Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 121

(Alessandro)

Saí do quarto sem olhar pra trás. As palavras do Gabriel ainda ecoavam na minha cabeça como uma faca girando na carne:

“Quero ficar com você e com o papai.”

E não era comigo que ele falava.

Andei pelos corredores do hospital feito um zumbi. Queria correr, quebrar algo e até mesmo gritar. Mas só continuei andando, firme, tentando manter a respiração estável até chegar no estacionamento.

Abri a porta do carro com força demais, joguei o corpo no banco e bati a porta. Fiquei ali, segurando o volante, encarando o nada.

Só então percebi quando senti algo quente e molhado escorrendo pelo meu rosto. Levei a mão e toquei. Lágrimas.

Fechei os olhos com raiva, cerrei os punhos.

— Merda... — sussurrei, entre os dentes.

Respirei fundo, mas as palavras do menino voltaram de novo, como uma agulha na minha garganta.

“Quero ficar com o papai.”

Mas era o Rafael. Sempre foi o Rafael. O outro. O que ficou.

— Eu sou o pai dele... — murmurei. — Eu.

Engoli seco. Um aperto tomou meu peito, misturado com raiva, frustração, culpa... arrependimento.

Passei as duas mãos no rosto, esfregando com força como se aquilo fosse apagar tudo que eu senti.

O celular vibrou no console e o peguei, vendo que era Fernando. Atendi com a voz ainda rouca de raiva contida.

— Fala.

— Alessandro, já estamos com o pessoal na delegacia. O Enzo foi levado pro hospital, ainda com vida.

Fechei os olhos e encostei a cabeça no banco. Ótimo. O desgraçado ainda estava vivo.

— Tá de sacanagem comigo... — soltei, mais pra mim do que pra ele. — Aquele imprestável ainda tá vivo?

Fernando pareceu hesitar um segundo.

— Sim. Mas pelo que os médicos disseram, ele vai sair com sequelas graves. A bala atingiu a medula espinhal, bem na altura da cervical. Provavelmente não vai andar e mover os braços nunca mais.

Dei um riso curto, seco. Sem alegria. Sem piedade.

— Pelo menos isso... Teve o que mereceu.

Silêncio do outro lado. Depois Fernando continuou:

— O Matheus está sendo cuidado. Levaram ele pra um hospital seguro. Ele vai ficar bem, segundo os médicos.

Assenti, mesmo que ele não pudesse ver.

— Bom, ele procurou passar por aquilo.

— Concordo. E outra coisa... hoje mesmo vou entrar em contato com o departamento da Itália e informar tudo. Esse caso vai ser encaminhado pra Interpol também.

— Beleza. Faz isso. E quanto a Chiara, alguma notícia?

— Ainda não temos nada dela, mas vamos encontrar. É só questão de tempo.

Fechei os olhos por um segundo. Chiara... ainda solta por aí como um fantasma esperando a hora de atacar de novo.

— Quando tiver qualquer coisa, me avisa. Na hora.

— Pode deixar.

Desliguei.

Fiquei alguns segundos encarando o painel do carro. Tudo dentro de mim estava em ebulição. A vontade era de sumir, mas se eu fosse pra casa, não ia dormir. Ia ficar revivendo tudo mil vezes.

Girei a chave e liguei o carro.

Se era pra ocupar a cabeça, então que fosse trabalhando.

Arranquei com o carro, deixando o hospital pra trás... e um pedaço de mim também.

***

As luzes da sala de reunião me pareciam mais fortes do que o normal. A tela do notebook piscava à minha frente, cheia de números e projeções que eu mal conseguia focar. O som das vozes discutindo estratégias, resultados e prazos chegava abafado aos meus ouvidos, como se eu estivesse debaixo d’água.

— Sr. Alessandro? — uma das coordenadoras me chamou, percebendo meu silêncio. — O senhor está bem?

Assenti de leve, tentando manter a postura. Eu precisava estar ali e manter tudo funcionando. Principalmente agora, depois de tudo. Depois de quase perdê-la ou quase perdê-los.

As palavras de Gabriel, a cena deles três juntos… ainda me atormentava. Aquilo me rasgou por dentro de um jeito que nem o bisturi da cirurgia conseguiu.

A verdade era que eu doei meu rim, mas ainda faltava um pedaço inteiro de mim: meu filho.

Tentei me concentrar e apontei para a tela com esforço.

— A projeção desse trimestre precisa ser revista. O setor de investimentos... — minha voz falhou, baixa demais, e precisei me apoiar na mesa.

— Eu tô resolvendo coisa mais importante, mãe.

— Mais importante que a própria saúde?! — Ela bufou. — Você fez isso por causa daquela miserável da Larissa, foi?

Senti o sangue ferver.

— Para de falar assim dela!

— Ah, claro! — Ela cruzou os braços. — Desde que essa mulher voltou, você não é mais o mesmo! Sua vida virou um caos! Você quase morreu, Alessandro. E agora tá aqui, de cama, igual um imbecil. E sabe o que mais? Ontem a Chiara veio atrás de mim.

Minha espinha gelou.

— O quê?

— Ela me procurou, chorando, desesperada... Disse que precisava de dinheiro pra um exame. Um exame caríssimo! E você foi homem de negar?

— Mãe...

— Como você teve coragem de fazer isso com ela? Com a mulher que esperou você por anos! A Chiara sempre esteve ao seu lado, e agora você a j**a fora por uma mulher que te abandonou e traiu?!

Eu ri. Amargo. Um riso seco, que cortou minha garganta.

— Quanto foi que ela disse que custava esse exame?

— Quinhentos mil.

A gargalhada que me escapou fez a ferida doer.

— Você é uma tola, mãe. Não tem exame nenhum. Chiara queria esse dinheiro pra fugir. É uma mentirosa, manipuladora... uma desgraçada.

— Como é que é?! — Ela empalideceu.

— É isso mesmo que você ouviu. Ela mentiu pra mim, pra você, pra todo mundo. Sabe o ex-marido dela? Aquele italiano? Foi ela quem o matou. Foi ela quem se envolveu com os dois irmãos e depois sumiu com o dinheiro deles. Bilhões, mãe. Bilhões. Depois veio pra cá, fingindo ser a boazinha, e sabe o que aconteceu? Um deles veio atrás dela, por vingança... e sequestrou a Larissa pra me atingir.

— Você tá mentindo. — A voz dela falhou.

— Eu queria. Deus sabe como eu queria. Mas tudo isso aconteceu por minha culpa e por culpa dela. Se eu não tivesse deixado a Larissa... se eu não tivesse sido um covarde... nada disso teria acontecido.

Ela se calou, chocada, mas eu já tava longe demais pra parar.

— E sabe de uma coisa? Eu me arrependo. Me arrependo tanto que dói respirar. A Larissa... ela é tudo, mãe. Tudo que uma mulher pode ser. Forte, cuidadosa, honesta, meiga... uma mãe incrível, uma pessoa que você só encontra uma vez na vida. Eu não vou desistir dela. Nunca mais. Com ou sem sua aprovação.

Um barulho suave na porta chamou a nossa atenção e virei o rosto, sentindo o coração acelerar no peito enquanto via Larissa, parada, com os olhos arregalados de surpresa, como se não tivesse certeza se devia entrar ou sair correndo.

Ela ouviu tudo.

Histórico de leitura

No history.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra