Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 46

Ela me olhou com um pouco de pena, aquele tipo de olhar que eu odiava receber.

— Senhorita, seu pai teve uma parada cardíaca. Ele precisou ser reanimado e está passando por um procedimento agora. O médico vai falar com vocês assim que possível, tá bom?

Uma parada cardíaca.

A frase ecoou na minha cabeça como um soco. Eu mal ouvi mais nada depois disso. Me virei devagar e fui cambaleando até uma das cadeiras no canto da recepção e sentei como se meus ossos tivessem virado pó. Apoiei os cotovelos nos joelhos e enterrei o rosto nas mãos. Eu tremia inteira. Meu pai…

Como isso podia estar acontecendo?

Senti alguém se sentando ao meu lado e nem pensei em olhar. Eu sabia que era ele.

Tentei ignorá-lo por alguns minutos, mas a presença dele era sufocante demais.

— O que você tá fazendo aqui ainda?

— Tô preocupado com seu pai. E com você.

Eu virei o rosto devagar para encará-lo.

— Eu não estou sozinha, Alessandro.

Ele assentiu, mas o olhar dele era firme.

— Mesmo assim, eu não vou embora.

Soltei um suspiro cansado. Eu não tinha forças pra discutir.

Ergui o olhar e vi Guilherme entrando apressado, com uma expressão abatida.

— Guilherme! — me levantei num pulo. — O que aconteceu? Você estava com ele?

Ele correu até mim, parecendo aliviado por me ver.

— Ele estava falando com alguém no celular e o ouvi discutindo com alguém… Não sei com quem, mas a conversa estava tensa. De repente ele começou a passar mal. Eu corri pra ajudar e chamei a ambulância.

Senti as lágrimas escorrerem de vez. Tentei segurar, mas não deu. Cobri o rosto com as mãos, e foi aí que Guilherme se aproximou e me puxou para um abraço.

Mas o abraço durou pouco.

Alessandro se levantou e, num impulso, empurrou Guilherme de leve, só para afastá-lo. A voz dele veio firme, irritada.

— Não toca na minha esposa.

Me afastei dos dois de uma vez, com raiva.

— Ah, pelo amor de Deus! Alessandro, vai embora! Não arruma confusão aqui, por favor.

Ele me ignorou completamente e se aproximou de novo, me puxando para um abraço apertado. Eu tentei me soltar, empurrei o peito dele com as mãos, mas ele não me soltou.

— Calma, Larissa. Respira. Só respira…

Fechei os olhos com força, ainda lutando contra ele... Mas o calor dele me envolvia de um jeito que me irritava. Era uma merda como meu corpo ainda se lembrava do dele. E pior: como ele ainda conseguia me acalmar.

Fui parando aos poucos. Suspirei baixinho contra o seu peito e me permiti mais alguns segundos ali antes de me afastar e me sentar de novo.

Ele se abaixou e me ajudou a recostar na cadeira.

— Fica calma. Ele vai ficar bem.

— É o que eu tô tentando acreditar — murmurei, cruzando os braços e encarando o chão.

Ficamos ali. Eu, ele e Guilherme — que agora preferia manter distância — num silêncio desconfortável e longo. O tempo parecia não passar. Cada vez que alguém de jaleco branco passava, meu coração disparava.

Foram quase cinco horas esperando. Cinco horas de ansiedade, medo e raiva misturados num redemoinho que me deixava tonta.

Até que, finalmente, um médico surgiu no corredor, usando jaleco e máscara. Ele se aproximou com um semblante cansado, mas tranquilo.

— Parentes do senhor Álvaro?

Me levantei de imediato, Alessandro ao meu lado.

— Sou eu. Eu sou a filha dele.

O médico assentiu.

— A cirurgia foi bem-sucedida. Conseguimos estabilizar o quadro dele. Ele está sedado e vai pra UTI agora, para monitoramento. O susto foi grande, mas ele reagiu bem.

Eu quase caí sentada de novo. A pressão saiu de mim como se alguém tivesse desligado um botão. Meus olhos se encheram de lágrimas de novo, mas dessa vez de alívio.

— Obrigada... obrigada mesmo, doutor.

Ele sorriu com gentileza e se afastou. Eu sentei de novo, respirando fundo, cobrindo o rosto com as mãos. Senti Alessandro se sentar ao meu lado de novo, sem dizer nada.

Não precisava que ele falasse e ele ficou ali, do meu lado.

Mesmo depois de tudo.

O barulho da recepção ao fundo parecia distante, como se eu estivesse mergulhada dentro de um aquário, com a cabeça cheia e o peito pesado.

O celular de Alessandro vibrou pela terceira vez seguida, e eu virei o rosto na direção dele, irritada.

— Você já pode ir, Alessandro. — minha voz saiu baixa, mas firme. — O seu celular não para de vibrar... A Chiara deve estar te procurando.

Ele não respondeu. Só passou a mão no rosto, parecendo ainda mais cansado.

Eu me recostei de novo na cadeira, sentindo a dor voltar a pesar no peito.

Por que ele estava ali, afinal?

E o mais assustador... por que parte de mim queria que ele ficasse?

Fiquei quieta.

Não porque tinha aceitado a presença dele, mas porque naquele momento... eu não tinha mais forças pra brigar com ele e com o mundo ao mesmo tempo.

***

Acordei com um leve sobressalto, o coração meio acelerado, e foi só então que percebi onde estava. Escorada... no peito do Alessandro. Pisquei algumas vezes, confusa. Desde quando eu tinha dormido? Me afastei rápido, ajeitando o cabelo bagunçado.

— Desculpa... eu nem percebi que... — comecei, ainda meio sonolenta.

— Você não precisa se desculpar — ele falou, com aquela voz baixa e rouca. — Só precisa ir pra casa descansar um pouco. Você tá exausta, Larissa.

Balancei a cabeça, me ajeitando na cadeira.

— Não, não. Eu tô bem — esfreguei os olhos, tentando afastar o cansaço. Quando olhei pela janela, o céu já estava claro. Merda. Peguei o celular e vi a hora: 5h57.

— Vai amanhecer... — murmurei.

Olhei pro Alessandro. Ele também parecia cansado. As olheiras, a barba por fazer, a postura mais caída do que o normal.

— Você precisa ir trabalhar — falei, puxando ele de volta pra realidade. — Tem empresa, reunião...

Ele assentiu devagar. — Tenho sim. Reunião com o Diogo.

Virei o rosto pra ele, surpresa.

— Vocês... vocês voltaram a se falar?

Ele desviou o olhar, passando a mão na nuca. — Na verdade, surgiram uns imprevistos e eu precisei entrar em contato com ele.

Cruzei os braços, tentando processar. — Alessandro... mesmo com tudo isso entre a gente, você não deveria se afastar do Diogo. Ele sempre foi seu amigo, aliás... um dos poucos que você confiava de verdade. E ele nunca fez nada, absolutamente nada além de cuidar de mim como um irmão.

Falei pausadamente, sem raiva, só com cansaço. — Você vai se arrepender se deixar isso escapar. Amizade assim não se acha por aí.

Ele respirou fundo e se levantou, evitando meu olhar. — Eu vou comprar um lanche pra você. Já volto.

Assenti, sem responder. Fiquei observando enquanto ele se afastava pelo corredor do hospital, parecendo mais perdido do que nunca.

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