Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 116

(Larissa)

O céu já tava começando a clarear quando ouvi a porta da cela se abrir com força.

Me encolhi no canto, os olhos ardendo de não dormir e a cabeça latejando. Eu mal conseguia sentir o corpo de tanto medo, tensão, cansaço. Mas quando vi a silhueta de Enzo atravessando a fumaça da luz da manhã, alguma coisa no meu peito congelou.

Ele estava... diferente.

Cambaleando.

Com a camisa rasgada, o rosto cheio de arranhões e sangue seco no queixo. O braço esquerdo enfaixado às pressas, manchado de vermelho. Parecia que tinha saído de um campo de guerra.

Mas o pior veio quando ele parou na minha frente.

E com um sorriso torto, cansado e quase satisfeito, ele jogou algo no chão.

Uma camisa que eu conheci… era do Alessandro, ele usava sempre.

— Olha só o que sobrou do seu herói — Enzo disse, ofegante, a voz mais rouca do que nunca.

Eu nem consegui responder de primeira.

Só... olhei.

Olhei aquela camisa ali no chão sujo de sangue. Muito sangue.

— O... o que é isso? — minha voz saiu falhada, fraca.

— Ele veio, como eu sabia que viria — Enzo respondeu, se apoiando na parede. — Quis bancar o salvador, achou que podia me enganar. Mas a gente sempre paga pelos erros, não é?

— Você levou um tiro? — perguntei, com o coração já batendo fora do ritmo. — Onde está o Alessandro? Cadê ele?!

Enzo me encarou com aqueles olhos mortos e sorriu.

— Tá morto, Larissa.

O chão sumiu.

Simples assim.

— Mentira. Mentira. — balancei a cabeça. — Você tá mentindo!

— Eu mesmo atirei. Ele caiu feito pedra. — Ele se agachou perto de mim, os olhos firmes nos meus. — Foi rápido. Talvez nem tenha sentido, mas é isso. Acabou. Ele não vai vir mais, ninguém vai.

Meu corpo inteiro tremeu.

Tentei gritar, mas só um soluço seco saiu da garganta.

Ele não podia estar morto. Meu corpo foi até a camisa e meus dedos trêmulos tocaram o tecido.

— N- não... — comecei a chorar. — Não pode ser...

Senti meu peito se apertar como se alguém estivesse esmagando meu coração com as mãos. O ar faltava. O mundo girava.

Me joguei contra a parede, bati os punhos nela, gritei, urrando de dor, de raiva, de desespero. Eu queria quebrar tudo, queria sair dali.

— VOCÊ TÁ MENTINDO! — gritei, sem forças. — Você tá mentindo...

Enzo só riu.

— Por que eu mentiria agora? Ele morreu por você. Que belo final de amor, não acha?

Me encolhi no canto, abraçando a camisa como se fosse ele.

***

Os minutos passaram lentos depois que Enzo saiu. Eu fiquei ali no chão, abraçada na camisa do Alessandro, o rosto enterrado no tecido, tentando encontrar qualquer vestígio de perfume no meio do cheiro de sangue seco.

Mas quanto mais o tempo passava, mais a dor aguda no meu peito começava a virar outra coisa.

Dúvida.

Porque... alguma coisa não batia.

Enzo podia ser um monstro, mas era vaidoso. Orgulhoso. O tipo que filmaria a morte do Alessandro só pra me mostrar. E ele não fez isso.

Mostrou uma camisa suja. Uma fala decorada e um olhar cheio de prazer em me ver sofrendo, mas não havia verdade nos olhos dele. Só jogo e tortura.

E se tinha uma coisa que eu conhecia... era dor fingida. E a dele estava toda montada.

“Ele tá vivo... meu Deus, ele tá vivo.”

Senti meu coração bater mais rápido. Me levantei devagar, ainda fraca, mas com a mente mais... clara.

Eu encostei na parede, respirei fundo e olhei em volta, a cela ainda era a mesma. Mas agora... ela era meu tabuleiro.

E eu ia começar a jogar.

***

No dia seguinte, comecei a me transformar na versão que Enzo queria ver.

