Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 129

— Aiii, não vale!

— O que não vale é ficar doente e ter que voltar pro hospital. É isso que você quer?

— Não… — ele respondeu baixinho, negando com a cabeça.

Ela se aproximou com o copinho.

— Então vamos.

Na hora exata que ela tentou dar o remédio, ele virou de novo o rosto e o líquido escorreu… bem no meu braço.

— Droga… — ela resmungou, respirando fundo. — Você acabou de perder a lousa hoje.

— Mamãe! — ele reclamou, mas ela já estava completando o copinho de novo, com movimentos precisos, como quem já fez isso mil vezes.

— Não adianta reclamar. — ela disse firme, com a mesma expressão determinada que ela usava quando discutia algo importante comigo anos atrás.

Ela voltou até nós com o copinho cheio. Gabriel já se preparava pra gritar de novo, abrindo a boca pra reclamar. Mas ela foi rápida.

— Abre. — ela disse, colocando o copo direto nos lábios dele e segurando a cabeça com cuidado, mas firme.

Ele ficou com os olhos arregalados, fez uma careta enorme, e antes que cuspisse tudo, ela disparou:

— Engole, ou o castigo vai ser ainda maior.

Os olhos dele encheram de lágrimas, mas ele engoliu. Devagar. Fazendo uma careta de nojo tão autêntica que me deu vontade de rir.

Ele choramingou contra meu peito.

— É muito ruim, tio… muito ruim…

Eu o abracei mais forte, beijando o topo da cabeça dele.

— Eu sei. Você foi muito corajoso.

Olhei pra Larissa, que tinha uma mão na cintura e outra já limpando o que sobrou do remédio do chão com um pano.

— Você é boa nisso.

Ela riu com cansaço.

— Acha? Isso aí é só a rotina. Todo remédio vira esse drama, mas ele sempre toma. Uma hora ou outra… ele toma.

Fiquei olhando pra ela por mais tempo do que devia. Forte. Firme. Mãe. A mãe do meu filho.

E naquele instante, com Gabriel aninhado em mim e Larissa à minha frente, tudo que eu queria era não sair mais dali. Nunca mais.

Larissa foi até a cozinha e Gabriel ainda fungava baixinho no meu colo, mas seus olhos já começavam a pesar. Os cílios longos iam se fechando devagar, e a cabecinha se ajeitava mais no meu peito, como se eu fosse o travesseiro mais confortável do mundo.

Eu fiquei ali, parado, quase sem respirar, sentindo aquele corpinho relaxar devagar. O calor dele. O peso leve e certo, o som da respiração tranquila, foi quando eu percebi que ele dormiu.

Larissa se aproximou, delicada, os passos leves no chão da sala. Ela abaixou o olhar pra ele e depois pra mim.

— Deixa que eu levo.

— Posso levar? — perguntei, quase num sussurro, com medo de quebrar aquela paz.

Ela hesitou. Um segundo longo em que ela me estudou, talvez duvidando, talvez só ponderando.

— Tá… me acompanha então.

Me levantei com o máximo de cuidado, segurando Gabriel como se ele fosse vidro. Ele nem se mexeu. Seu rostinho continuava escondido no meu peito, os bracinhos soltos, os cabelos macios roçando meu queixo. Era tão pequeno… e mesmo assim, tão meu.

Segui Larissa por um corredor curto, entrando em um quartinho claro, com uma estante cheia de brinquedos, desenhos na parede e uma cama de solteiro com um edredom azul do Homem-Aranha.

Me abaixei com cuidado, ajeitando Gabriel na cama. Ele virou de lado sozinho, se enroscando no travesseiro. Larissa se inclinou e o cobriu com cuidado, ajeitando os lençóis com uma mão que sabia o que fazia. Uma mãe de verdade.

— Obrigado. Por me deixar aproximar dele.

— Você já viu sobre o divórcio? — ela perguntou de repente, mais direta do que eu esperava.

Um frio percorreu minha espinha. Merda. Eu ainda não tinha assinado, nem olhado de verdade. Mas não podia dizer isso agora.

— Ainda não. Tive que resolver tudo do acidente, o enterro da Chiara… Mas vou ver isso essa semana, eu juro.

Ela assentiu, séria.

— Tá bom. Obrigada.

Ela destravou a porta e a abriu.

Eu fiquei ali, parado, olhando pra ela. Tanta coisa presa na garganta.

— Se precisar de qualquer coisa… — falei, por fim. — Você pode me ligar, a qualquer hora.

Ela soltou um riso fraco, cansado.

— Espero não precisar. Você já fez muito, me salvando aquele dia.

Tinha tanta coisa que eu queria dizer. Que eu estava aqui agora, que eu queria consertar tudo. Que eu… ainda amava ela.

Assenti devagar e dei um passo pra fora.

— Boa noite, Larissa.

— Boa noite.

Ela fechou a porta atrás de mim. O som seco da madeira se encontrando com o batente foi como um soco.

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