(Alessandro)
O carro parou em frente à clínica e eu fui o primeiro a descer. A sirene da polícia ainda piscava lá na frente, mas o lugar estava em silêncio. Um silêncio pesado. Como se o próprio ar tivesse sido arrancado de dentro daquele prédio.
Diogo e Fernando vieram logo atrás de mim. Caminhamos entre os policiais e a fita de isolamento. Os olhos dos oficiais me seguiam, sabiam quem eu era, mas ninguém teve coragem de me parar.
— Jesus... — Diogo murmurou ao passar pela porta escancarada.
Aquilo parecia cena de guerra.
Tiros por todos os lados. Marcas de sangue no chão e nas paredes. Os vidros da recepção estavam estilhaçados, e o balcão parecia ter sido usado como abrigo por alguém. No canto, uma poça de sangue ainda fresca. Eu nem precisei perguntar de quem era.
Engoli em seco.
A adrenalina me impedia de sentir a dor da cirurgia recente, mas meu corpo inteiro parecia gelado.
Atravessamos o corredor, passando por uma porta arrombada. A luz do teto piscava, intermitente, lançando sombras distorcidas por todo lado. Uma maca estava jogada no canto, lençóis ensanguentados ainda sobre ela. Alguns equipamentos quebrados, uma seringa caída no chão e um monitor cardíaco apitando uma linha reta.
— Alguém foi removido daqui às pressas. — Fernando comentou.
Meu estômago virou.
— Você acha que era a Larissa? — murmurei, me aproximando da maca.
Fernando se aproximou com o Ipad em mãos e me entregou.
— As imagens das câmeras. — disse. — Conseguimos recuperar parte dos arquivos antes do sistema ser derrubado.
Peguei o tablet com as mãos trêmulas. Diogo se aproximou, olhando por cima do meu ombro.
Apertei o play.
E lá estava ela.
Larissa.
Sozinha e caminhando pela recepção. Nervosa, olhando pro celular. Ela perguntava algo pro recepcionista. Eu reconheci aquele olhar, era desconfiança. Desconforto. O instinto dela já gritava que tinha algo errado.
Avançamos o vídeo.
Ela entrou em um dos corredores e depois... o caos.
O tiroteio. Ela se abaixando, se protegendo com uma mulher, provavelmente médica. Se escondendo atrás do balcão. O recepcionista tentando fugir. Eu prendi a respiração quando ele levou os tiros ali, bem na frente dela. Larissa cobriu a boca, em choque. O vídeo parecia uma maldita cena de filme.
Minha garganta apertou.
— Filha da puta... — murmurei, quando vi ela correndo até uma porta de internação.
— É aqui. — Diogo apontou, reconhecendo o mesmo quarto que estávamos.
Avançamos mais.
Larissa entrou correndo no quarto, se jogou ao lado de um homem na maca. Eu sabia que era o Enzo. Ela parecia... aflita. Desesperada. Inferno, ela parecia preocupada com ele.
Meu estômago revirou de novo.
E então...
Dois homens armados entraram na sala. Um deles matou a médica com um tiro no peito. Eu vi Larissa gritar e quase larguei o iPad no chão. O som estava desligado, mas eu podia ouvir o grito dela na minha cabeça como se estivesse ali.
Ela levou um tapa e me contorci. Eu ia matar o filho da puta que fez isso com ela.
Ela foi forçada a colocar uma touca preta, depois amarraram as mãos dela. Levaram ela e Enzo. Como se fossem objetos. Como se a vida dela não valesse nada.
Quando o vídeo acabou, fiquei parado por alguns segundos. O tablet ainda estava na minha mão.
— Talvez... — Fernando começou. — Talvez isso tenha ligação com o irmão do Enzo. Matheus Rossi.
Diogo balançou a cabeça.
— Não. Não, não é possível. O Matheus não é assim. Ele é... diferente. Talvez, seja Enzo quem está por trás de tudo isso.
— Você tá insinuando que aquele na maca era o Matheus? — perguntei, encarando Diogo.
Ele hesitou e engoliu em seco.
— Pode ser. O Matheus sumiu faz dias. E Enzo é doente o suficiente pra fazer algo assim com o próprio irmão.
Senti meu sangue ferver e minha visão escureceu por um segundo.
— FILHO DA PUTA! — explodi, socando a parede com toda a força.
A dor veio de imediato, mas eu não me importei. Tudo dentro de mim era raiva. Raiva e medo.
— Toda essa merda... toda essa confusão. Por quê? — murmurei, com a voz falha. — Por que a Larissa? Por que ela?
Ninguém respondeu.Porque ninguém sabia.
— Pai, olha quem chegou!
Travei outra vez.
Senti meu maxilar endurecer no mesmo instante, o sangue fervendo na minha garganta. Apertei os dedos contra a coxa, tentando não deixar transparecer a raiva que veio feito um soco no estômago.
Rafael olhou pra mim e apenas assentiu com um sorriso educado.
— Tá quase terminando de comer, — ele disse, como se nada tivesse acontecido.
Fui até a cama e me abaixei ao lado de Gabriel, bagunçando o cabelo dele.
— Você tá ficando muito esperto, hein?
Gabriel riu.
— Você sempre bagunça meu cabelo!
— Claro, senão você esquece de mim.
Ele voltou a comer. Depois de algumas garfadas, me olhou de novo.
— Você viu a mamãe?
Olhei pra Rafael por um instante, depois encarei meu filho.
— Vi sim. A mamãe tava muito cansada. Ela ficou aqui com você o tempo todo, lembra? — ele assentiu. — Então foi descansar um pouco em casa. Mas logo, logo, quando acordar, ela volta pra te ver.
Gabriel balançou a cabeça devagar.
— Ela pode dormir comigo depois?
Rafael deu uma risadinha.
— Os médicos vão brigar com a mamãe se ela tentar dormir na sua cama, Gab.
— Mas ela cabe aqui sim, — ele insistiu, sorrindo.
Fiquei ali, ao lado da cama, apenas observando.
Cada traço do rosto dele, cada risada, cada detalhe. E engolindo o peso de tudo que eu não vivi ao lado dele. Não podia mudar o passado... mas eu podia lutar com tudo pelo futuro.
Eu não ia perder mais. Nem o Gabriel. Nem a Larissa.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...