POV AMÉLIA.
Após tomar um banho relaxante e quente, sentindo o peso da exaustão se dissipar um pouco, me sentia um pouco mais leve, apesar da avalanche de emoções. Morgana havia me auxiliado a me vestir, me alimentou e, enquanto eu comia, ela limpou e vestiu os nossos quadrigêmeos com uma destreza que só uma avó ou mãe poderia ter. Era estranho pensar nisso. A palavra avó agora parecia ter um novo significado. Eu observava meus filhos dormindo tranquilamente na cama e Magnos ao lado vigiando, seus pequenos corpos encolhidos sob as mantas. Eles estavam seguros, protegidos. Era tudo o que importava no momento.
Morgana se sentou à minha frente, seus olhos, antes sempre misteriosos e calculistas, agora mostravam uma vulnerabilidade que eu nunca havia visto. Ela respirou fundo, como se estivesse se preparando para reviver seu passado.
— Amélia, querida… está na hora de você saber a verdade. — Ela começou, sua voz suave, mas um pouco tensa. Me ajeitei na cadeira, meu coração acelerando com as palavras dela.
— Estou pronta, madrinha. — Falei, com uma mistura de curiosidade e apreensão. Vi Magnos levantar o olhar, atento. Morgana, ou bisavó, hesitou por um momento, como se estivesse escolhendo cuidadosamente as palavras. Então, finalmente, com um suspiro pesado, ela começou:
— Eu estava grávida quando Cassius me abandonou… — A revelação caiu como uma pedra no meu peito. Meu olhar imediatamente foi para Magnos, que ficou visivelmente tenso, os olhos arregalados de surpresa.
— Você estava… grávida? — Minhas palavras saíram baixas, quase como um sussurro, enquanto eu tentava processar a informação. Magnos ficou em silêncio, os punhos cerrados. Eu podia ver os músculos de sua mandíbula se contraindo enquanto ele lutava para controlar suas emoções.
— Sim. E quando ele me deixou para ficar com Eulália, eu estava esperando o filhote dele, nunca tive chance de contar. Aliás, naquele dia, marquei um encontro com Cassius para lhe contar a novidade e lhe fazer uma surpresa. Mas acabei tendo uma terrível surpresa. — Morgana pausou, sua voz embargada de dor. — Tive um menino… Adam. Ele é um híbrido de bruxo e lobo. E, embora eu tenha feito de tudo para mantê-lo seguro, longe da confusão da alcateia, ele sempre soube de suas origens. Ele cresceu no Canadá, onde vive até hoje com sua companheira Lysandra, sua avó Amélia. Adam é seu avô, Amélia. E eu, sua bisavó.
Senti o mundo girar ao meu redor. As palavras dela eram difíceis de acreditar, quase irreais. Meu avô, uma avó, Morgana, bisavó? Adam, o filho de Morgana e... Cassius? Não era apenas difícil de entender, era impossível de conceber naquele momento. Eu me inclinei para frente, segurando a borda da cadeira, tentando encontrar alguma estabilidade no meio daquele turbilhão de emoções.
— Como… como isso é possível? — Minha voz falhou, e meus olhos encheram-se de lágrimas involuntárias. — Você é minha bisavó… e... meu avô está vivo? Por que nunca me contou? — A dor em minha voz era inevitável. Eu sempre achei que minha história começava e terminava com meus pais, Maia e Ravi. Mas agora, descobrir que eu tinha uma linhagem ainda mais profunda, conectada a Morgana, Adam e Cassius, era avassalador. Morgana se levantou e veio até mim, colocando uma mão gentil sobre meu ombro.
— Amélia, eu te amo como se fosse minha própria filha. Guardei esse segredo para protegê-la, para garantir que você crescesse em segurança. Seu avô, Adam, é um ser forte, mas também carrega o fardo de ser um híbrido elemental. Ele sempre teve que viver nas sombras, protegido, porque é muito poderoso. O mundo sobrenatural não perdoa quem é diferente, e Adam era uma ameaça aos olhos de muitos… inclusive de Cassius, se soubesse da sua existência.
Senti um nó se formar em minha garganta, e as lágrimas que eu vinha tentando segurar começaram a descer por meu rosto. A ideia de que minha família era tão fragmentada e cheia de segredos era mais do que eu conseguia processar naquele momento.
— Sei que é muito para processar, Magnos. Mas é a verdade. Agora, com o nascimento de seus filhos, os dons deles… serão diferentes de tudo que já vimos. Eles carregarão o sangue de lobos, bruxos e uma conexão única com o poder ancestral e elemental. Eles precisarão da ajuda de Adam e da minha, assim como Amélia também precisará aprender a controlar os poderes dela. Disse Morgana.
Eu me levantei, sentindo a necessidade de me aproximar de Magnos. Segurei sua mão, sentindo sua tensão através de seu aperto forte, mas hesitante. Estávamos juntos nessa tempestade de revelações, e, por mais confuso e doloroso que fosse, tínhamos que navegar por ela lado a lado.
— Vamos passar por tudo isso juntos, Magnos. — Sussurrei, tentando acalmá-lo. — Não estamos sozinhos nisso. — falei. Ele olhou para mim, seus olhos suavizando por um instante antes de se voltarem para Morgana.
— Quando… — Ele começou, sua voz mais controlada agora. — Quando poderei conhecer Adam? Morgana sorriu levemente, embora houvesse preocupação e tristeza em seus olhos ao relembrar do passado.
— Quando for a hora certa, Magnos. Adam aparecerá. Ele sempre soube onde você estava, e agora, com os quadrigêmeos, ele terá mais um motivo para aparecer. Mas até lá, aproveitem este momento. Vocês são uma família agora. O que vocês construírem juntos será a chave para o futuro.
Magnos assentiu, mas eu sabia que dentro dele ainda havia muitas dúvidas. Dentro de mim também. Contudo, por ora, tudo o que importava era que estávamos juntos, prontos para enfrentar as tempestades que viessem como uma família. Mas comecei a imaginar a reação de Cassius e Eulalia quando soubessem.
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