Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 120

Terminei o banho e enrolei a toalha no corpo, já sentindo o vapor quente se dissipar no banheiro. Fui para o quarto e escolhi um vestido claro que gostava de usar, percebendo que havia engordado um pouco e suspirei me olhando no espelho e então algo chamou a minha atenção.

Ali, parado na penteadeira, como se o tempo não tivesse passado, vi meu perfume antigo. Aquele que eu usava sempre, antes de tudo desandar. Me aproximei devagar, estendendo a mão como quem toca uma lembrança. Talvez ele já estivesse até vencido, mas ainda peguei o vidro e levei ao nariz.

O cheiro ainda estava lá. Familiar, doce... e doloroso. Meu estômago afundou de imediato, como se aquele aroma me puxasse de volta pra uma época onde eu ainda sabia sorrir sem esforço. Respirei fundo, era melhor do que nada.

Borrifei um pouco no pescoço e nos pulsos, como no automático, e foi nesse momento que ouvi a batida na porta. Me assustei um pouco, mas fui abrir.

Era o Alessandro.

Ele me olhou de cima a baixo, e eu automaticamente limpei a garganta.

— Já vamos? — perguntei, tentando soar neutra, embora minha voz ainda estivesse rouca.

— Eu pedi algo pra você comer. — ele disse, sem desviar os olhos. — Achei que você devia estar com fome. Assim você já vai mais forte pro hospital... e pode ficar o resto do tempo com o Gabriel.

Respirei fundo, sentindo um nó na garganta. Assenti com a cabeça, sem dizer nada. No fundo, ele tinha razão. Eu estava com fome e seria melhor ir com alguma energia do que chegar lá parecendo um fantasma.

Desci as escadas devagar, ouvindo os passos dele logo atrás. O cheiro da comida me acertou no estômago assim que chegamos na cozinha, e a fome apertou de vez. Me sentei à mesa e Alessandro puxou a cadeira ao lado.

Ao ver a comida, meu estômago se revirou de vontade. Comecei a comer, tentando não parecer desesperada, mas era difícil manter a compostura.

— A gente disse pro Gabriel que você estava em casa dormindo. Que estava muito cansada — ele falou, a voz baixa, mas firme.

Continuei mastigando, evitando o olhar dele.

— Rafael ficou com ele o tempo todo... mesmo sendo eu quem devia estar lá.

A pontada de ressentimento foi clara. Não precisava nem de subtexto, mas eu simplesmente engoli a comida e o que senti junto com ela. Não ia discutir isso.

— Tá. — murmurei, com a boca quase cheia, e continuei comendo, fingindo que aquele café da manhã era só mais um qualquer.

Evitei pensar em onde eu estava. Evitei olhar demais pra ele. Evitei tudo. Era o que eu sabia fazer de melhor.

***

Entrei no quarto devagar, sentindo o coração bater mais forte a cada passo. O ambiente era silencioso, envolto numa penumbra tranquila pela luz suave que atravessava a janela. E ali, tão pequeno na cama hospitalar, estava meu menino. Gabriel.

Ele dormia de lado, abraçado a um travesseiro, com o rostinho pálido e os fios de cabelo bagunçados. Me aproximei com cuidado, tentando conter o choro, e toquei sua mão com delicadeza.

— Gabriel... — sussurrei.

Seus olhos piscaram devagar, pesados ainda do sono e da medicação. Ele levou alguns segundos para focar em mim. E então, um sorriso fraco se formou em seus lábios.

— Mamãe?

Senti o peito afundar. O nó na garganta se desfez e as lágrimas caíram sem controle.

— Sou eu, amor... a mamãe tá aqui. Eu senti tanto a sua falta... tanto...

Me abaixei e o abracei com cuidado, aninhando o rostinho dele no meu ombro, mesmo com os fios do soro atrapalhando. Gabriel respirou fundo contra meu pescoço, como se estivesse se certificando de que eu era real.

— Você demorou pra vir, mamãe — ele murmurou, cansado.

— Eu sei... me perdoa. Eu queria estar aqui desde o começo, mas... — minha voz falhou. — Eu tô aqui agora e não vou sair do seu lado, tá?

Gabriel assentiu, encostando a cabeça no travesseiro de novo. Foi então que seus olhos se moveram para o canto do quarto. Alessandro estava ali, encostado na parede, com os braços cruzados e o rosto tenso. Observava em silêncio.

Gabriel franziu o cenho, curioso.

— Oi, tio Alessandro.

Meu corpo travou. Alessandro descruzou os braços, deu um passo à frente, como quem pondera cada palavra e eu percebi que seus olhos estavam marejados.

— Oi, garotinho — ele começou, com a voz embargada, dando outro passo à frente. — preciso te contar uma coisa...

— Alessandro. — interrompi, minha voz cortante e firme. Me levantei rapidamente, ficando entre ele e Gabriel. — Esse não é o momento.

Ele me encarou, frustrado. Sua respiração se acelerava.

Gabriel estremeceu levemente. E eu, tentando conter tudo o que fervia dentro de mim, me sentei na beira da cama e acariciei o rostinho dele.

— Shhh... tá tudo bem, meu amor. Dorme, tá bom? Mamãe tá aqui.

Ele apertou meus dedos com os dele, tão pequenos, tão frágeis. Ficamos assim por um tempo. Até que os olhos dele se fecharam de vez, a respiração desacelerou, e ele finalmente dormiu.

Soltei a mão dele com cuidado e ajeitei o cobertor. Me levantei devagar. Rafael já tinha puxado uma cadeira ao lado da cama. Estava quieto, observando tudo em silêncio, como sempre fazia. Me aproximei e me sentei ao lado dele. Por um tempo, só fiquei ali, respirando calmamente, mas a mente fervia.

— Ele veio. — soltei, sem conseguir esconder o cansaço. — O Alessandro... me salvou.

Rafael assentiu.

— Eu já previa isso.

Assenti, sentindo o corpo mais pesado do que nunca.

— Foi ele quem me tirou de lá... do lugar onde me mantiveram. Não foi fácil e ele se arriscou. Mas isso não apaga o que ele fez antes, Rafael. Não apaga o abandono, nem a dor.

Ele respirou fundo, processando.

— Talvez não apague. — disse com calma. — Mas ele se arriscou por você, por Gabriel. Ele podia ter ignorado tudo e seguido com a vida dele. Mas não fez isso. Isso... isso diz alguma coisa. Eu acredito que ele se arrependeu.

Passei as mãos no rosto, sentindo o choro que ainda não podia sair.

— É bom que tenha se arrependido, mas não muda nada entre nós. Não muda quem ele foi e nem o que ele causou.

Rafael olhou para Gabriel, e eu acompanhei o olhar. Meu filho dormia sereno, alheio à tempestade entre os adultos.

— Eu entendo. Só que, Larissa... você vai ter que encontrar um jeito de se entender com isso. Porque o Gabriel vai precisar dele por perto. Vai precisar de vocês dois. Não agora. Não enquanto ainda estiver se recuperando. Mas um dia... ele vai querer saber, vai fazer perguntas. E ele merece respostas sem guerra.

Fechei os olhos por um instante. Doía ouvir aquilo, mas era verdade. Rafael sempre soube dizer as coisas certas, mesmo quando elas machucavam.

— Eu sei. — sussurrei. — E eu vou fazer isso, só por ele.

Histórico de leitura

No history.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra