Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 119

O carro seguia pela estrada silenciosa, mas o barulho do motor parecia gritar no meu ouvido. Diogo tinha ficado com Fernando, organizando a prisão dos capangas e cuidando de todo o resto. Eu, por algum motivo que ainda não entendi totalmente, aceitei vir com Alessandro.

Talvez fosse o cansaço ou o alívio. Até mesmo eu só quisesse distância daquele lugar o mais rápido possível.

E agora estávamos aqui, com o silêncio sufocante entre a gente.

Até que ele falou.

— Larissa... — a voz dele saiu baixa, meio hesitante. — Ele te machucou? O Enzo... enquanto você tava lá... ele fez alguma coisa com você?

Olhei pela janela por um instante, respirei fundo e depois neguei com a cabeça.

— Não... não muito. Eu tô bem. — menti um pouco. Pelo menos fisicamente.

Vi pelo canto do olho o maxilar dele travar. O músculo da bochecha se movendo, tenso. Mas ele não disse nada.

— Foi arriscado — falei, quase num sussurro. — Você ter vindo atrás de mim. Você mal tinha saído do hospital...

Hesitei, mas continuei:

— Se alguma coisa tivesse acontecido comigo, o Gabriel… ele ia precisar do pai.

Ele me olhou rapidamente, depois voltou os olhos pra estrada.

— Eu não podia ignorar o que estava acontecendo. — A voz dele saiu mais firme agora. — Se eu soubesse onde você estava desde o começo, eu teria ido atrás. No mesmo segundo.

— Mas você não devia nem estar aqui... — murmurei, me virando pra ele com a testa franzida. — Você devia estar internado ainda. Alessandro... você doou um rim!

Ele soltou um suspiro pesado.

— Eu tô bem, de verdade.

— Você sempre foi teimoso. — falei, tentando conter a preocupação na minha voz.

Ele sorriu de leve, sem tirar os olhos da estrada.

— E você me conhece bem, sabe que eu não ia te deixar.

Silêncio.

Aquela frase ecoou dentro de mim, como uma provocação silenciosa.

— Eu achava que conhecia — retruquei, mais amarga do que gostaria. — Mas você me deixou. Quando eu mais precisava. Quando eu tava grávida. Então... não sei mais quem você é.

A tensão voltou, mais forte. O ar pareceu pesar dentro do carro.

Ele abriu a boca pra responder, e eu sabia o que viria. Um pedido de desculpas, uma tentativa de justificar. Mas eu não queria ouvir, ainda não.

— Alessandro — cortei, virando o rosto pra ele, séria — você me machucou. De um jeito que eu não sei se dá pra consertar. E eu não tô preparada pra ter essa conversa. Talvez nunca esteja.

Ele fechou a boca, engolindo em seco. Apenas assentiu com a cabeça.

— A gente pode... ir em silêncio?

Ele respirou fundo e assentiu de novo.

E o silêncio voltou. Só que dessa vez, ele não doía tanto.

Era só... necessário.

O carro seguia pela estrada já mais tranquila, os primeiros raios do sol atravessando o para-brisa e dourando os meus dedos entrelaçados no colo. Eu só queria chegar no hospital. Ver o Gabriel e sentir o cheirinho dele, saber que ele estava bem.

Mas ainda havia algo preso no ar. Um silêncio que não era exatamente confortável.

Foi Alessandro quem o quebrou de novo.

— Você quer ir direto pro hospital? — ele perguntou, sem tirar os olhos da estrada.

Assenti, cansada.

— Quero. Eu preciso ver o Gabriel... saber que ele tá bem. — minha voz saiu mais baixa do que eu esperava. O cansaço me atingia como um peso concreto no peito.

Ele olhou de relance pra mim, depois voltou a encarar a estrada.

— Larissa... você precisa parar um pouco. Olha pra você, está toda suja... ainda tem sangue na sua blusa.

Olhei para mim, como se só agora estivesse percebendo. As marcas nas mangas, o cheiro metálico e seco que me dava náusea. Soltei um suspiro.

— É, eu sei. Mas eu só... — travei. Eu só queria ver meu filho.

Assenti lentamente. Por alguma razão, não fiquei surpresa. Parte de mim já sabia que ela correria ao menor sinal de risco, como sempre fez.

Virei o rosto pra ele e o olhar de Alessandro estava cravado em mim, pesado. Tinha arrependimento ali, culpa... mas também algo mais profundo. Algo que eu me recusava a identificar. Eu não podia me deixar levar por isso. Ele fez a escolha dele. Ele nos deixou.

Abri a porta sem dizer nada e saí do carro. O som dos meus passos na entrada ecoava como um lembrete de tudo que ficou pendente entre nós.

Atravessar o hall foi como andar por dentro de um álbum de memórias distorcidas. Eu conhecia cada canto daquela casa, mas não sentia saudade. O que me tomava era um aperto no peito, uma tristeza silenciosa.

Ouvi a voz dele atrás de mim, baixa, próxima demais:

— Suas coisas estão no mesmo quarto... não mexi em nada.

Engoli seco e nem olhei pra trás. Apenas subi as escadas.

A cada degrau, meu coração apertava mais. As paredes pareciam me observar. As lembranças me espreitavam de todos os cantos.

Quando abri a porta do quarto, a sensação foi quase surreal. Estava tudo ali. Como se o tempo tivesse congelado. Meus livros empilhados, o cobertor dobrado do jeito que eu gostava... até uma pulseira esquecida sobre a cômoda.

Fechei a porta com firmeza e tranquei. Queria e precisava de um momento sozinha.

Me sentei na beirada da cama e levei as mãos ao rosto. As lágrimas vieram antes mesmo que eu pudesse evitar e quando percebi, estava desmoronando.

As lembranças bateram de uma vez só, como uma onda gigante e furiosa: a dor da rejeição, o abandono, a gravidez sozinha, o medo, a força que precisei ter por dois... E agora, esse retorno forçado ao lugar onde tudo desmoronou.

Levei a mão à garganta, tentando conter o nó que apertava mais do que qualquer ferida. Mas não dava.

Me levantei cambaleando até o banheiro e sem pensar duas vezes, liguei o chuveiro.

A água gelada me atingiu com a roupa e tudo, mas eu nem senti. Era como se o mundo tivesse silenciado do lado de fora. E ali, debaixo daquela água, eu chorei.

Soluçando baixinho.

Com o peito rasgado de medo, de alívio... de confusão. Chorei pelo que vivi. Pelo que sobrevivi.

Pelo que ainda não entendi. E por aquilo que, talvez, ainda sentia mesmo que eu não quisesse.

Eu não queria estar ali. Mas estava. E precisava, de algum jeito, aguentar só mais um pouco.

Porque o que me esperava agora... era Gabriel e ele sim, era o meu lar.

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