Entrei no carro com um suspiro pesado. A garagem estava silenciosa como sempre, e por um momento achei que teria alguns minutos pra reorganizar a mente antes de ir até o hospital. Coloquei o cinto, ajustei o espelho e já estava levando a mão à ignição quando ouvi o som da porta do passageiro sendo aberta às pressas.
Foi rápido demais. Antes que eu pudesse reagir, senti algo gelado pressionando minha barriga.
Virei o rosto devagar.
Chiara.
Ela estava ali. Desgrenhada, os olhos fundos, a maquiagem borrada e uma arma apontada pra mim com as mãos trêmulas. Mas o que mais me assustou não foi a arma, foi o olhar. Totalmente fora de si.
— O que você tá fazendo? — perguntei baixo, tentando controlar a voz, tentando manter a calma. — Chiara, abaixa essa arma.
Ela deu um riso curto e insano, os olhos brilhando de lágrimas mal contidas.
— Você é meu, Alessandro. Meu. Eu te amo. Eu sei que eu errei… errei tanto… mas eu não posso viver sem você. Eu não vou viver sem você.
— Você precisa parar com isso agora, abaixar essa arma e se entregar. Você ainda pode...
— CALA A BOCA! — ela gritou, a voz ecoando dentro do carro. A arma pressionou mais fundo contra mim. — Eu não posso me entregar. Você não entende? Eu preciso de você. A gente ainda pode ter um filho. Podemos começar de novo… ser felizes, como sempre deveria ter sido!
Engoli em seco. Ela tremia, o peito subindo e descendo rápido demais. Estava desmoronando na minha frente. Ou talvez já tivesse desmoronado há muito tempo.
— Foi meu pai que estragou tudo! — ela continuou, começando a chorar. — Ele me mandou pra aquele maldito país… me obrigou a casar com aquele velho nojento. Ele me tocava, Alessandro. Com aquelas mãos sujas…
Ela fechou os olhos, se encolhendo contra o banco.
— …mas eu só pensava em você. Era só você na minha cabeça. Eu fingia que era você me tocando… pra conseguir suportar.
Senti um aperto no peito, uma náusea subindo. A história dela sempre foi cheia de cicatrizes, eu sabia disso, mas isso… isso era mais fundo do que imaginei.
— Chiara… eu sinto muito. Imagino o quanto isso foi difícil, mas você podia ter feito diferente. Podia ter seguido outro caminho. Só que escolheu se envolver com os irmãos… com o Enzo, o Matheus…
Ela gritou de novo, um grito de dor e raiva.
— VOCÊ NÃO ENTENDE! Eu precisava daquilo! Ou eu ia enlouquecer! O Enzo… ele vivia esbarrando em mim, me olhando daquele jeito, tocando meu braço, o cabelo… ele me deu atenção quando eu tava morrendo por dentro. Eu me entreguei, sim! Mas eu nunca deixei de te amar!
— E o Matheus? — perguntei devagar, virando o rosto e encarando os olhos desequilibrados dela.
Ela hesitou. Piscou, trincou os dentes.
— Ele… ele era quieto. Diferente. Ele me ouvia, me entendia. Eu… eu só queria me sentir viva de novo. Só isso!
Respirei fundo. Tentei manter o controle. A arma ainda estava firme contra mim.
— Chiara… não é tarde demais. Você pode parar isso.
Ela se endireitou no banco e apontou a arma mais firme ainda, os olhos arregalados.
— Dirige. Agora. Pro aeroporto particular.
— Aeroporto?
Ela riu. Um riso que gelou meu sangue.
— Vocês acham que eu vou pra Turquia, né? Que eu sou burra. Eu só fiz isso pra despistar. A gente vai pra África. Pra começar do zero. Juntos. Como tem que ser.
— Chiara…
— AGORA, CARALHO! — ela gritou, engatilhando a arma com um estalo seco que me arrepiou da cabeça aos pés. — DIRIGE!
Fechei os olhos por um segundo. Respirei fundo e liguei o carro.
Eu precisava manter a calma. Manter ela calma, ganhar tempo e pensar rápido.
— Você tá louca, Chiara! — soltei, minha voz firme, transbordando fúria e desespero. — Você não pode fazer isso! Eles são inocentes! Isso é doentio!
Ela deu uma risada amarga e cruel.
— Louca? Não, amor. Eu só tô fazendo o que precisava ser feito. Ninguém mais vai atrapalhar a gente.
O sinal fechou. Os carros cruzavam a avenida em nossa frente enquanto eu observava as luzes vermelhas, o fluxo de veículos, as buzinas. Mas dentro de mim, só uma coisa gritava: "Você precisa impedir isso."
Fechei os olhos por um segundo e então, acelerei.
— O que você tá fazendo?! — ela gritou, se curvando, tentando entender.
Eu não respondi. Só mantive o pé no acelerador, pressionando-o ainda mais.
As buzinas aumentaram, gritos vindos de fora, carros desviando em desespero, mas eu não parei. Não podia parar.
— Alessandro! PARA! — ela gritou, a voz se quebrando no meio do pânico.
Ela soltou a arma pra se segurar no banco quando percebeu que eu não ia frear.
E então, o impacto. O mundo virou de cabeça pra baixo.
O som do metal se amassando, vidros estilhaçando, gritos abafados, o zumbido nos ouvidos. Tudo aconteceu em segundos.
O carro foi arremessado com força e capotou, enquanto tudo girava. Céu, chão, sangue, ferro. O cinto me segurou no lugar, mas meu corpo parecia esmagado, comprimido.
A única coisa que restou foi um silêncio ensurdecedor e o som de algo pingando. Meus ouvidos zumbiam, Minha visão embaçada. Tentei abrir os olhos, mas tudo rodava.
Estava de cabeça pra baixo, preso ao banco, o corpo doendo.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...