(Alessandro)
Entrei em casa sentindo a raiva pulsar em minhas veias. A porta bateu atrás de mim com tanta força que as janelas da sala estremeceram.
Meus passos ecoavam pesados pelo mármore da mansão. Cada músculo do meu corpo tensionado, cada pensamento rodando em círculos dentro da minha cabeça como se fosse me enlouquecer.
O beijo. A porra daquele beijo.
Avancei até o aparador da sala e, sem pensar, taquei no chão o primeiro enfeite que vi. O vaso de vidro se espatifou, mas não aliviou nada da merda que eu estava sentindo.
— Filho da puta... — murmurei, cerrando os punhos.
Ele tocou nela, aquele desgraçado beijou a minha mulher.
Mesmo que ela não fosse mais minha, mesmo que ela deixasse isso claro com todas as palavras afiadas que jogou na minha cara, aquilo me destruiu.
Senti o peito apertar, uma pressão esquisita me fazendo levar a mão ao coração. Merda, que porra era essa? Era um infarto? Um ataque?
Não. Era dor. Simples, crua, cortante.
A dor de ver a mulher que eu amei, que eu amo, sendo tocada por outro. De perceber que talvez... seja tarde demais.
Girei nos calcanhares e subi as escadas, com os passos pesados e rápidos, a respiração cada vez mais fora de ritmo.
Entrei no banheiro e fui direto pro chuveiro, arrancando a roupa como se ela me sufocasse. Liguei o registro e deixei a água gelada cair sobre mim. Encostei as duas mãos na parede, abaixei a cabeça e fechei os olhos, tentando respirar fundo e me acalmar.
Mas tudo que eu via era ela.
Larissa.
A pele dela, os olhos, a boca... aquela mesma boca que outra pessoa beijou hoje.
Porra! Por que você fez isso, Larissa?
Você disse que era só um beijo de despedida, mas... por que ele? Por que agora?
A verdade é que eu não devia estar sentindo isso, né? Não tenho mais direito sobre ela. Mas o inferno é que, mesmo sem esse direito, meu corpo inteiro reagia como se ela ainda fosse minha.
Me apoiei melhor na parede e deixei a água escorrer, tentando me esfriar por dentro, tentando arrancar aquele ciúmes que parecia ter virado ácido na minha garganta.
Me lembrei da noite... Gabriel no meu colo, sorrindo com aquele brinquedo novo. A gente jogando video game na sala. Ele se divertindo de verdade. E o Rafael, que me surpreendeu e deu espaço para a gente, aparecendo só para dar os remédios de Gabriel e perguntar se queríamos alguma coisa.
Mesmo sabendo da minha história com a Larissa, que eu fui um babaca. Ele ficou ali, presente, mas respeitando, como se quisesse ajudar, mesmo sem dizer.
E o tempo todo que eu estava com Gabriel... a minha cabeça só queria saber onde ela estava. O que ela tava fazendo e com quem.
E agora eu sabia. Ela tava com outro, rindo, dançando e beijando.
Voltei a encostar a testa na parede fria.
Não…
Eu não posso perder ela. Sei que está com raiva, pode me odiar, pode ter me apagado da vida dela...
Mas eu não vou desistir.
Esse Guilherme foi só um obstáculo. Um lembrete de que, se eu não correr atrás dela de verdade, outros vão correr e vão conseguir.
Mas ela é minha, mesmo que ainda não saiba e que tenha esquecido disso.E eu vou lembrar ela… Todos os dias. De quem sou eu e quem ela é pra mim.
Passei o dia inteiro em casa, trancado e pensando. Cada maldita hora se arrastava como uma eternidade e a única coisa que ocupava minha cabeça era ela.
Como eu cheguei nesse ponto? Como eu deixei escapar a única pessoa que fazia meu mundo ter algum sentido? Merda.
No fim da noite, peguei as chaves, o casaco e fui pra rua. Eu precisava respirar, beber alguma coisa. Pensar menos, talvez. Ou me afundar de vez.
O bar estava meio cheio, como sempre. O cheiro de bebida e fritura no ar, as risadas altas, o som abafado de alguma banda ao fundo.
Me joguei no banco do balcão e pedi um uísque.
— O de sempre? — perguntou o bartender, já me reconhecendo.
Assenti com um gesto cansado e ele trouxe a dose, eu virei de uma vez. Algumas garotas se aproximaram. Três, talvez quatro. Uma delas chegou tão perto que pude sentir o perfume barato dela. Sorriu, tocou meu braço, falou alguma coisa. Eu nem ouvi direito.
— Não. — murmurei. — Tô fora.
Elas riram, meio sem graça, e se afastaram. Eu virei outra dose.
— E aí, cara... tá dispensando geral? O que aconteceu? — o bartender perguntou, apoiando os cotovelos no balcão.
Olhei pra ele, sentindo a garganta queimar de álcool e frustração.
Olhei para ele com raiva.
— Chama! Chama essa merda que eu mando levar você!
Ele apertou um botão atrás do balcão.Na hora, percebi. Ele chamou a polícia.
— Chama quem você quiser! EU VOU SUBIR! EU VOU VER A LARISSA! — gritei, tentando passar pela lateral da portaria.
— Senhor, pare com isso. O senhor está alterado.
— Alterado é o caralho! Eu tô... eu tô sofrendo, porra!
A porta estava trancada, o que só me irritou ainda mais. Mas não demorou para uma viatura aparecer em frente ao prédio. Esses caras estavam patrulhando por perto?
Os policiais desceram, falaram com o porteiro e vieram na minha direção.
— Senhor? Qual o seu nome? — o primeiro perguntou. — O senhor está detido por desacato e ameaça. Preciso que venha conosco.
— Não encosta em mim... — tentei me esquivar, mas as mãos deles já estavam nos meus braços.
Não resisti.
— Eu preciso ver ela.
— Você verá amanhã, agora, preciso que venha comigo e não resista ou as coisas podem piorar.
— Vocês sabem quem eu sou? - Perguntei tentando me soltar.
— Não sabemos, mas o delegado vai gostar de saber, agora vamos. - O policial disse, já praticamente me arrastando para dentro da viatura.
Olhei pra cima, pro prédio dela. Sabia exatamente qual era o andar. A janela do quarto de Gabriel.
Doía.
Doía como se arrancassem uma parte de mim no tapa. Porque ali dentro… Estava tudo que eu queria. E tudo que eu perdi.
E agora… Eu estava indo embora de novo. De mãos vazias.
Essa história não termina assim.Nem fodendo.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...