Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 111

O mundo parecia meio desfocado quando abri os olhos.

A dor na cabeça latejava leve, e eu senti o gosto metálico do sangue na boca. Levei a mão ao rosto percebendo que tinha cortado o lábio. O cinto ainda me prendia, e por um instante fiquei ali, só ouvindo o som do motor engasgando e a respiração pesada escapando de mim.

Tentei focar.

Merda… o carro.

O cheiro de terra molhada e fumaça de motor queimado entrou pelas narinas.

Me forcei a sair.

A porta rangia, presa, mas empurrei com força e consegui abrir. Saí cambaleando um pouco, minhas pernas vacilando sob o próprio peso.

Olhei em volta e o carro estava completamente amassado na lateral. A árvore parecia ter engolido metade do para-choque. Farol pendurado, capô torto, vidro estilhaçado.

Respirei fundo, esfregando o rosto com raiva de mim mesmo.

Foi quando ouvi um som de pneus freando atrás de mim.

— Ei! — um homem gritou, saindo de um carro prata que parou no acostamento. — Você está bem?

Virei o rosto devagar e assenti com a cabeça, mesmo sentindo o corpo inteiro protestar.

— Tô… tô bem sim. — falei, tentando soar mais firme do que realmente estava.

Ele se aproximou um pouco mais, franzindo o cenho ao olhar pra mim e depois pro carro.

— Cara… você teve sorte. Se pega de frente, não tava em pé aqui agora.

— É. — respondi baixo, limpando o sangue do lábio com as costas da mão. — Foi por pouco.

Peguei o celular do bolso da calça, que ainda vibrava com notificações de mensagens não lidas. Tinha uma trinca na tela, mas ainda funcionava. Disquei rápido o número do meu assistente.

— Preciso que venham buscar meu carro. Bati feio, ele tá no acostamento da BR-020, perto da entrada do km 217. Manda um reboque e providencia outro carro pra mim. Com urgência.

O homem ainda me olhava, preocupado.

— Quer que eu chame uma ambulância? Ou alguém pra te levar até um hospital?

— Não. — balancei a cabeça. — Tô bem. Foi só uns arranhões. E tenho pressa.

Ele assentiu com um meio sorriso, meio desconfiado.

— Tá certo. Mas se começar a ver estrelas, senta e descansa, hein? Às vezes o susto vem depois.

— Obrigado. Mas eu já vi estrelas demais por hoje. — tentei ironizar, e ele riu fraco, já voltando pro carro dele.

Fiquei ali parado, encarando o estrago.

Meus dedos estavam tremendo. Não sei se de adrenalina, de raiva ou da culpa que fervia como ácido dentro de mim.

Tudo o que o Cauã disse… cada palavra ainda ecoava dentro da minha cabeça.

Chiara. Matheus. Enzo. A fortuna. O pai deles morto…

E a possibilidade maldita de que a mulher que eu achei que conhecia, que eu amei por tanto tempo, tivesse sido a responsável por tudo isso.

Fechei os olhos por um instante.

Larissa…

Onde você tá?

Eu precisava ir atrás da Chiara. Agora. Mesmo que fosse a última coisa que eu fizesse hoje.

Ela sabia de alguma coisa. E se ela tivesse alguma chance de ajudar a encontrar a Larissa, mesmo sem querer, eu ia arrancar essa chance dela.

— Foi isso ou colocar a vida da Margarida em risco. Ela estava transtornada.

Virei de uma vez para a Margarida, que ainda chorava, trêmula. Me agachei ao lado dela, tentando controlar minha própria respiração.

— Margarida... me diz o que aconteceu. Devagar.

Ela enxugou os olhos com o avental, a voz trêmula.

— Eu... eu só fui levar o almoço pra ela no quarto, como sempre. Ela estava quieta, parecia nervosa. Quando eu entrei, ela... ela puxou a faca da bandeja e mandou eu descer com ela. Disse que precisava sair dali, que ninguém podia impedi-la...

Ela começou a chorar de novo.

— Ei, tá tudo bem agora. — falei, tentando soar calmo, mesmo que meu coração estivesse um caos. — Você foi muito corajosa, Margarida. Vai descansar, tá? Isso não é culpa sua.

Ela assentiu devagar e o segurança a ajudou a se levantar, guiando-a pra dentro.

Me levantei, ainda tremendo de ódio. Virei pra Levi.

— Manda mais gente atrás dela. Agora. Se já mandou dois grupos, manda quatro. Coloca drone, rastreia tudo. Eu quero aquela desgraçada encontrada hoje ainda!

— Já estamos no rastreamento, senhor. Mas... ela saiu a pé, pode ter pegado algum carro na estrada, não temos confirmação.

— Então se virem! — gritei. — Acha essa mulher, Levi! Ela sabe de alguma coisa. Ela tá envolvida com tudo isso... e Larissa pode estar em perigo por causa dela.

Levi assentiu firme, já pegando o rádio e começando a dar ordens rápidas.

Fiquei parado ali por alguns segundos, o vento gelado batendo no meu rosto quente de raiva.

Meu peito subia e descia com força. Eu olhava em volta, como se Chiara fosse aparecer a qualquer momento, com aquele ar inocente e falso.

Mas agora eu sabia. Ela não era inocente. Ela nunca foi.

E se ela fez tudo isso… O que mais ela é capaz de fazer?

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