(Alessandro)
Eu fechei a porta de casa com um estalo seco e encostei as costas ali por um instante. Aquele silêncio me envolveu e, pela primeira vez em dias, senti o peso do meu corpo cobrar o preço.
Tinha passado horas no hospital, depois mais horas com o Gabriel até ele finalmente adormecer. Ele estava bem, mas... meu Deus, como eu estava exausto.
Não era só físico, era tudo. A mente, os sentimentos, a maldita impotência que me corroía por dentro.
Subi as escadas sem acender as luzes. Eu conhecia aquele lugar de olhos fechados e, no fundo, acho que precisava da penumbra pra não encarar a bagunça que eu estava.
Entrei no banheiro, tirei a roupa devagar, os músculos tensionados reclamando em cada movimento. O curativo colado à lateral do meu abdômen estava ali, molhado de leve suor. Minha pele ainda sensível, o corpo... esvaziado, literalmente.
Liguei o chuveiro no quente e quando a água caiu sobre mim, fechei os olhos. Queria que ela levasse tudo embora o sangue, a dor, os pensamentos.
Mas claro que não levou.
A imagem da Larissa vinha toda vez que eu piscava. O jeito que ela me olhou pela última vez.
Ela foi atrás dele. Será que ela...?
Não. Não pode ser. Meu maxilar travou.
Mas e se...? E se ela realmente estava disposta a seguir em frente com outro homem? Dormir com ele? Deixá-lo tocar o corpo dela... o corpo que foi meu por tanto tempo? Que eu desejei, que eu senti falta, que eu sonhei em tocar de novo por quatro malditos anos?
Eu dei um soco na parede. Não foi forte, não queria me machucar mais do que já estava, mas precisava extravasar com alguma coisa.
Eu sou um hipócrita. Toquei outra mulher, beijei, transei, tentei seguir em frente. Por que ela não teria o direito?
Porque... porque ela era minha. Sempre foi.
Passei as mãos molhadas no rosto, com raiva, eu não podia pensar nisso agora. Primeiro eu precisava encontrar a Larissa, ver ela bem. Depois eu resolvia esse turbilhão que me consumia.
Então eu senti as mãos subindo pelo meu corpo. Abri os olhos alarmados e vi Chiara, ajoelhada no chão do box, os lábios deslizando pelo meu abdômen. A água quente a encharcar também, deslizando pelo seu corpo nú.
— Chiara...? — minha voz saiu num rosnado rouco.
— Shhh... — ela sussurrou. — Deixa eu cuidar de você... ajudar a te relaxar.. você não devia estar molhando o curativo, Alessandro... deixa que eu cuido disso.
Ela foi pra baixo de novo, mas quando me tocou, foi como um choque. Um incômodo visceral.
Eu recuei de imediato, segurando os ombros dela.
— Chega. — falei firme.
Ela me olhou confusa, os olhos já marejando.
— O que foi? Eu só quero te ajudar. Você tá cansado, estressado., eu pensei... — ela parou, mordendo o lábio.
— Chiara, não agora. Não é hora.
Ela começou a chorar. As lágrimas se misturavam com a água do chuveiro.
— Você não me ama mais, né...? — a voz dela tremia. — Eu não queria acreditar, mas... você não me ama. Você sempre amou a Larissa esse tempo todo. Mesmo depois de tudo, depois que ela voltou... você continuou amando ela.
— Chiara, pelo amor de Deus... — eu desliguei o chuveiro e saí, pegando a toalha e enrolando na cintura. — Não é sobre isso.
Ela me seguiu toda molhada, ainda chorando e se jogou nos meus braços, me beijando com desespero, segurando a minha cabeça com força.
— Por favor, Alessandro... não faz isso comigo...
Eu a segurei pelos braços de maneira firme e então a afastei, jogando-a de leve na cama. Ela caiu sentada, molhando o lençol, com os olhos arregalados.
— Chega. — falei, num tom baixo e grave. — Você precisa parar.
— Por quê? — ela choramingou. — Você não quer mais? Você nem quer tentar? Por quê? Por causa dela?
Suspirei, desviando o olhar. Não queria ferir ainda mais... mas era inevitável.
— Eu ainda não conversei com você sobre os Rossi.
Ela congelou. Literalmente. Os olhos dela se arregalaram, a expressão apagou todo o drama de segundos atrás e ficou branca.
A raiva me atingiu com força e cerrei os punhos.
— Cala a boca, Chiara! — gritei de volta. — Não fala uma merda dessas! Você perdeu a noção?
— Por que não posso falar, hein? O que acontece se ela morrer? Você vai sofrer? Vai se afundar de vez nessa obsessão por ela?
— Que droga, Chiara! — dei um passo em direção a ela. — Você tá escondendo alguma coisa! Por isso ele tá atrás de você! E agora ele tá com ela também e eu não entendo porra nenhuma disso! Então fala!
Ela tremia e chorava, mas não disse nada.
— Fala! — insisti.
— Eu já disse que não sei! — ela gritou de volta, o rosto rubro de raiva. — Eu não sei, Alessandro! Eu juro!
Eu a encarei por longos segundos, o peito subindo e descendo com força. Ela parecia um animal encurralado, assustada e com raiva do mundo.
Vi nos olhos dela que dali não ia sair mais nada. Por enquanto.
Suspirei, peguei a chave no bolso e destranquei a porta.
Antes de sair, virei o rosto uma última vez em direção a ela.
— Você não vai sair dessa casa. — disse seco.
— Você vai me manter presa agora? — ela rebateu, amargurada, com os olhos marejados.
— É só pro seu bem. — respondi, já fechando a porta.
Desci as escadas ignorando a dor no abdômen, a queimação no curativo e o gosto amargo na boca. Eu tinha ido pra casa pra tentar descansar um pouco, me recompor... mas era impossível.
Peguei a chave do carro no balcão e saí. A próxima parada era a clínica. Cauã talvez soubesse de algo que eu ainda não tinha enxergado.
E eu precisava de respostas, antes que fosse tarde demais.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...