(Alessandro)
Olhei para os papeis espalhados na minha frente, mas minha cabeça... estava uma completa bagunça. Eu lia e relia o mesmo parágrafo há quase meia hora e simplesmente não absorvia nada.
A noite anterior ainda me incomodava. Eu tinha tentado conversar com a Chiara — de novo — sobre a morte do ex-marido dela, mas como sempre, ela mudou de assunto, riu, desviou, e eu fiquei ali, falando com as paredes.
Respirei fundo, me recostando na cadeira. Desde que a Larissa sumiu da minha vida, tudo tinha ido ladeira abaixo. Primeiro, a empresa, que passou por aquela turbulência maldita.
Depois, meu avô, que ficou doente assim que soube que a Larissa tinha ido embora sem sequer se despedir. Ele nunca me perdoou por isso... E a minha avó? Essa me tratava como um estranho desde então. Não aceitava a Chiara de jeito nenhum, nem fazia questão de esconder o desgosto.
Os almoços de domingo, as tardes jogando conversa fora na varanda... tudo tinha acabado junto com a Larissa.
E como se não bastasse, teve o acidente do Cauã. Fechei os olhos, sentindo o peso nas costas. Ele estava investigando o assassinato do ex-marido da Chiara e, do nada, sofre um acidente. Até hoje eu não conseguia engolir que tivesse sido só uma "fatalidade".
Ele me ligou naquela manhã, desesperado, pedindo para a gente se encontrar. Disse que sabia quem era o culpado... E agora, três anos depois, aqui estou eu. Sem resposta. Sem nada e com o meu detetive em coma.
Abri os olhos ao ouvir a batida na porta.
— Entra — falei, a voz saindo meio rouca.
Pedro entrou, ele era novo na empresa, mas muito mais eficiente que a secretária anterior. Mesmo assim, parecia hesitante, quase amedrontado.
— Senhor Alessandro... — ele pigarreou — Recebemos o convite para o baile beneficente do senhor Diogo.
Assenti com a cabeça.
— Pode confirmar a minha presença.
Ele assentiu, mas continuou parado. Franzi a testa, encarando ele.
— Mais alguma coisa?
Ele desviou o olhar, coçando a nuca.
— A senhorita Chiara... usou o cartão novamente.
Fechei os olhos por um segundo, tentando manter a calma.
— Quanto foi dessa vez?
Pedro engoliu em seco, claramente desconfortável.
— Dois milhões.
Passei a mão no rosto, soltando um suspiro pesado.
— Pode sair, Pedro.
Ele assentiu rápido e saiu da sala, quase tropeçando nos próprios pés.
Fiquei ali, sozinho, encarando o nada. Dois milhões. Não que o dinheiro me incomodasse — na real, essa quantia não ia nem arranhar o que eu tinha —, mas era o jeito dela de gastar sem pensar, sem propósito. Viagens de última hora, bolsas absurdas, bancar amigas interesseiras... Tudo parecia tão vazio.
Totalmente diferente da Larissa.
Balancei a cabeça, tentando tirar aquele rosto da minha mente. Mas era impossível. Desde o início, Larissa nunca aceitou ser bancada. Ela sempre quis caminhar com as próprias pernas, construir algo dela. Eu admirei isso nela…
Fechei a mão sobre a mesa, frustrado. Onde ela estaria agora? Será que estava bem?
Será que era feliz... com outro?
Engoli em seco, sentindo um vazio estranho crescer dentro de mim. Tantos anos se passaram, e ainda assim... Larissa nunca saiu da minha mente.
A raiva cresceu, queimando o que restava do pouco controle que eu tentava manter ao me lembrar que ela me traiu, com aquele desgraçado do enfermeirozinho.
A lembrança me atingiu como uma porrada. Ele também tinha sumido. Devem ter fugido juntos, feito uma nova vida em algum canto escondido, criando o maldito filho deles.
Fechei a mão em punho, sentindo o gelo subir pelo peito, sufocando tudo. A mesma sensação de traição, de vazio, de raiva que eu senti quando soube... estava de volta. Como uma cicatriz mal fechada sendo aberta de novo.
Chiara tinha razão o tempo todo, não tinha?
Só que eu fui burro. Um idiota completo.
Acreditei no que estava sentindo por ela, quis tentar algo, quis uma vida ao lado daquela desgraçada. Ainda quis pedir desculpas. Começar de novo.
— Onde você tava que chegou tão tarde?
Ela deu um pulo pequeno, depois sorriu, daquele jeito meio sem graça.
— Você me assustou! — riu baixinho, se virando de frente pra mim. — Eu estava no aniversário da Isabela, lembra? Você não pôde ir.
Assenti, sem muita vontade de puxar assunto. Ela se aproximou, inclinando o rosto pra me beijar, mas eu virei o rosto de leve, desviando.
— Tô cansado, Chiara. — falei, virando de costas pra ela.
Senti a mão dela na minha cintura, tentando me puxar de volta. Antes que eu pudesse reagir, ela montou em cima de mim, se inclinando e encostando a boca na minha.
Deixei. Sem retribuir, sem vontade. Só deixei.
Suspirei pesado, segurando a mão dela e a afastando devagar.
— Eu tô cansado de verdade. — murmurei, olhando pra ela.
Chiara se afastou, sentando na cama e puxando o lençol para cobrir as pernas.
— Me desculpa... — a voz dela saiu baixa, tremida. — Eu só... eu sinto que tô errando com você.
— Você só precisa tomar cuidado, Chiara. — falei, passando a mão no rosto. — A gente já passou por muita coisa. Você já sofreu duas tentativas de assassinato, não pode ficar dando mole assim. Essas saídas... precisa diminuir.
Ela mordeu o lábio, assentindo, os olhos enchendo de lágrimas.
— Eu só queria... — ela começou a chorar, a voz embargada. — Eu só queria ter uma vida normal. Eu queria esquecer tudo, Alessandro. Só que... eu tô falhando com você, não tô?
Respirei fundo. Não queria ouvir aquilo agora. Nem queria pensar em tudo que estava errado entre a gente.
Me aproximei, puxei ela pra um abraço.
— Não se preocupa com isso, tá? Eu só quero você bem. — falei, tentando acalmá-la, passando a mão nas costas dela.
Ela se aninhou em mim, soluçando baixinho. Fiquei ali, segurando ela, até sentir o corpo dela relaxar e o sono vencer.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...