Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 106

(Alessandro)

O carro parou em frente à clínica e eu fui o primeiro a descer. A sirene da polícia ainda piscava lá na frente, mas o lugar estava em silêncio. Um silêncio pesado. Como se o próprio ar tivesse sido arrancado de dentro daquele prédio.

Diogo e Fernando vieram logo atrás de mim. Caminhamos entre os policiais e a fita de isolamento. Os olhos dos oficiais me seguiam, sabiam quem eu era, mas ninguém teve coragem de me parar.

— Jesus... — Diogo murmurou ao passar pela porta escancarada.

Aquilo parecia cena de guerra.

Tiros por todos os lados. Marcas de sangue no chão e nas paredes. Os vidros da recepção estavam estilhaçados, e o balcão parecia ter sido usado como abrigo por alguém. No canto, uma poça de sangue ainda fresca. Eu nem precisei perguntar de quem era.

Engoli em seco.

A adrenalina me impedia de sentir a dor da cirurgia recente, mas meu corpo inteiro parecia gelado.

Atravessamos o corredor, passando por uma porta arrombada. A luz do teto piscava, intermitente, lançando sombras distorcidas por todo lado. Uma maca estava jogada no canto, lençóis ensanguentados ainda sobre ela. Alguns equipamentos quebrados, uma seringa caída no chão e um monitor cardíaco apitando uma linha reta.

— Alguém foi removido daqui às pressas. — Fernando comentou.

Meu estômago virou.

— Você acha que era a Larissa? — murmurei, me aproximando da maca.

Fernando se aproximou com o Ipad em mãos e me entregou.

— As imagens das câmeras. — disse. — Conseguimos recuperar parte dos arquivos antes do sistema ser derrubado.

Peguei o tablet com as mãos trêmulas. Diogo se aproximou, olhando por cima do meu ombro.

Apertei o play.

E lá estava ela.

Larissa.

Sozinha e caminhando pela recepção. Nervosa, olhando pro celular. Ela perguntava algo pro recepcionista. Eu reconheci aquele olhar, era desconfiança. Desconforto. O instinto dela já gritava que tinha algo errado.

Avançamos o vídeo.

Ela entrou em um dos corredores e depois... o caos.

O tiroteio. Ela se abaixando, se protegendo com uma mulher, provavelmente médica. Se escondendo atrás do balcão. O recepcionista tentando fugir. Eu prendi a respiração quando ele levou os tiros ali, bem na frente dela. Larissa cobriu a boca, em choque. O vídeo parecia uma maldita cena de filme.

Minha garganta apertou.

— Filha da puta... — murmurei, quando vi ela correndo até uma porta de internação.

— É aqui. — Diogo apontou, reconhecendo o mesmo quarto que estávamos.

Avançamos mais.

Larissa entrou correndo no quarto, se jogou ao lado de um homem na maca. Eu sabia que era o Enzo. Ela parecia... aflita. Desesperada. Inferno, ela parecia preocupada com ele.

Meu estômago revirou de novo.

E então...

Dois homens armados entraram na sala. Um deles matou a médica com um tiro no peito. Eu vi Larissa gritar e quase larguei o iPad no chão. O som estava desligado, mas eu podia ouvir o grito dela na minha cabeça como se estivesse ali.

Ela levou um tapa e me contorci. Eu ia matar o filho da puta que fez isso com ela.

Ela foi forçada a colocar uma touca preta, depois amarraram as mãos dela. Levaram ela e Enzo. Como se fossem objetos. Como se a vida dela não valesse nada.

Quando o vídeo acabou, fiquei parado por alguns segundos. O tablet ainda estava na minha mão.

— Talvez... — Fernando começou. — Talvez isso tenha ligação com o irmão do Enzo. Matheus Rossi.

Diogo balançou a cabeça.

— Não. Não, não é possível. O Matheus não é assim. Ele é... diferente. Talvez, seja Enzo quem está por trás de tudo isso.

— Você tá insinuando que aquele na maca era o Matheus? — perguntei, encarando Diogo.

Ele hesitou e engoliu em seco.

— Pode ser. O Matheus sumiu faz dias. E Enzo é doente o suficiente pra fazer algo assim com o próprio irmão.

Senti meu sangue ferver e minha visão escureceu por um segundo.

— FILHO DA PUTA! — explodi, socando a parede com toda a força.

A dor veio de imediato, mas eu não me importei. Tudo dentro de mim era raiva. Raiva e medo.

— Toda essa merda... toda essa confusão. Por quê? — murmurei, com a voz falha. — Por que a Larissa? Por que ela?

Ninguém respondeu.Porque ninguém sabia.

— Pai, olha quem chegou!

Travei outra vez.

Senti meu maxilar endurecer no mesmo instante, o sangue fervendo na minha garganta. Apertei os dedos contra a coxa, tentando não deixar transparecer a raiva que veio feito um soco no estômago.

Rafael olhou pra mim e apenas assentiu com um sorriso educado.

— Tá quase terminando de comer, — ele disse, como se nada tivesse acontecido.

Fui até a cama e me abaixei ao lado de Gabriel, bagunçando o cabelo dele.

— Você tá ficando muito esperto, hein?

Gabriel riu.

— Você sempre bagunça meu cabelo!

— Claro, senão você esquece de mim.

Ele voltou a comer. Depois de algumas garfadas, me olhou de novo.

— Você viu a mamãe?

Olhei pra Rafael por um instante, depois encarei meu filho.

— Vi sim. A mamãe tava muito cansada. Ela ficou aqui com você o tempo todo, lembra? — ele assentiu. — Então foi descansar um pouco em casa. Mas logo, logo, quando acordar, ela volta pra te ver.

Gabriel balançou a cabeça devagar.

— Ela pode dormir comigo depois?

Rafael deu uma risadinha.

— Os médicos vão brigar com a mamãe se ela tentar dormir na sua cama, Gab.

— Mas ela cabe aqui sim, — ele insistiu, sorrindo.

Fiquei ali, ao lado da cama, apenas observando.

Cada traço do rosto dele, cada risada, cada detalhe. E engolindo o peso de tudo que eu não vivi ao lado dele. Não podia mudar o passado... mas eu podia lutar com tudo pelo futuro.

Eu não ia perder mais. Nem o Gabriel. Nem a Larissa.

Histórico de leitura

No history.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra