Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 123

Dois dias se passaram desde que saí do hospital. Dois longos dias.

Recebi alta, sim, mas com uma porrada de recomendações médicas: repouso, medicação na hora certa, nada de esforço. Como se o peso que eu já estava carregando aqui dentro não fosse suficiente.

A mansão... parecia maior. Ou talvez só mais vazia.

Caminhei devagar pelo corredor. O corpo ainda doía, mas não era a dor física que me incomodava mais. Parei em frente à porta do quarto de Larissa e encostei a mão na maçaneta, depois de alguns segundos, girei devagar.

O cômodo estava em silêncio. Tudo como ela tinha deixado.

Me aproximei da penteadeira vendo o frasco de perfume ali em cima. Peguei e levei até o rosto, fechando os olhos antes de inspirar fundo.

Aquele cheiro…

Me transportou direto pro dia em que ela entrou aqui, encharcada da chuva, com os cabelos grudados na pele e o olhar assustado. Quando foi tomar banho e saiu com aquele perfume no corpo. Naquele dia… eu já a amava. Já sentia. Só fui burro demais pra entender.

O celular vibrou no meu bolso quebrando o transe.

Tirei o aparelho e vi o nome na tela: Fernando.

— Fala. — Atendi, limpando a garganta.

— Alessandro, novidade sobre a Chiara. Encontramos movimentação na conta, ela mexeu no dinheiro.

Minha mão se fechou em punho.

— Mexeu como?

— Transferência e compra de passagem para a Turquia.

Fechei os olhos e respirei fundo. Aquela desgraçada ia mesmo fugir.

— Você sabe pra quando é essa passagem?

— Amanhã.

— Droga... — murmurei. — Fernando, a gente precisa achá-la antes disso. Ela não pode sair do Brasil.

— A gente tá tentando rastrear o IP da transação. Mas ela fez tudo pelo aplicativo, com autenticação em dois fatores. É mais complicado. — Ele suspirou. — Você conhece algum lugar onde ela possa estar? Algum lugar isolado, onde ela esperaria até a hora do voo?

Fiquei em silêncio por uns segundos. A imagem veio na minha cabeça quase de imediato.

— Espera... tem uma fazenda que era dos avós dela. Fica numa área rural no interior, perto da fronteira com Minas. Tá abandonada faz mais de quinze anos, mas...

— ...mas ela pode estar lá — completou Fernando.

— É o tipo de lugar que ela escolheria. Ninguém pensa naquilo, nem eu lembrava. É afastado de tudo. Sem vizinhos, o sinal fraco. Ela sabe que ninguém procuraria ali.

Fernando ficou em silêncio por um segundo.

— Perfeito. Eu vou mandar uma equipe agora mesmo. Mas você fica em casa, Alessandro. Nada de querer ir junto.

— Fernando...

— Sem discussão. Você acabou de sair do hospital e ainda está tomando antibiótico, não pode dirigir, não pode correr, não pode brigar. Você vai ficar aí, se recuperar e confiar em mim.

Olhei em volta, a casa tão vazia, e o cheiro do perfume dela ainda no ar.

Engoli seco e assenti, mesmo sabendo que ele não podia me ver.

— Tá certo... eu confio.

— Assim que a gente souber de algo, eu te ligo.

— Beleza. Valeu, Fernando.

Desliguei.

Umas quatro da tarde, comecei a sentir uma dorzinha leve na cabeça, e pensei que talvez fosse melhor ir pra casa, mas foi aí que lembrei.

Gabriel.

Ele ia receber alta hoje.

O frio na barriga veio de imediato. Desde que eu saí do hospital… não vi mais ele. Nem a Larissa. Nada. Nenhuma notícia.

Eu queria ir lá. Queria ver ele, segurar ele. Sentir que, pelo menos como pai, eu ainda tinha algum espaço.

Mas tinha medo. Medo dela me olhar como olhou da última vez… com aquele olhar gelado, firme, decidido. Aquela certeza de que não me queria mais.

Me levantei devagar da cadeira e fui até o cofre embutido na parede do escritório. Digitei a senha sem nem pensar, já no automático. O cofre abriu com aquele estalo metálico.

Ali estava o envelope. Peguei e sentei de volta, mais devagar, puxando os papéis de dentro. O contrato.

Meus olhos bateram direto na assinatura dela. O traço firme, decidido. Sem hesitação.

E logo abaixo… o espaço em branco. O lugar onde a minha assinatura deveria estar.

Segurei o papel entre os dedos por um tempo. Só olhando.

Eu sabia que esses documentos não deviam nem ter valor mais. Devia ter vencido, sei lá. Mas mesmo que ela aparecesse aqui com outros, com um contrato novinho… eu não ia assinar antes de lutar por ela.

Porque agora eu entendi. Tarde, talvez. Mas entendi.

Ela não era só a mulher que eu amava. Ela era a única que me fez querer ser um homem melhor. E Gabriel… era o presente que a vida me deu quando eu menos merecia.

Dobrei os papéis com cuidado, guardei de novo no envelope e olhei pela janela.

Talvez hoje fosse o dia de encarar aquele olhar de novo e fazer ela enxergar o que eu finalmente vi.

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