Mais calma, obediente. Menos gritos, menos desaforos. Quando ele trazia comida, eu aceitava. Quando ele falava, eu ouvia. E sorria de leve, como quem tá se rendendo.

Mas por dentro?

Por dentro eu estava mais acordada do que nunca.

Quando ele saiu, comecei a observar. O capanga da manhã sempre cochilava depois de comer, encostado na cadeira. O da noite ficava no celular, ouvindo funk alto, e às vezes ia fumar lá fora.

O cadeado da cela? Estava enferrujado.

E um dos garfos da comida tinha um dente meio solto.

Roubei ele no almoço e escondi sob o colchão rasgado.

Um passo de cada vez.

“Se ele acha que me quebrou, é porque ainda não entendeu o quanto eu quero sair daqui. E o quanto eu sou capaz de fazer por isso.”

***

Naquela noite, eu fui até o Matheus. Ele estava pálido, febril, com a respiração fraca, mas os olhos ainda se abriram quando eu chamei seu nome.

— Ei... Matheus — murmurei, ajoelhada do lado dele. — Fica firme, tá? A gente vai sair daqui. Eu tô planejando uma forma.

Ele tossiu baixo, o rosto tenso de dor.

— Larissa... não tem jeito. Eu tô ferrado, você precisa ir sozinha. Você consegue se for assim. Só... só não me deixa aqui pra morrer devagar. Dá um jeito... rápido, se puder...

— Cala a boca — eu disse, firme. — Você não vai morrer e eu não vou te deixar. Eu não deixo ninguém que me ajudou pra trás. Entendeu?

Ele me olhou como se não soubesse se ria ou chorava. Mas assentiu devagar.

Até que avisei uma tábua, bem encostada no armário, um pouco mais solta.

Comecei a puxar.

— FILHO DA PUTA! — a voz de Enzo explodiu do lado de fora.

Congelei.

A maçaneta girou com violência.

Soltei a tábua e me arrastei rápido até atrás da estante, que tinha uma brecha, quase tropeçando.

Enzo entrou chutando a porta.

Estava com o braço enfaixado, o rosto suado e furioso. Ele gritava sozinho, andando de um lado pro outro.

—Eu vou fazer aquele desgraçado pagar... vou fazer aquele maldito assistir enquanto eu termino o que comecei com a vadia! Por pouco eu não o matei.

Meu coração quase pulou da garganta.

Alessandro tava vivo. Era mentira. Ele mentiu. EU TINHA RAZÃO.

Senti uma lágrima quente cair, mas me forcei a ficar imóvel. Eu não podia vacilar agora.

Enzo abriu o armário de armas e pegou duas pistolas, carregando com movimentos secos. Depois pegou uma bolsa e jogou dentro.

— Eles acham que ganharam. — rosnou, olhando o quarto como se buscasse alguma coisa. — Mas hoje eu acabo com isso.

Saiu batendo a porta com força.

Esperei. Vinte segundos. Trinta.

Aos poucos saí, devagar. Voltei pra tábua ainda solta.

Levantei e debaixo dela, tinha uma caixa com um envelope sujo de poeira, grosso e pesado.

Peguei, abri só uma fresta pra ver o conteúdo.

Cheques. Extratos. Fotos. Um contrato com a assinatura de Chiara.

Era real.

“Com isso... eu acabo com vocês.”

Fechei o envelope e enfiei por dentro da calça, prendendo com o elástico, escondido pela camisa larga. Recoloquei a tábua no lugar, tentando não deixar nada fora do lugar.

Me arrastei de volta até a porta, abri só uma fresta. Silêncio.

Corri pelo corredor com o coração martelando nas costelas.

Voltei pelo caminho de antes. Entrei e fechei a grade de novo, deixando-a semi-aberta, como estava.

— Consegui. — sussurrei, ajoelhando ao lado dele. — Eu consegui.

Matheus abriu os olhos, sem força, mas sorriu.

— Então... a gente ainda tem uma chance.

Agarrei sua mão.

— E vamos usar até o fim.

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