O tempo parecia ter desacelerado ali dentro.
Já deviam ter se passado umas duas horas desde que eu cheguei naquela maldita clínica, e Enzo ainda estava sedado. O ar parecia mais pesado e eu sentia meu corpo inquieto, como se algo estivesse errado.
Me levantei determinada e fui até a recepção. O mesmo rapaz de antes ainda estava lá, com aquela cara de quem não se importava com nada.
— Oi… você sabe como o Enzo tá? — perguntei.
Ele deu de ombros sem nem me olhar.
— Não sei.
Revirei os olhos, já sem paciência.
— Você pode, por favor, se informar? Eu preciso ir embora, tenho um filho esperando por mim.
Ele enfim me encarou com um olhar meio irritado, como se eu fosse um incômodo. Mas, sinceramente? Eu já não tava nem aí pra cara feia de ninguém.
Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, ouvi passos atrás de mim. A mulher, Paula, descobri que era esse o nome dela, apareceu forçando aquele sorriso fingido, como se tudo ali estivesse dentro do normal.
— Ele está bem, Larissa — disse, se aproximando. — Ainda está sedado, mas os sinais estão estáveis.
Assenti, tentando conter minha irritação.
— Que bom… mas eu preciso ir. Tem algum ponto de ônibus aqui perto?
Ela pareceu hesitar, os olhos piscando rápido.
— Aqui não passa ônibus. Só dá pra ir embora de carro de aplicativo ou táxi.
— E como eu vou chamar um carro se não tem sinal no meu celular?
Ela engoliu seco, e eu continuei:
— Tem Wi-Fi aqui?
— Hã… não sei a senha.
Arqueei as sobrancelhas, cruzando os braços.
— Como assim você trabalha aqui e não sabe a senha?
Ela abriu a boca, mas não respondeu.
Respirei fundo. Não valia a pena discutir. Eu sabia quando estavam tentando me enrolar.
Ajeitei a alça da bolsa no ombro e sorri, tentando não explodir ali mesmo.
— Tudo bem, eu vou a pé. Deve ter alguma coisa por perto. Algum lugar com gente, alguém com celular. Não posso ficar aqui mais.
— Larissa, não é seguro sair essa hora sozinha — disse, dando um passo à frente.
— Vai ficar tudo bem — respondi, tentando passar entre os dois seguranças que agora estavam mais próximos da porta.
Mas eles me bloquearam.
— Ei… o que é isso? — franzi o cenho.
Um dos homens, com uma cara dura e olhar firme, respondeu seco:
— Você não pode sair.
Meu coração começou a acelerar.
— Como assim eu não posso sair? Por quê?
— São ordens.
— Ordens de quem? Do Enzo?
Antes que ele pudesse responder, um carro preto, escuro como a noite, se aproximou da frente da clínica. Meus pelos arrepiaram todos. Um arrepio subiu pela minha espinha, e eu congelei.
Os seguranças instantaneamente ficaram em guarda, uma mão já indo para a cintura, onde provavelmente estavam armados. Algo estava errado. Muito errado.
— O que está acontecendo? — perguntei, olhando de um para o outro, com a voz tremendo.
O segurança olhou pra mim, firme:
— Entre. Agora.
— Não! Eu quero saber o que tá acontecendo! Quem tá nesse carro?
Foi aí que veio o som. Um tiro. Um tiro de verdade. Estalando no ar como um trovão.
— Ai, meu Deus! — gritei, me abaixando instintivamente, o coração quase explodindo no peito.
— Vem comigo! — Paula agarrou meu braço e me puxou pra dentro da clínica.
A porta foi fechada às pressas e os outros seguranças que estavam espalhados saíram correndo, sacando as armas e atirando de volta.
Era como se eu tivesse sido jogada dentro de um filme de ação. O som dos tiros ecoava nos corredores. O vidro da frente estilhaçou, e eu me joguei atrás do balcão com Paula e o recepcionista, que agora estava mais pálido que papel.
— O que tá acontecendo?! — perguntei, desesperada, o peito subindo e descendo rápido. — Quem são essas pessoas? Por que tão atirando? Eu não posso morrer aqui, eu tenho um filho!
Me virei para Paula, sentindo a garganta fechar.
— O que a gente vai fazer?! A gente vai morrer aqui, Paula!
Ela chorava em silêncio, encostada na parede.
— Eu não sei… eu não sei mais o que fazer...
E então ouvimos o som de passos e um pequeno silêncio mortal antes da tempestade voltar. Os tiros agora ecoavam ali dentro, atingindo a porta de madeira, as paredes. Me abaixei, desesperada, tampando os ouvidos.
O som do impacto na porta me fez assustar ainda mais, ela foi escancarada e o corpo de um dos seguranças caiu no chão já sem vida. Paula soltou um gritinho quando dois homens com máscaras pretas entraram, olhando para todo o quarto.
Um deles olhou para Enzo, depois para mim, e por fim para Paula. Ele então apontou a arma na direção dela e parecia que tinha acontecido em câmera lenta.
— Não! Por favor! Eu não sei de nada! Eu só trabalho aqui! NÃO! — ela gritou, implorando com a voz desesperada.
Mas foi tarde demais. Tudo desacelerou. Como se o tempo tivesse congelado.
Vi a bala saindo da arma, cortando o ar… e então perfurando o peito dela. O jaleco branco se tingiu de vermelho em milésimos de segundos e seu corpo foi lançado contra a parede com força.
— NÃÃÃO! — gritei, o som da minha própria voz reverberando nos meus ouvidos. Tudo voltou a acontecer em tempo real, rápido e cruel demais.
Me arrastei para trás, tremendo enquanto ele começou a caminhar na minha direção. Queria correr, mas minhas pernas não obedeciam.
O homem se aproximou, levantou o braço e…
O tapa me pegou com tanta força que senti a visão embaralhar. Um gosto de ferro se espalhou na minha boca e a cabeça latejava. Tive que me segurar na maca para não cair.
— Coloca isso. — ele estendeu uma gorra preta, sua voz grossa e abafada pela máscara.
Minhas mãos tremiam tanto que quase deixei a touca cair. Coloquei, com dificuldade, sentindo minha visão se tornar um túnel escuro.
— Vira as mãos pra trás. — ele ordenou.
Obedeci, sem forças pra resistir.
A dor veio forte quando ele amarrou meus pulsos. O plástico cortava minha pele. Mas eu só conseguia pensar no rosto do meu filho. Gabriel. Meu Deus. Meu filho…
— Pega o ruivo. — ele falou pro outro.
Vi pelas frestas da touca o homem pegar Enzo, colocando-o numa maca móvel com pressa.
— Anda. Vai. — senti a arma empurrando minhas costas.
Caminhei. Meus pés tropeçavam, o chão parecia girar. O gosto do medo subia pela garganta. As lágrimas desciam quentes, mas silenciosas. Já não dava mais pra gritar.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...