A dor no peito não chegava perto da que eu sentia agora. Era como se meu corpo inteiro estivesse sendo esmagado por dentro, não pela cirurgia, mas por esse maldito sentimento de impotência. Larissa sumiu e ninguém a viu.
E eu aqui, preso numa cama, como um inútil.
Tentei me levantar de novo, empurrando o colchão com os braços, mas a porta se abriu com um baque leve e uma enfermeira entrou.
— Senhor Alessandro, por favor, o senhor precisa se acalmar! — ela correu até mim, a expressão meio assustada, meio irritada.
— Eu preciso sair daqui. — falei com a voz baixa, rouca, mas firme. Nem eu sabia como ainda estava conseguindo falar.
Antes que ela insistisse mais, Rafael voltou com Diogo logo atrás. Meu olhar foi direto para os dois.
— E aí? — perguntei, sentando um pouco mais ereto, o corpo inteiro tensionado.
— Nada — Diogo disse, frustrado, sacudindo a cabeça. — Eu fui até o estacionamento, rodei toda a área externa, chamei por ela, tentei ligar, mas ela não atende. Ninguém viu ela saindo. Mas pedi para verificarem as câmeras. O segurança disse que já tá trazendo as imagens.
Rafael balançou a cabeça, se aproximando.
— Falei com alguns funcionários, mas ninguém viu a Larissa também. Nem no elevador, nem nos corredores.
Soltei um suspiro cansado e levei a mão ao rosto, pressionando os olhos. Era como um pesadelo. Um desgraçado de um pesadelo real.
Mas foi quando abaixei a mão que senti a pontada. Bem ali no lado direito, na cicatriz recém-feita. Baixei os olhos... e vi a mancha vermelha se espalhando no avental hospitalar.
— Droga... — murmurei.
— Senhor Alessandro! — a enfermeira exclamou, vindo correndo de novo. — Deita agora. O senhor está sangrando!
Tentei sair da cama mesmo assim.
— Eu preciso sair. Eu não vou ficar aqui enquanto ela...
— Deita! — ela me empurrou com firmeza. Rafael e Diogo já estavam do meu lado, empurrando meu ombro com cuidado. — Se o senhor continuar assim, vai arrebentar os pontos de vez!
— Deixa de ser teimoso, cara — Diogo falou, num tom firme, me olhando com seriedade. — Você não vai ajudar ninguém se for parar na mesa de cirurgia de novo.
Resmunguei, mas acabei me rendendo e encostei a cabeça no travesseiro. A dor estava piorando. Maldita cirurgia.
A enfermeira levantou o avental, limpou o sangue com uma gaze, e franziu a testa.
— Um dos pontos soltou. Mais um pouco e abriria a cicatriz. O senhor quer voltar pro centro cirúrgico? Porque se continuar nesse ritmo, é pra lá que vai.
— Eu não volto pra cirurgia — murmurei entre os dentes. — Só... costura logo isso aí.
Ela suspirou, visivelmente impaciente com o caos instalado naquele hospital. Mas pegou o que precisava e começou a refazer o ponto com firmeza. Mordi a língua, sentindo a agulha, o ardor, o incômodo... mas isso era fichinha perto da aflição que eu sentia por dentro.
Quando ela terminou, virei o rosto para Diogo.
— Vai atrás das imagens, agora. E manda colocarem dois seguranças na porta do quarto do Gabriel. Ninguém entra lá sem autorização, entendeu?
— Tô indo — ele assentiu de imediato e saiu quase correndo.
Peguei o celular na mesinha ao lado, sentindo minha mão tremer levemente. Droga, porque eu estava tremendo? Que merda era essa?
Rafael olhou pra mim, meio calado, como se estivesse esperando alguma ordem.
— Eu vou lá pro quarto do Gabriel — ele disse, passando a mão no cabelo. — Qualquer coisa, me avisa na hora.
Assenti com a cabeça, sem coragem de falar. O instinto me mandava gritar que quem devia estar com meu filho era eu, não ele. Mas eu não podia me dar ao luxo de fazer uma cena agora.
Rafael deu um último olhar antes de sair do quarto e fechar a porta atrás dele.
A enfermeira voltou logo depois com uma bandeja e um monte de coisa que eu nem quis saber o que era. Entregou uns comprimidos e um copo d’água.
— Tome esses, senhor Alessandro. São pra dor e para evitar infecção.
Peguei o copo, engoli tudo de uma vez. O gosto era amargo, como tudo hoje.
Assim que ela saiu, disquei o número do Fernando. Ele atendeu quase no primeiro toque.
— E aí? — minha voz saiu mais grave do que eu queria. — Conseguiu alguma coisa com o rastreamento?
— Consegui, sim — ele respondeu, firme. — Antes do celular dela desligar, o último sinal foi perto de um hotel, a uns quarteirões do hospital. Hotel Legrand.
Cerrei os punhos com força. O que diabos ela iria fazer em um hotel, com Gabriel no hospital?
— Filho da mãe... — murmurei entre os dentes. A raiva queimava no fundo da garganta. — Ela foi se encontrar com aquele desgraçado.
— Relaxa, Arthur. O Alessandro é amigo do dono do hospital. Ninguém vai nem saber que foi você. Tá tudo sob controle, beleza?
Arthur engoliu seco, assentiu e ligou o iPad. A tela acendeu e ele puxou o vídeo. Me aproximei na mesma hora, com o coração acelerando.
A imagem mostrava Larissa saindo pela porta lateral do hospital. Ela olhava para os lados, segurando o celular, e logo em seguida entrou num carro de aplicativo. A placa apareceu meio borrada, e o motorista estava de boné, o rosto encoberto.
— Droga... — murmurei, cerrando os punhos. — Mal dá pra ver esse desgraçado.
A dor no meu lado deu uma fisgada, mas ignorei. Arthur pausou o vídeo e ficou esperando alguma reação. Diogo deu um passo à frente e agradeceu.
— Valeu mesmo, Arthur. Você ajudou pra caramba. Agora, pode deixar que a gente cuida daqui.
O cara assentiu aliviado e saiu meio rápido, como se quisesse esquecer que esteve aqui.
— Vai dar certo — Diogo disse, se aproximando. — A gente vai encontrar a Larissa. Só não podemos deixar o Enzo perceber que a gente já sacou quem ele é.
— E se ele já souber? — perguntei, baixo, sentindo um aperto no peito. — E se ele não largar ela?
— Talvez ele só... se encontre com ela como das outras vezes e ela vem embora. — Diogo respondeu, esperançoso.
Balancei a cabeça, cansado.
— Eu espero que seja isso. Mas só de imaginar aquele desgraçado encostando nela, beijando ela...
Minha voz falhou por um segundo.
— Está com ciúmes?
Eu respirei fundo e encarei Diogo.
— Isso não é ciúmes. É vontade de matar mesmo. Ele não podia ter tocado nela, porque ela é minha.
Diogo riu. Um riso seco, zombeteiro.
— "Era", Alessandro. Ela era tua. Não é mais.
Fiquei em silêncio, encarando ele. Aquilo doeu mais do que os malditos pontos que ainda ardiam no meu corpo. Mas era verdade. E talvez fosse exatamente isso que tava me destruindo mais do que tudo.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...