Entrei no quarto devagar, tentando não fazer barulho, mas assim que a porta se fechou atrás de mim, os olhos do meu pai se voltaram na minha direção. Ele estava pálido, com aqueles fios de monitor grudados no peito, o soro no braço… mas ainda assim, ele sorriu. Um sorriso fraco, mas que me fez respirar um pouco melhor.
— Até que enfim, minha menina apareceu… — ele disse, a voz rouca, mas ainda com aquele tom debochado de sempre.
— Não fala assim, pai… eu me assustei tanto — falei, caminhando até o lado dele, puxando a cadeira. — Achei que ia te perder…
Ele balançou a cabeça devagar.
— Quem vai me tirar dessa vida sou eu mesmo, não se preocupa.
Guilherme estava ali do outro lado, de pé, checando os batimentos no monitor. Ele olhou para mim e sorriu.
— Vou deixar vocês conversarem.
— Obrigada. - O agradeci observando enquanto ele saia do quarto.
Me aproximei mais da cama e segurei a mão do meu pai. Olhei pra ele por um momento e suspirei, sentindo a garganta embargar de novo.
— Você não só assustou a mim, sabia? Assustou o seu netinho também.
Os olhos dele brilharam. E aquele sorriso… mesmo cansado, era cheio de amor.
— É… já sinto que ele vai ser teimoso igual à mãe. Um guerreirinho. Mas você tem que se cuidar, filha. Esse estresse não faz bem nem pra você, nem pra ele.
— Eu sei… mas tá tudo tão bagunçado. Às vezes, eu só quero sentar e chorar. — Dei de ombros, tentando conter as lágrimas.
— Chora, filha. Chorar não é fraqueza. Mas depois, levanta, respira fundo e segue em frente. Porque agora você não tá mais sozinha, minha menina… tem alguém aí dentro contando com você — ele disse, apertando de leve minha mão.
Fechei os olhos e deixei uma lágrima escorrer. Deus, como eu amava aquele homem.
A porta do quarto se abriu mais uma vez e me virei devagar achando que era Guilherme de volta, mas era Alessandro.
Ele me olhou por um momento até desviar o olhar e encontrar meu pai.
— Olha só… quem resolveu aparecer — meu pai disse, com um sorriso fraco no rosto.
— Seu Álvaro… — Alessandro entrou, se aproximando devagar da cama — Como o senhor tá?
— Melhor agora. — Meu pai deu uma risadinha, ainda que fraca. — Foi só um susto mesmo.
Olhei de relance pro meu pai e então pra Alessandro.
— Vamos.
Saí do quarto e ele veio atrás de mim, andando em silêncio pelo corredor. Assim que saímos do hospital, andei direto até o jardim ali ao lado. Um espaço pequeno, com alguns bancos e arbustos. Me virei e encarei ele.
— O que você tá fazendo aqui, Alessandro?
— Vim ver seu pai. Eu falei que viria — ele respondeu, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Cruzei os braços, tentando manter a compostura.
— Iria, não iria? — perguntei, quase num sussurro.
O silêncio dele me deu a resposta.
— É. Foi o que eu pensei. — Sorri, mas sem graça, com um peso no peito. — Eu já me machuquei demais com essa história. Com o jeito que você me tratou, com sua grosseria, com esse jogo que eu nem sabia que estava jogando. E agora… eu não vou mais permitir isso.
Ele tentou falar algo, mas parou.
— Eu… eu acho que vou ficar com você. Não com a Chiara.
Arqueei uma sobrancelha, sentindo uma mistura de dor e raiva.
— Você acha? Alessandro… o seu “acho” já é a resposta que eu preciso. Eu não quero alguém que acha que me quer. Eu quero alguém que tenha certeza.
Ficamos em silêncio por alguns segundos. O vento bateu leve no meu rosto e eu fechei os olhos por um instante.
— Vai pra casa, Alessandro. Você também passou a noite em claro. Descansa.
Me virei pra ir embora, mas senti ele segurar meu braço. Me virei devagar, de novo.
— Eu vou resolver isso, Larissa. Juro que vou.
Assenti, sem falar nada, e soltei meu braço. Voltei pro hospital, com o coração ainda mais pesado e a mente ainda mais confusa.
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Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...