Meu peito parecia que tinha implodido. O som do fogo engolindo tudo era como um grito no fundo da minha cabeça. E ali estava o carro... meu carro… completamente tomado pelas chamas.
O lugar onde Catherine deveria estar.
Eu chorava, mas já nem sabia se chorava de dor, de choque ou de medo. O mundo girava, meu corpo doía, mas nada se comparava ao buraco que começava a se abrir dentro de mim.
O som de um gemido baixo, tão fraco que quase se perdeu no meio dos alarmes dos carros ao redor chamou minha atenção.
Virei o rosto, com o coração disparando de novo. Meus olhos varreram tudo, até que eu vi…
— Catherine...?
Entre dois carros, onde o alarme berrava e a fumaça começava a se espalhar, uma sombra surgiu cambaleando. Era ela.
— CATHERINE! — gritei, levantando do chão de uma vez, sem nem sentir o corpo.
Ela estava com o braço sangrando, a roupa suja, os olhos marejados. Andava com dificuldade, meio zonza… mas viva.
Corri em direção a ele.
— Catherine! Meu Deus, meu Deus... você tá viva!
Ela me viu e começou a chorar, soluçando, caindo nos meus braços assim que me alcançou.
— Você tá viva…! Meu Deus, você tá viva! — eu repetia, sem parar, a abraçando forte como se ela pudesse sumir de novo se eu soltasse.
O alívio era tão absurdo que minhas pernas quase cederam.
— Você tá bem? Hein, Cathe? Fala comigo! Você tá bem?
Ela só assentiu com a cabeça, soluçando contra o meu ombro, e eu segurei o rosto dela entre minhas mãos, tentando olhar nos olhos dela.
— Você tá aqui… você tá comigo.
Algumas pessoas se aproximaram, médicos e enfermeiros saindo correndo do hospital. Só então percebi que estavam vindo ajudar.
Me afastei um pouco, respirando fundo, pra dar espaço a eles.
Catherine olhou pra mim com os olhos inchados de lágrimas.
— Eu… eu ouvi um barulho estranho vindo do carro... e eu só pensei em correr. Mas não deu tempo. Quando eu vi… tudo explodiu. — a voz dela era trêmula, quebrada, machucada.
— Tá tudo bem agora. Você tá bem, tá viva, é isso que importa. Tá viva, Cathe… — eu disse, apertando a mão dela com força.
— Larissa! — ouvi a voz de Rafael e antes que eu pudesse olhar direito, ele já me puxava pra um abraço apertado.
Me desfiz ali mesmo. Chorei no peito dele, toda a tensão saindo como um grito silencioso.
— O que aconteceu? Tá tudo bem com você, o que foi isso? — ele perguntou rápido, olhando ao redor, ainda em choque.
Ele viu Catherine sendo amparada por dois enfermeiros e congelou.
— Catherine… meu Deus, você se machucou?
Ela olhou pra ele, ainda com lágrimas escorrendo.
— Não... não muito. Só o braço, mas eu estou bem… — a voz dela quebrou de novo.
E eu só conseguia pensar numa coisa: Ela podia ter morrido. Eu podia ter perdido minha melhor amiga. Poderia ter sido eu e meu filho…
Quando os médicos disseram que ela estava bem, que não tinha ferimentos internos, que o corte no braço seria tratado ali mesmo, eu só consegui puxá-la de novo pra perto de mim.
— Você me assustou tanto, Cathe… tanto... — sussurrei com a voz embargada.
Ela me apertou forte, e eu sentia o coração dela ainda disparado, como o meu.
Nesse momento, a enfermeira voltou com Gabriel nos braços.
— Ele tá bem, só ficou um pouco assustado com a explosão. — ela disse gentilmente.
— Obrigada, de verdade. Por ter ficado com ele. — falei com os olhos cheios, recebendo meu filho de volta nos braços.
Gabriel se aninhou em mim, ainda fungando baixinho. Eu beijei a testa dele e o abracei forte, como se meu colo fosse a única fortaleza que restava no mundo.
Me virei para Rafael, ainda sem entender como tudo aquilo tinha acontecido.
— O que foi isso? Como... como assim tinha uma bomba no meu carro?!
Rafael respirou fundo, passando a mão no cabelo.
