Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 103

(Larissa)

A porta se abriu de leve, e uma mulher alta, magra, com o cabelo preso num coque firme, entrou na pequena recepção.

— Larissa? — perguntou, olhando direto pra mim.

Me levantei, meio hesitante, ajeitando a bolsa no ombro.

— Sou eu.

Ela assentiu, séria.

— Pode me acompanhar, por favor?

Olhei ao redor. O lugar era estranho. Não parecia exatamente um hospital... e agora que eu parava pra pensar, Enzo nunca tinha dito que viria a uma clínica. Só disse que estava ferido, sozinho, e que precisava de mim. A voz dele tremia tanto ao telefone...

“Por favor, Lari... só vem. Eu não tenho mais ninguém aqui.”

Suspirei. Eu já estava me arrependendo. Tinha deixado o Gabriel com Cathe, prometido que voltava em menos de uma hora. Isso aqui era pra ser rápido. Uma visita rápida pra saber se ele estava bem e pronto.

Mas algo estava errado.

Segui a mulher pelo corredor. Reparei nos homens parados próximos às portas, seguranças, aparentemente. Todos sérios, armados. O lugar inteiro parecia silencioso demais, estéril demais.

— Ele é tão importante assim pra ter segurança desse jeito? — perguntei, tentando soar casual, mas minha voz saiu um pouco tensa.

A mulher não respondeu. Só olhou pra frente e continuou andando. Aquilo me deixou ainda mais nervosa.

Até que a porta da sala se abriu.

E o que vi lá dentro fez meu estômago despencar.

— Enzo... meu Deus...

Corri até ele sem pensar. O rosto estava completamente deformado com hematomas, cortes e inchaço. Os dois olhos mal abriam. O braço esquerdo tinha feridas abertas, como se tivessem usado uma faca. Ele parecia... ele parecia ter sido espancado brutalmente.

— O que aconteceu com você? Quem fez isso? — perguntei, me inclinando ao lado da maca.

Ele se mexeu, mas os lábios mal se moviam. Murmurava palavras desconexas, sem sentido. Algo como “Você…. precisa....”.

O que eu preciso?

— Nós vamos precisar sedá-lo — disse a mulher que me trouxe. — Ele está desorientado, e precisamos cuidar dessas feridas com calma.

— O que aconteceu com ele? — perguntei, sentindo a respiração apertar. — Foi um assalto? Um ataque?

— Não sabemos. Só o trouxeram assim. Está claro que alguém o machucou, mas ele ainda não consegue explicar nada.

Um arrepio subiu pelas minhas costas. Aquilo não fazia sentido. Enzo não tinha voltado pra Itália? O que ele ainda tava fazendo aqui? E... se não foi um assalto...

E se foi a mesma pessoa que machucou a mim e ao Gabriel?

Me aproximei mais da maca, engolindo o medo.

— Ei... — sussurrei, me abaixando pra olhar bem dentro dos olhos dele. — Você vai ficar bem, tá? Eu tô aqui agora.

Ia me afastar quando senti os dedos dele apertando o meu braço de maneira frágil. Me segurando. Um gesto pequeno, mas que me pegou de surpresa.

— Você vai ficar bem — repeti, sentindo os olhos se encherem d’água. — Vai sim...

Toquei a mão dele com cuidado, apertando de volta, tentando passar alguma segurança... e foi aí que notei.

Uma tatuagem no pulso dele.

Um trevo.

Franzi o cenho. Eu nunca tinha visto aquilo antes. Enzo tinha uma tatuagem no braço, mas era no braço direito e maior. Será que era nova? Ou eu que nunca reparei?

Algo dentro de mim começou a gritar, mas eu ignorei. Pelo menos por agora. Ele estava ferido, quase inconsciente. Isso era o que importava.

Mas a sensação de que tinha algo muito errado só aumentava.

Voltei pra recepção meio atordoada e por mais que eu tentasse racionalizar... nada daquilo fazia sentido. Nada mesmo.

Peguei o celular no bolso e destravei a tela com pressa, abrindo direto a conversa com a Cathe.

“Oi, amiga. Como o Gabriel tá? Já jantou? Tô aqui resolvendo umas coisas, mas volto logo.”

Apertei pra enviar.

Nada.

A mensagem não saía.

Franzi o cenho, olhei pro canto da tela e notei que estava sem serviço.

— Ah, ótimo — murmurei pra mim mesma, bufando.

Olhei em volta e vi um rapaz sentado atrás do balcão da recepção, mexendo num tablet. Caminhei até ele, tentando parecer calma.

— Oi... desculpa, você sabe se o sinal aqui é sempre assim ruim? Tentei mandar uma mensagem, mas meu celular tá fora de área.

Ele olhou pra mim, meio preguiçoso, e tirou o próprio celular do bolso. Mexeu um pouco na tela, e depois balançou a cabeça.

— O meu também tá sem sinal — disse, sem emoção. — Aqui sempre foi meio ruim... muita interferência ou sei lá.

— Mas como assim? Isso aqui é uma clínica, como que um lugar médico tem sinal ruim desse jeito?

Ele deu de ombros, como se não fosse problema dele.

— Sei lá. Sempre foi assim.

Silêncio.

Depois, ela perguntou com a voz mais baixa:

— E aquela Larissa?

Senti um calafrio percorrer minha espinha. Meu nome. Meus ouvidos apuraram ainda mais.

— Enzo pediu pra cuidar dela também, — respondeu o homem. — Oferecer o que ela precisar.

Minha respiração aliviou, só um pouco. Pelo menos... não parecia que estavam planejando me machucar. Eu poderia estar ficando louca e vendo coisas onde não deveria.

Ouvi passos vindo na direção da porta e me afastei rápido, voltando pra recepção como se estivesse entrando outra vez, olhando pro celular e disfarcei o pânico que ainda queimava por dentro.

A porta se abriu.

A mulher apareceu, sorrindo, como se nada tivesse acontecido.

— Está tudo bem? — ela perguntou.

Levantei o rosto, forçando um sorriso também.

— Sim... é que eu ainda tô sem sinal no celular, e eu preciso muito falar com meu filho.

Ela deu um risinho leve.

— Ah, sim… o sinal aqui é bem ruim mesmo. Mas se você for até aquele canto perto das janelas do corredor esquerdo, pode ser que consiga. Às vezes pega melhor lá.

— Tá... obrigada. — dei um passo pra trás, ainda desconfiada. — E o Enzo? Como ele tá?

— Ele vai ficar bem — ela disse, quase ensaiado demais. — Estamos cuidando dele com muito carinho. Ele precisa descansar, mas vai se recuperar.

Mordi o lábio inferior.

— E… vocês sabem quem fez aquilo com ele?

A mulher hesitou.

— Não sabemos. Mas o Enzo… ele é um homem poderoso. O nome Rossi tem peso na Itália. E peso atrai problema.

— Vocês chamaram a polícia? — perguntei, fingindo naturalidade.

Ela travou por um segundo. Só um segundo. Mas eu percebi.

— Eu… não sei. Não sou responsável por isso, só estou acompanhando os cuidados dele.

E então, se afastou rápido demais.

Eu fiquei ali, parada. Agora eu sabia que tinha alguma coisa errada.

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