Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 107

(Larissa)

Minhas mãos ardiam. A corda apertava meu pulso num ponto que já nem dava pra saber o que era dor e o que era dormência. Eu tentava respirar devagar, manter a calma. Surtar não ia me tirar dali. Surtar não ia trazer Paula de volta. Surtar só me faria perder o pouco de controle que ainda restava.

O céu começava a clarear por trás da janela coberta com uma tábua de madeira, finos feixes de luz tentando furar as frestas. A noite tinha passado... eu tinha sobrevivido. Mas a que custo?

Me mexi devagar, sentada no chão frio, as costas encostadas na parede úmida. Estava trancada ali desde que tudo aconteceu. Desde que eles mataram Paula. Desde que colocaram a touca na minha cabeça, me amarraram como um animal e me jogaram nesse quarto sujo.

Eu fui até a clínica porque precisava saber. Eu ouvi o Rafael e o Diogo conversando. Aquilo me corroeu por dentro. E aí o Enzo me ligou, com a voz fraca, pedindo por ajuda.

E eu, idiota, fui.

Achei que talvez, se eu olhasse nos olhos dele, eu soubesse. Se ele fosse mesmo o responsável por quase matar meu filho... eu precisava encarar. Precisava entender o porquê.

Mas agora... agora eu estava presa.

O ruivo tossiu. Fraco, rouco e acordou.

Ele se mexeu, olhou ao redor com o rosto confuso, os olhos claros ainda pesados da sedação.

— Que merda... — murmurou, tentando se levantar. Mas logo levou a mão à costela e resmungou de dor. — O que aconteceu? Onde a gente tá?

Suspirei, tentando ajeitar o corpo.

— Invadiram a clínica — minha voz saiu baixa, arranhada. — Mataram todo mundo e trouxeram a gente.

Ele me olhou, ainda tentando juntar as peças.

— Olha, eu...

— Não precisa, — cortei, levantando o olhar até ele. — Eu já sei.

— Como assim... sabe?

— A tatuagem, — disse, apontando com o queixo pro pulso dele. — Um trevo. Eu achei estranho desde o começo. E... eu ouvi algumas coisas. Pessoas falando sobre o Enzo... sobre ele ter matado o pai de vocês.

Ele piscou, confuso. Quase assustado.

— Você... ouviu isso?

— Ouvi. E não quis acreditar. Mas quando vi a tatuagem... o jeito como você me olhava, como hesitava... eu senti. Você não é o Enzo. Você é o Matheus, não é?

Ele ficou em silêncio por alguns segundos. O suficiente pra eu ter certeza de que estava certa.

— Como você descobriu isso assim...? — ele perguntou, a voz baixa, quase impressionada.

— Instinto, — respondi. — De mãe. De mulher. E de alguém que passou tempo demais ouvindo mentiras. Mas... eu fui burra. Burra demais.

Apertei os olhos, a garganta travando. A culpa me sufocava.

— Eu devia ter falado com o Rafael, com o Diogo. Devia ter deixado eles lidarem com isso. Mas não... eu fui atrás. Achei que podia controlar a situação. Achei que ia conseguir respostas.

Engoli em seco, sentindo a pele arder nas amarras.

— E agora a gente tá aqui, presos e eu nem sei o motivo.

Virei o rosto pra ele, encarando seu semblante cansado, mas atento.

— Por que ele tá atrás de mim, Matheus? O que eu fiz? Por que o seu irmão quer me machucar?

Matheus abriu a boca. Respirou fundo, como se procurasse palavras... mas antes que qualquer som escapasse, ouvimos.

A porta, ela rangeu.

Meus olhos se arregalaram.

Matheus também se enrijeceu.

Alguém estava vindo.

Cada músculo meu gritou em alerta.

Os passos foram lentos... quase preguiçosos. Como se quem estivesse vindo saboreasse o momento. A luz fraca do corredor entrou primeiro, depois a silhueta dele.

Um homem alto, barba mal feita, olhos escuros e um sorriso cínico, daqueles que a gente reconhece como puro veneno. Ele carregava a arrogância de quem tinha o controle.

— Ah... que bom que o dorminhoco acordou, — ele disse, com a voz arrastada e debochada. — O chefe vai adorar saber disso. Tem umas perguntinhas que você vai adorar responder, Matheus.

Matheus levantou o rosto, a expressão endurecida.

— Vai se ferrar, — rosnou entre os dentes.

O sorriso do homem se alargou.

Sem aviso, ele deu um passo à frente e chutou o estômago de Matheus com força. O som seco do impacto me fez prender a respiração.

— Filho da…! — Matheus curvou o corpo, tossindo de dor, tentando respirar.

— Você é nojento e louco. — minha voz tremeu, mas eu não parei. — Você quase matou meu filho! E agora vem falar de amor?

O tapa veio como uma onda. Rápido, violento.

Minha cabeça girou com o impacto, e o gosto metálico do sangue se espalhou pela minha boca. Senti a pele latejar. Mas não chorei. Eu não ia dar isso pra ele.

— Cala a boca, — ele sibilou.

Ele voltou a se aproximar, tentando tocar meu rosto de novo. Eu me afastei, mas ele não parou. A mão dele segurou meu cabelo com força, puxando, forçando meu rosto pra cima.

— Você vai me amar, Larissa. Vai sim. Você amou aquele desgraçado do seu marido, não amou? Então vai amar a mim também.

Minha saliva se acumulou na boca, e eu cuspi nele.

O silêncio que se seguiu foi gelado.

Ele passou os dedos no rosto sujo com minha saliva. Olhou, como se processasse aquilo, e então sorriu. Mas não era mais um sorriso divertido. Era algo mais sombrio. Mais... doente.

— Eu nunca vou amar um homem como você, — eu cuspi as palavras. — Eu tenho nojo de você. E o Alessandro... o Alessandro é meu ex-marido. Por que você quer me usar pra atingir ele? Ele ama a Chiara, não a mim!

Enzo parou.

Respirou fundo.

Depois, riu.

— Aquele desgraçado amou a Chiara no passado. Mas sabe o que ele não fez até hoje?

Ele se abaixou de novo, colando o rosto no meu.

— Ele nunca assinou o divórcio.

Meu coração congelou no peito.

— Você tá mentindo.

— Acha mesmo? — ele sussurrou. — Vai lá perguntar pra ele... se conseguir sair viva daqui.

Eu olhei pra ele, em choque. O rosto ardendo, o sangue latejando, a alma em pedaços. Mas mesmo naquele momento... no fundo, uma chama começou a queimar. Não de medo.

De raiva.

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