Eu ajudei Matheus a se sentar, passando o braço dele pelos meus ombros. Ele gemeu de dor, mas não reclamou.
— Vai dar certo — eu sussurrei, mais pra mim do que pra ele. — A gente vai sair daqui.
— Você devia me deixar, Larissa... Eu só vou te atrasar. — a voz dele era fraca, mas firme.
— Para, não vou discutir isso de novo. Se eu for, você vai comigo.
Ele suspirou e me lançou um olhar cansado, mas não insistiu.
Saímos da cela com cuidado, me apoiando no muro e tentando caminhar o mais silenciosamente possível. O sol ainda não tinha nascido por completo, mas o céu já estava começando a clarear. As sombras do galpão dançavam como se zombassem da nossa tentativa de escapar.
Cada passo era lento, arrastado. Matheus mancava, o corpo dele pesava sobre o meu, e eu sentia a tensão dos músculos protestando. Mas eu não ia soltar. Não ia.
Estávamos quase na porta dos fundos quando ouvimos o barulho.
Passos rápidos.
— Droga. — murmurei, puxando Matheus com mais força.
Uma voz grossa soou por trás da parede:
— Ei! Quem tá aí?!
Eu congelei.
Matheus prendeu a respiração.
— Corre... — ele sussurrou.
— Você não pode correr! — rebati.
A porta dos fundos estava a poucos metros.
Foi quando o capanga apareceu no corredor, virando com uma arma em mãos, apontada direto pra mim.
— MAS QUE PORRA É ESSA?! — ele gritou.
Instintivamente, empurrei Matheus pro lado e fiquei na frente.
— Sai da frente, garota! — ele rosnou. — Eu não vou repetir!
Meu coração martelava e rapidamente me lembrei do garfo.
Meus dedos estavam tremendo quando puxei ele de dentro da cintura da calça. Não era grande, mas era tudo o que eu tinha.
— Você vai ter que passar por mim. — falei com a voz firme, apesar do medo.
O capanga riu. Um riso baixo, debochado.
— Você acha que isso aí vai me parar? Um garfinho? Tá maluca?
— Talvez não... mas vai doer pra caramba. — rosnei.
Ele deu um passo à frente e foi aí que eu fui pra cima. Ele era homem, queria medir sua força comigo, só que ser mulher tem suas vantagens e uma delas é ser mais ágil.
Era agora ou nunca.
Cravei o garfo no seu pescoço dele quando ele tentou me empurrar, o grito de dor foi alto e em seguida o sangue começou a escorrer. Ele perdeu a força, tropeçando para trás enquanto a arma caiu no chão. Eu chutei pra longe, desesperada. Ele veio de novo, tentando me agarrar, mas eu o atingi com um soco, do jeito mais desengonçado e cheio de pânico possível.
Matheus, mesmo fraco, tentou ajudar, puxando o pé dele e o fazendo cair. Aproveitei o momento e peguei um pedaço de cano no chão, acertando com força na cabeça do capanga.
Ele desabou.
Fiquei ofegante. O cano ainda na mão, o corpo tremendo. O gosto metálico de adrenalina na boca.
— Você... você tá bem? — perguntei, virando pra Matheus.
— Você... quase me matou do coração. — ele disse, rindo com dificuldade.
— Foi horrível. — falei, tentando respirar. — Mas... deu certo.
Peguei a arma do chão e a coloquei no bolso na cintura. Eu não sabia se conseguiria atirar, mas não ia sair dali desarmada.
— Vem. Antes que alguém escute.
— Você é maluca, sabia?
— E você é pesado, anda logo.
E assim seguimos. Dois quase fantasmas pela madrugada, nos arrastando entre a morte e a liberdade com sangue nas mãos e esperança presa na cintura, junto dos papéis que podiam mudar tudo.
A arma pesava, mas o que mais pesava era Matheus. Cada passo era um desafio. Ele apoiava-se em mim, tentando não fazer barulho, tentando não desmaiar, tentando simplesmente... viver.
O corredor parecia mais comprido do que antes. Cada sombra era uma ameaça. Cada som, um aviso.
— Falta pouco... — eu murmurei, quase sem fôlego. — Só mais um pouco, Matheus...
— Você tá... tá carregando peso morto. — ele gemeu, com uma tentativa de sorriso.
— Cala a boca e anda.
— Eu devia ter... sido mais esperto e percebido quem era a Chiara. Antes dela... virar o que virou.
— Não pensa nisso agora. Vamos sair daqui primeiro e depois você pode escrever uma carta pra ela do inferno, se quiser. — tentei brincar, mas minha voz saiu trêmula.
A porta dos fundos estava à frente. Foi então que ouvimos.
Tiros.
Um estrondo. Dois. Depois uma sequência caótica. Gritos. Correria.
Eu travei no lugar, o coração subindo pra garganta.
— Mais perigoso do que ficar aqui?
Ele balançou a cabeça, derrotado.
— Então vamos, antes que Enzo volte... ou que Alessandro morra tentando me salvar.
E com o coração aos saltos, os pés doendo, e o medo latejando por todo o corpo, eu me preparei para cruzar o campo de batalha.
Se ele estava lutando por mim... então eu também ia lutar por ele.
Cada passo que eu dava parecia um milagre. Mas, de repente, algo me puxou de volta pra realidade com a força de um raio.
— LARISSA!
Foi o grito de Matheus.
Me virei a tempo de ver uma mão suja agarrar o colarinho dele, puxando-o de volta pro interior do galpão. Eu corri atrás, mas uma arma apontada pra cabeça de Matheus me fez travar com os pés colados ao chão.
Enzo.
Ensanguentado, furioso, com o olhar de um animal encurralado. A faixa no ombro dele já estava vermelha, a respiração ofegante. Ele parecia um demônio cuspido do inferno.
— Sabia que você ia tentar alguma gracinha — ele rosnou, arrastando Matheus com uma força brutal. — Você sempre foi teimosa, Larissa. E burra. Quis salvar esse lixo? Agora vai assistir ele morrer.
— Não! Por favor, Enzo, para! — ergui as mãos, o coração disparando.
— Ah, não. Agora você quer bancar a mártir? A mocinha boazinha? — ele riu, descompensado. — Você só serve pra uma coisa, Larissa. Apenas para ser minha.
Matheus tentou reagir, mas Enzo pressionou a arma contra a têmpora dele.
— Fica quieto ou eu arranco seu cérebro pela orelha.
Foi então que ouvi a voz dele.
— LARGA ELES, ENZO!
Me virei num pulo, vendo Alessandro aparecer entre a fumaça, com a arma apontada, o rosto suado, manchado de fuligem. Os olhos dele passaram por mim, rápidos, procurando sinais de vida.
— Solta eles e acaba com isso agora. Você perdeu.
Enzo riu.
— Perdido, eu? Eu nunca tive tanto poder na vida. Olha só, Alessandro... você me tirou tudo. A Chiara. O dinheiro. Agora quer levar isso também? — ele balançou Matheus, como se fosse um boneco. — Me diz... vale tanto assim?
Alessandro deu um passo.
— Você não vai sair daqui vivo. Solta o seu irmão.
O olhar de Enzo mudou por um segundo. Um brilho de dúvida, de medo. Ele hesitou, mas então…
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...