Comprei um Gigolô e ele era um Bilionário romance Capítulo 101

O jatinho cortava o céu em direção ao Rio de Janeiro, deixando para trás a Serra Gaúcha e seu final de semana caótico. Pela janela, o sol começava a se pôr, pintando as nuvens de rosa e laranja. Em outras circunstâncias, seria um espetáculo que prenderia minha atenção, mas meus pensamentos estavam tão turbulentos quanto o ar que ocasionalmente fazia a aeronave trepidar.

Annelise estava incomumente quieta no assento à minha frente, olhos fixos na tela do celular, embora eu duvidasse que estivesse realmente lendo as mensagens que descia mecanicamente com o polegar. O silêncio entre nós era estranho — Anne raramente ficava sem palavras, sempre pronta com uma piada ou comentário sarcástico.

— Você está bem? — perguntei finalmente, quebrando o silêncio que já durava quase meia hora.

Ela ergueu os olhos, um sorriso forçado se formando em seus lábios.

— Claro, só um pouco cansada. Foi um final de semana... intenso.

— Anne. — Meu tom deixou claro que não aceitaria aquela resposta superficial. — Sou eu. Pode parar com o teatro.

Ela suspirou, bloqueando o celular e deixando-o cair no colo.

— É tão óbvio assim?

— Para mim é. — Inclinei-me, tocando seu joelho. — É sobre Marco?

Um breve lampejo de vulnerabilidade cruzou seu rosto antes que ela pudesse ocultá-lo com uma risada quase convincente.

— Apenas estava começando a gostar do que tínhamos, o que é ridículo, porque sempre soube que não ia durar. — Ela deu de ombros, tentando parecer despreocupada. — Essa sempre foi a graça, não é? Sem compromisso, sem expectativas.

— E agora ele vai para a Europa.

— E agora ele vai para a Europa. — Ela repetiu, confirmando. — Vida que segue.

Observei minha irmã por um momento. Anne sempre foi a despreocupada, a que tratava relacionamentos como aventuras temporárias. Vê-la assim, claramente afetada pela perspectiva da partida de Marco, era uma novidade.

— Vocês poderiam continuar, sabe. — Tentei soar casual. — Para os Bellucci, a Europa é tão acessível quanto a Serra Gaúcha ou o Rio. Um voo de jatinho particular e pronto.

Anne riu, o som mais genuíno agora.

— Não chegamos nesse ponto, Zoey. Foi divertido, mas não é como se estivéssemos... — ela gesticulou vagamente — ...sei lá, planejando um futuro.

— Ainda assim, vocês poderiam chegar lá. — Insisti, surpreendendo a mim mesma com o quanto eu queria ver minha irmã feliz. — Ele claramente gosta de você. De verdade.

Anne me estudou por um momento, uma expressão contemplativa substituindo a máscara despreocupada.

— Falando em relacionamentos complicados... — Ela mudou de assunto com a sutileza de um rinoceronte. — O que está acontecendo entre você e Christian?

Foi minha vez de desviar o olhar, subitamente fascinada pela paisagem lá fora.

— É... complexo.

— Complexo como o acordo original, ou complexo como 'estou desenvolvendo sentimentos reais pelo cara com quem fingindo ser casada'?

A pergunta direta me fez encará-la novamente.

— As coisas estão cada vez mais complicadas. — Admiti, sentindo um alívio estranho em finalmente verbalizar isso. — Ele não é quem eu pensava que fosse. Ou talvez seja exatamente quem eu pensava, só que... mais.

— Mais?

— Mais profundo. Mais complexo. Mais... real. — Lutei para encontrar as palavras certas. — Quando descobri quem ele realmente era, depois daquele mal-entendido, pensei que fosse apenas um executivo frio e calculista. Mas ele é... mais que isso.

— Nesse caso, é mesmo uma virose. Acredite.

Anne suspirou dramaticamente.

— E eu que já estava me acostumando com a ideia de ser tia. — Ela fez um biquinho exagerado. — Seria a tia mais legal de todas. A que dá presentes inapropriados e ensina palavrões.

— Exatamente por isso que agradeço por não estar grávida.

Rimos juntas, a tensão anterior dissipando-se momentaneamente. Anne logo pegou seu celular novamente, desta vez genuinamente distraída por algum vídeo engraçado que queria me mostrar.

Enquanto ela falava animadamente, minha mente vagou, capturada por uma imagem mental que surgiu sem aviso: um bebê com os olhos azul-acinzentados de Christian e, talvez, meu sorriso teimoso. A ideia, que deveria me aterrorizar, provocou uma onda inesperada de... algo. Não exatamente anseio, mas também não repulsa. Uma curiosidade quente, talvez. Uma possibilidade que, até poucos dias atrás, jamais teria me ocorrido contemplar.

E o mais perturbador: não pude deixar de me perguntar se Christian teria sentido o mesmo na manhã em que encontrou o teste de gravidez. Se por trás daquele alívio compartilhado, havia também uma pontada de... decepção?

— ...então o gato simplesmente derruba o vaso e sai andando como se nada tivesse acontecido! — A voz de Anne me trouxe de volta ao presente. — Você não está prestando atenção em uma palavra do que estou dizendo, está?

— Desculpe. — Sorri, culpada. — Estava pensando.

— Em bebês?

— Não!

Anne apenas sorriu, aquele sorriso irritante de quem acha que sabe mais do que está dizendo.

— Claro que não. — Ela piscou, voltando ao vídeo do gato. — Claro que não.

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