(Larissa)
A porta se abriu de leve, e uma mulher alta, magra, com o cabelo preso num coque firme, entrou na pequena recepção.
— Larissa? — perguntou, olhando direto pra mim.
Me levantei, meio hesitante, ajeitando a bolsa no ombro.
— Sou eu.
Ela assentiu, séria.
— Pode me acompanhar, por favor?
Olhei ao redor. O lugar era estranho. Não parecia exatamente um hospital... e agora que eu parava pra pensar, Enzo nunca tinha dito que viria a uma clínica. Só disse que estava ferido, sozinho, e que precisava de mim. A voz dele tremia tanto ao telefone...
“Por favor, Lari... só vem. Eu não tenho mais ninguém aqui.”
Suspirei. Eu já estava me arrependendo. Tinha deixado o Gabriel com Cathe, prometido que voltava em menos de uma hora. Isso aqui era pra ser rápido. Uma visita rápida pra saber se ele estava bem e pronto.
Mas algo estava errado.
Segui a mulher pelo corredor. Reparei nos homens parados próximos às portas, seguranças, aparentemente. Todos sérios, armados. O lugar inteiro parecia silencioso demais, estéril demais.
— Ele é tão importante assim pra ter segurança desse jeito? — perguntei, tentando soar casual, mas minha voz saiu um pouco tensa.
A mulher não respondeu. Só olhou pra frente e continuou andando. Aquilo me deixou ainda mais nervosa.
Até que a porta da sala se abriu.
E o que vi lá dentro fez meu estômago despencar.
— Enzo... meu Deus...
Corri até ele sem pensar. O rosto estava completamente deformado com hematomas, cortes e inchaço. Os dois olhos mal abriam. O braço esquerdo tinha feridas abertas, como se tivessem usado uma faca. Ele parecia... ele parecia ter sido espancado brutalmente.
— O que aconteceu com você? Quem fez isso? — perguntei, me inclinando ao lado da maca.
Ele se mexeu, mas os lábios mal se moviam. Murmurava palavras desconexas, sem sentido. Algo como “Você…. precisa....”.
O que eu preciso?
— Nós vamos precisar sedá-lo — disse a mulher que me trouxe. — Ele está desorientado, e precisamos cuidar dessas feridas com calma.
— O que aconteceu com ele? — perguntei, sentindo a respiração apertar. — Foi um assalto? Um ataque?
— Não sabemos. Só o trouxeram assim. Está claro que alguém o machucou, mas ele ainda não consegue explicar nada.
Um arrepio subiu pelas minhas costas. Aquilo não fazia sentido. Enzo não tinha voltado pra Itália? O que ele ainda tava fazendo aqui? E... se não foi um assalto...
E se foi a mesma pessoa que machucou a mim e ao Gabriel?
Me aproximei mais da maca, engolindo o medo.
— Ei... — sussurrei, me abaixando pra olhar bem dentro dos olhos dele. — Você vai ficar bem, tá? Eu tô aqui agora.
Ia me afastar quando senti os dedos dele apertando o meu braço de maneira frágil. Me segurando. Um gesto pequeno, mas que me pegou de surpresa.
— Você vai ficar bem — repeti, sentindo os olhos se encherem d’água. — Vai sim...
Toquei a mão dele com cuidado, apertando de volta, tentando passar alguma segurança... e foi aí que notei.
Uma tatuagem no pulso dele.
Um trevo.
Franzi o cenho. Eu nunca tinha visto aquilo antes. Enzo tinha uma tatuagem no braço, mas era no braço direito e maior. Será que era nova? Ou eu que nunca reparei?
Algo dentro de mim começou a gritar, mas eu ignorei. Pelo menos por agora. Ele estava ferido, quase inconsciente. Isso era o que importava.
Mas a sensação de que tinha algo muito errado só aumentava.
Voltei pra recepção meio atordoada e por mais que eu tentasse racionalizar... nada daquilo fazia sentido. Nada mesmo.
Peguei o celular no bolso e destravei a tela com pressa, abrindo direto a conversa com a Cathe.
“Oi, amiga. Como o Gabriel tá? Já jantou? Tô aqui resolvendo umas coisas, mas volto logo.”
Apertei pra enviar.
Nada.
A mensagem não saía.
Franzi o cenho, olhei pro canto da tela e notei que estava sem serviço.
— Ah, ótimo — murmurei pra mim mesma, bufando.
Olhei em volta e vi um rapaz sentado atrás do balcão da recepção, mexendo num tablet. Caminhei até ele, tentando parecer calma.
— Oi... desculpa, você sabe se o sinal aqui é sempre assim ruim? Tentei mandar uma mensagem, mas meu celular tá fora de área.
Ele olhou pra mim, meio preguiçoso, e tirou o próprio celular do bolso. Mexeu um pouco na tela, e depois balançou a cabeça.
— O meu também tá sem sinal — disse, sem emoção. — Aqui sempre foi meio ruim... muita interferência ou sei lá.
— Mas como assim? Isso aqui é uma clínica, como que um lugar médico tem sinal ruim desse jeito?
Ele deu de ombros, como se não fosse problema dele.
— Sei lá. Sempre foi assim.
Silêncio.
Depois, ela perguntou com a voz mais baixa:
— E aquela Larissa?
Senti um calafrio percorrer minha espinha. Meu nome. Meus ouvidos apuraram ainda mais.
— Enzo pediu pra cuidar dela também, — respondeu o homem. — Oferecer o que ela precisar.
Minha respiração aliviou, só um pouco. Pelo menos... não parecia que estavam planejando me machucar. Eu poderia estar ficando louca e vendo coisas onde não deveria.
Ouvi passos vindo na direção da porta e me afastei rápido, voltando pra recepção como se estivesse entrando outra vez, olhando pro celular e disfarcei o pânico que ainda queimava por dentro.
A porta se abriu.
A mulher apareceu, sorrindo, como se nada tivesse acontecido.
— Está tudo bem? — ela perguntou.
Levantei o rosto, forçando um sorriso também.
— Sim... é que eu ainda tô sem sinal no celular, e eu preciso muito falar com meu filho.
Ela deu um risinho leve.
— Ah, sim… o sinal aqui é bem ruim mesmo. Mas se você for até aquele canto perto das janelas do corredor esquerdo, pode ser que consiga. Às vezes pega melhor lá.
— Tá... obrigada. — dei um passo pra trás, ainda desconfiada. — E o Enzo? Como ele tá?
— Ele vai ficar bem — ela disse, quase ensaiado demais. — Estamos cuidando dele com muito carinho. Ele precisa descansar, mas vai se recuperar.
Mordi o lábio inferior.
— E… vocês sabem quem fez aquilo com ele?
A mulher hesitou.
— Não sabemos. Mas o Enzo… ele é um homem poderoso. O nome Rossi tem peso na Itália. E peso atrai problema.
— Vocês chamaram a polícia? — perguntei, fingindo naturalidade.
Ela travou por um segundo. Só um segundo. Mas eu percebi.
— Eu… não sei. Não sou responsável por isso, só estou acompanhando os cuidados dele.
E então, se afastou rápido demais.
Eu fiquei ali, parada. Agora eu sabia que tinha alguma coisa errada.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...