O mundo parecia meio desfocado quando abri os olhos.
A dor na cabeça latejava leve, e eu senti o gosto metálico do sangue na boca. Levei a mão ao rosto percebendo que tinha cortado o lábio. O cinto ainda me prendia, e por um instante fiquei ali, só ouvindo o som do motor engasgando e a respiração pesada escapando de mim.
Tentei focar.
Merda… o carro.
O cheiro de terra molhada e fumaça de motor queimado entrou pelas narinas.
Me forcei a sair.
A porta rangia, presa, mas empurrei com força e consegui abrir. Saí cambaleando um pouco, minhas pernas vacilando sob o próprio peso.
Olhei em volta e o carro estava completamente amassado na lateral. A árvore parecia ter engolido metade do para-choque. Farol pendurado, capô torto, vidro estilhaçado.
Respirei fundo, esfregando o rosto com raiva de mim mesmo.
Foi quando ouvi um som de pneus freando atrás de mim.
— Ei! — um homem gritou, saindo de um carro prata que parou no acostamento. — Você está bem?
Virei o rosto devagar e assenti com a cabeça, mesmo sentindo o corpo inteiro protestar.
— Tô… tô bem sim. — falei, tentando soar mais firme do que realmente estava.
Ele se aproximou um pouco mais, franzindo o cenho ao olhar pra mim e depois pro carro.
— Cara… você teve sorte. Se pega de frente, não tava em pé aqui agora.
— É. — respondi baixo, limpando o sangue do lábio com as costas da mão. — Foi por pouco.
Peguei o celular do bolso da calça, que ainda vibrava com notificações de mensagens não lidas. Tinha uma trinca na tela, mas ainda funcionava. Disquei rápido o número do meu assistente.
— Preciso que venham buscar meu carro. Bati feio, ele tá no acostamento da BR-020, perto da entrada do km 217. Manda um reboque e providencia outro carro pra mim. Com urgência.
O homem ainda me olhava, preocupado.
— Quer que eu chame uma ambulância? Ou alguém pra te levar até um hospital?
— Não. — balancei a cabeça. — Tô bem. Foi só uns arranhões. E tenho pressa.
Ele assentiu com um meio sorriso, meio desconfiado.
— Tá certo. Mas se começar a ver estrelas, senta e descansa, hein? Às vezes o susto vem depois.
— Obrigado. Mas eu já vi estrelas demais por hoje. — tentei ironizar, e ele riu fraco, já voltando pro carro dele.
Fiquei ali parado, encarando o estrago.
Meus dedos estavam tremendo. Não sei se de adrenalina, de raiva ou da culpa que fervia como ácido dentro de mim.
Tudo o que o Cauã disse… cada palavra ainda ecoava dentro da minha cabeça.
Chiara. Matheus. Enzo. A fortuna. O pai deles morto…
E a possibilidade maldita de que a mulher que eu achei que conhecia, que eu amei por tanto tempo, tivesse sido a responsável por tudo isso.
Fechei os olhos por um instante.
Larissa…
Onde você tá?
Eu precisava ir atrás da Chiara. Agora. Mesmo que fosse a última coisa que eu fizesse hoje.
Ela sabia de alguma coisa. E se ela tivesse alguma chance de ajudar a encontrar a Larissa, mesmo sem querer, eu ia arrancar essa chance dela.
— Foi isso ou colocar a vida da Margarida em risco. Ela estava transtornada.
Virei de uma vez para a Margarida, que ainda chorava, trêmula. Me agachei ao lado dela, tentando controlar minha própria respiração.
— Margarida... me diz o que aconteceu. Devagar.
Ela enxugou os olhos com o avental, a voz trêmula.
— Eu... eu só fui levar o almoço pra ela no quarto, como sempre. Ela estava quieta, parecia nervosa. Quando eu entrei, ela... ela puxou a faca da bandeja e mandou eu descer com ela. Disse que precisava sair dali, que ninguém podia impedi-la...
Ela começou a chorar de novo.
— Ei, tá tudo bem agora. — falei, tentando soar calmo, mesmo que meu coração estivesse um caos. — Você foi muito corajosa, Margarida. Vai descansar, tá? Isso não é culpa sua.
Ela assentiu devagar e o segurança a ajudou a se levantar, guiando-a pra dentro.
Me levantei, ainda tremendo de ódio. Virei pra Levi.
— Manda mais gente atrás dela. Agora. Se já mandou dois grupos, manda quatro. Coloca drone, rastreia tudo. Eu quero aquela desgraçada encontrada hoje ainda!
— Já estamos no rastreamento, senhor. Mas... ela saiu a pé, pode ter pegado algum carro na estrada, não temos confirmação.
— Então se virem! — gritei. — Acha essa mulher, Levi! Ela sabe de alguma coisa. Ela tá envolvida com tudo isso... e Larissa pode estar em perigo por causa dela.
Levi assentiu firme, já pegando o rádio e começando a dar ordens rápidas.
Fiquei parado ali por alguns segundos, o vento gelado batendo no meu rosto quente de raiva.
Meu peito subia e descia com força. Eu olhava em volta, como se Chiara fosse aparecer a qualquer momento, com aquele ar inocente e falso.
Mas agora eu sabia. Ela não era inocente. Ela nunca foi.
E se ela fez tudo isso… O que mais ela é capaz de fazer?
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...