Apenas de lembrar, meu peito se apertou. Baixei o olhar e, sem perceber, uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto.
Rafael se aproximou e, sem dizer nada, me puxou pra um abraço. Encostei o rosto no peito dele e fechei os olhos, respirando o cheiro dele que sempre me trouxe segurança. Ele falou baixo, perto do meu ouvido:
— Tá tudo bem, Larissa… Eu já venho me preparando pra isso. Desde o momento que você decidiu voltar. — ele afastou um pouco pra me olhar nos olhos. — Você fez a coisa certa, o Gabriel tem o direito de saber e ele vai entender, do jeitinho dele.
— Eu só não queria confundir a cabecinha dele. Ele ama você tanto… — minha voz falhou um pouco. — Você foi tudo pra ele nesses três anos. E ainda é.
Rafael sorriu, os olhos marejados.
— Eu tive sorte, Lari. Sorte de estar com vocês, de poder cuidar dele no começo, quando ele era só um bebê que chorava de madrugada e dormia no meu peito. Eu nunca precisei que ele tivesse meu sangue pra amá-lo.
— Você é incrível, Rafa. Eu não sei o que teria sido de mim e do Gabriel sem você. — disse com sinceridade, segurando a mão dele com força.
— Agora ele tem dois pais, como ele mesmo disse. E tudo bem ele me chamar de tio, se quiser. Eu vou conversar com ele também, dizer que isso não muda nada. Que meu amor por ele continua igual.
— Obrigada. — sussurrei, sentindo o coração mais leve do que o dia inteiro.
— Você não precisa agradecer. Só… me deixa continuar sendo parte disso. De vocês. Mesmo que de um jeito diferente.
Eu apenas assenti, sem conseguir dizer mais nada. Só consegui puxá-lo de novo pra um abraço apertado, sentindo que, mesmo com tudo mudando ao nosso redor, algumas pessoas… permanecem.
***
A mesa estava cheia. O cheiro do arroz fresquinho com alho e a carne assada com batatas dominava o ambiente, enquanto as risadas preenchiam os espaços entre as conversas. Gabriel estava no colo do meu pai, fazendo uma baguncinha com o suco, e Catherine falava alguma coisa sobre o trabalho novo em Home Office.
Depois de mais uma garfada, Cathe limpou a boca com o guardanapo e me olhou com um sorriso cheio de segundas intenções.
— Amiga, vai ter um showzinho incrível sábado à noite naquele bar que eu amo, o da esquina da Aurora. Bora? Só nós duas. Música boa, ambiente tranquilo... você precisa sair um pouco.
— Ah, Cathe... não vai dar. — balancei a cabeça, já prevendo o que viria. — A cirurgia do Gabriel foi recente. Quero ficar em casa com ele, cuidar direitinho.
— Larissa... — Rafael me cortou antes que eu continuasse — Você vai sim.
— Rafa, não dá... é sério. — olhei pra ele, tentando reforçar a ideia com o olhar.
Dessa vez, quem se manifestou foi meu pai, me pegando completamente desprevenida:
— Filha, você vai. — disse firme, mas com aquele tom calmo que ele sempre usava quando queria me fazer pensar. — Você tem passado por tanta coisa... precisa respirar. Relaxar um pouco. Vai com a Catherine, se distrair, voltar mais leve. Você merece.
— Eu juro que trago ela cedo.— Catherine brincou, rindo. — Nada de balada, só música boa e conversa. A gente toma um vinho e volta cedo.
Suspirei, já me sentindo vencida.
— Eu sei que vocês querem ajudar... mas eu realmente não tô no clima. — murmurei, mexendo a colher no prato sem comer.
Foi quando ouvi a vozinha do Gabriel, do nada, falando alto:
— Mamãe pode ir pra festa! — ele disse todo animado, batendo as mãozinhas na mesa, com um sorriso sapeca.
Todo mundo caiu na risada. Eu olhei pra ele surpresa e ele me encarava com aqueles olhos grandes e brilhantes.
— Ah, é? Você quer que a mamãe vá? — perguntei, tocando de leve a testa dele com a minha.
— Uhum! Mas tem que voltar pra dormir comigo, tá bom? Pra contar a história do Optimus.
— Tá bom, meu amor. Eu volto cedo e coloco você pra dormir. Prometo.
Ele sorriu satisfeito e voltou a focar no brinquedo que tinha levado pra mesa, como se já tivesse resolvido tudo.
Catherine piscou pra mim e me cutucou por baixo da mesa.
— Tá vendo? Até o Gabi sabe que você precisa sair. Te pego às sete no sábado.
Soltei um riso leve, balançando a cabeça. No fundo, sabia que eles estavam certos. Talvez eu realmente precisasse de uma pausa... nem que fosse só por algumas horas.
— Tá bom, eu vou. Mas só se tiver vinho.
— Amor da minha vida, vai ter vinho, queijo, e até uma playlist só com as antigas que a gente ama. — Cathe comemorou.
Naquele momento, com todos à minha volta, senti uma pequena faísca de leveza. Algo que não sentia há muito tempo.
— Devagar, filho! — pedi instintivamente. Ele ainda estava se recuperando.
Gabriel chegou perto, rindo, abraçando a perna do Alessandro, que abaixou pra falar com ele.
Antes que eu dissesse algo, meu celular vibrou. Era a Catherine.
— Oi, tô aqui embaixo, versão Uber de luxo, esperando! — ela disse rindo.
— Tô descendo. Me espera só mais um minutinho.
Desliguei, respirei fundo e fui até Gabriel, abaixando um pouco pra olhar nos olhos dele.
— Mamãe já volta, tá? Eu te amo.
— Também te amo! Vai na festa e dança! — ele respondeu com aquele jeitinho inocente que me fazia sorrir mesmo nos dias mais pesados.
Me aproximei do Alessandro e falei em voz baixa:
— Eu já conversei com ele e expliquei tudo. Se quiser se aproximar como pai… agora é a hora. Ele pode te encher de perguntas.
Ele assentiu, mas continuou me olhando… com uma curiosidade quase inquieta.
— Pra onde você vai? — perguntou, como se quisesse uma resposta mais íntima do que apenas “um bar”.
Antes que eu respondesse, Rafael saiu do corredor com os cabelos molhados, já vestido.
— Vai com Deus, Larissa! E ó… — ele apontou o dedo pra mim, sorrindo — não precisa ter hora pra voltar pra casa. Relaxa.
Sorri, sentindo o calor do olhar do Alessandro ainda queimando nas minhas costas.
Fechei a porta atrás de mim com o coração batendo mais rápido do que eu esperava. Não era só pela noite. Era pelo que eu deixava pra trás… e o que começava a se transformar, sem aviso, dentro de mim.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...