— Alessandro me ligou há poucos minutos. Falou pra eu impedir você de entrar no carro, disse que tinha uma bomba e que era pra manter distância.
— O quê?! — minha cabeça girou — Como ele sabia disso?
— Eu não sei, Larissa. Ele estava desesperado e logo veio a explosão… e eu apressei para vir logo.
Antes que eu pudesse fazer mais perguntas, o celular dele começou a tocar. Ele atendeu na mesma hora.
— Diogo?
Silêncio.
O rosto de Rafael mudou.
— Como assim… ela morreu?!
Meu corpo travou.
— Rafa, leva a Cathe lá pra casa, por favor. Cuida deles. Eu... eu te ligo.
— Claro. Qualquer coisa, me avisa. — ele respondeu, sério.
Quando eles saíram, respirei fundo e olhei pra Alessandro. Ele parecia exausto, os olhos pesados, a expressão confusa. Comecei a caminhar devagar em direção à entrada do hospital e ele me acompanhou, meio cambaleante. Esperei até estarmos um pouco mais afastados pra perguntar…
— Agora me diz, Alessandro. O que aconteceu? Me conta tudo.
Ele demorou a responder. Passou a mão pelo rosto machucado, respirou fundo e começou.
— Chiara… ela apareceu do nada. Entrou no carro comigo no estacionamento, apontando uma arma e disse que sabia que o Gabriel ia ter alta hoje… e que você ia morrer. Você e ele. Ela colocou uma bomba no seu carro, Larissa. Ela... ela queria acabar com tudo.
Eu parei de andar, sem fôlego. As palavras batiam como socos no meu peito.
— Ela disse que você tinha ferrado a vida dela... que você ter voltado estragou tudo. Que ela sabia a hora que vocês iam sair do hospital. Eu fiquei com medo, desesperado. A única coisa que consegui pensar foi em causar um acidente pra tentar impedir…
Fechei os olhos por um segundo, tentando digerir tudo aquilo.
— E onde ela tá agora? — perguntei, ainda em choque.
Ele desviou o olhar e soltou o ar devagar, como se tivesse um peso insuportável no peito.
— Provavelmente morta. — murmurou. — Ela não estava de cinto. Quando o carro capotou... ela foi arremessada pelo para-brisa. Quando eu fui até ela... Larissa, eu acho que ela se foi.
Senti um frio percorrer minha espinha.
— Sinto muito, Alessandro. Sei que... apesar de tudo, você a amava. — engoli em seco. — Mesmo ela sendo alguém tão ruim... ninguém merece um fim assim.
Ele assentiu com dificuldade, a voz baixa e pesada:
— Ela fez muita coisa errada. Eu não a amava mais, não desde que ela voltou… mas mesmo assim… é estranho, sabe? Ela foi minha infância. Crescemos juntos, foi meu primeiro amor. E... eu causei a morte dela.
Eu parei e segurei o braço dele, fazendo-o parar também. Ele se virou devagar, e eu levantei minha mão até o rosto dele, segurando com cuidado. O sangue ainda escorria devagar, misturado ao suor e à dor.
— Alessandro, olha pra mim. Você precisou fazer isso, ela tava descontrolada, ela ia matar a gente. Você salvou o Gabriel, salvou a mim novamente. Às vezes, a vida tira o controle das nossas mãos, mas... o importante é que você dois está aqui. E o Gabriel vai poder conhecer o pai dele. Isso é o que importa.
Ele fechou os olhos por um instante e segurou minha mão que ainda estava no rosto dele, como se quisesse se prender ali.
— Eu sinto muito, Larissa. Por tudo. Eu só... eu só quero minha família de volta.
Meu coração apertou e tirei a mão do rosto dele devagar, dando um passo pra trás.
— Alessandro, eu falei sério, a gente não tem mais volta. Eu quero, sim, uma relação boa com você... por causa do Gabriel. Mas você me machucou, de um jeito que não tem mais conserto.
Vi o olhar dele quebrar. Como se minhas palavras tivessem atravessado o peito dele feito uma lâmina.
Me virei, pronta pra sair, mas ele segurou meu braço e me puxou de volta. Meu corpo colou no dele, o peito quente…Ele envolveu minha cintura com o braço, me prendendo ali.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...