

— Parece o Alessandro apaixonado e surtado. — Fernando riu mais alto. — Cara, você tá pior que um personagem de novela mexicana.

— Tão engraçados... — revirei os olhos, voltando a me sentar no banco da cela.

Eles riram alto.

— A gente tá rindo porque é surreal. Você, o cara mais frio, mais calculista, agora... implorando pra ver a mulher. — Diogo falou, ainda rindo. — Você não se reconhece, e nem a gente.

— Eu tô tentando consertar as merdas que fiz. — murmurei, passando as mãos no rosto. — Mas ela tá fugindo de mim como o diabo foge da cruz.

Fernando deu uns passos pra frente, ainda com aquele sorrisinho irritante.

— E com razão, né? Porque, entre nós... tu mereceu.

— Abre essa cela, porra. — levantei de novo, irritado. — Ou vocês tão pensando em me deixar aqui até eu apodrecer?

— Tô considerando. — Fernando deu de ombros. — Quem sabe ela não fica com pena e vem te visitar. Pode funcionar, drama vende.

— Ah, mas é capaz dela deixar ele aqui. — Diogo completou. — Ela vai é agradecer o porteiro. Vai mandar flores pra delegacia.

— Vocês dois vão se foder. — murmurei, com raiva.

Eles riram mais.

Fernando então tirou a chave do bolso do paletó e girou devagar, só pra fazer suspense.

— Vamos, galã. Tua cela de luxo acabou. Mas aviso: se tu fizer mais uma merda dessas, na próxima a gente deixa você aqui mesmo.

Eu saí da cela bufando, sentindo a raiva e a frustação queimarem dentro de mim. Mas junto disso tudo, tinha outra coisa. Determinação.

Eles podiam rir, zoar e fazer piada.

Mas eu ia dar a volta por cima e reconquistar Larissa. Nem que fosse a última coisa que eu fizesse.

***

Entrei pela porta lateral da mansão, ainda sentindo o gosto amargo da cela e da vergonha na boca.

Com a gravata ainda meio torta, o corpo fedendo a bebida e à humilhação, subi os degraus da escada tirando o paletó com raiva, quando ouvi a porta da cozinha bater.

Esperei mais um segundo e decidi ir até lá. Vi Margarida entrando com uma sacola de compras no braço. Ela parou no meio do caminho quando me viu, estranhando um pouco enquanto olhava a minha situação.

— Senhor Alessandro? — ela disse, ajeitando a bolsa no ombro. — O senhor... tá bem?

Soltei um suspiro pesado. Eu devia estar um caco e ainda assim, ela falava comigo com o mesmo respeito de sempre.

— Tô, Margarida. Ou pelo menos, tentando. — murmurei, passando a mão pelo cabelo.

Ela me analisou com aquele olhar de quem sabe muito mais do que aparenta. Margarida sempre foi assim, nunca precisou de muito pra perceber quando algo não ia bem.

— Quer um café, um chá? Posso preparar um banho pro senhor, parece... exausto.

— Não, não... Eu só... — parei no meio da frase.

Dei dois passos, pronto pra subir, mas parei e me virei de novo.

— Não sei se está sabendo, mas a Larissa está de volta ao Brasil.

Ela ficou completamente imóvel. O saco que ela segurava escorregou um pouco no braço.

— A senhora Larissa? Aqui? Tem certeza?

Assenti, enfiando as mãos no bolso.

Meu corpo até doía de tanto rolar na cama, o travesseiro amassado, o lençol jogado no chão. Mas meu cérebro? Estava mais acordado do que nunca.

Margarida disse que iria ver Larissa ontem à tarde. Será que ela foi? Será que Larissa aceitou?

Olhei pro celular mais uma vez, não tinha nenhuma mensagem.

Levantei, fui até o banheiro, joguei água no rosto e encarei meu reflexo. Nem eu me reconhecia mais… sempre fui um homem que se cuidava, mas ultimamente eu estava um caos. Com olheiras fundas, barba por fazer, olhos vermelhos.

Um homem completamente dominado por uma mulher e o pior… uma mulher que ele mesmo perdeu. Tomei um banho, fiz a barba, lavei o cabelo e vesti um bom terno e desci.

Peguei a caneca jogada ao lado da cafeteira. A velha caneca azul-claro, com a frase em italiano:

“Dolce far niente”. Larissa tinha me dado isso.

"É sobre a doçura de não fazer nada, pra você lembrar de parar de trabalhar um pouco", ela dizia.

Idiota. Eu não parei e ela parou... de mim.

Preparei o café e sentei na mesa da varanda, como ela gostava. Silêncio. Só os passarinhos no jardim. Um silêncio que antes era paz, agora era vazio.

O celular vibrava a cada dois minutos com notificações do trabalho. Mas nenhuma mensagem de Margarida. Terminei o café e fui para a empresa, por mais que eu quisesse estar nesse momento atrás de Larissa, ainda tinha que cuidar da empresa. Agora, eu tinha um legado a deixar para o meu filho, um legado forte e estável.

Eu tentava focar nas planilhas, e-mails, chamadas pendentes… Mas nada me prendia.

Minha mente foi para quando ela cozinhava, a forma como ela descansava o pé na outra perna. Como ela gostava de ir ler na varanda após o jantar… a forma como cantarolava as músicas que gostava…]

Mesmo quando eu não parecia estar prestando atenção, eu tava.

Eu sabia que ela odiava o gosto de cereja artificial, que amava cheiro de roupa recém-passada, que colocava o volume da televisão em números pares porque "era mais confortável assim".

Como é que um homem pode perder tudo isso… e continuar respirando como se nada tivesse acontecido?

Olhei pro relógio: 8h27.

Será que ela não conseguiu falar com Larissa? Será que Larissa não quis ver ela? Ou pior… será que Larissa simplesmente não quer nenhum vestígio meu na vida dela?

Me levantei, fechei a tela do computador e peguei a chave do carro. Não estava conseguindo trabalhar, então era melhor fazer algo de mais útil.

Porque se eu ficasse parado… eu ia enlouquecer com as lembranças.

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