Eu estava focada no relatório quando ouvi a porta se abrir devagar. Meus dedos continuaram no teclado, mas meu coração deu aquele pulo automático. Seu perfume me atingiu antes mesmo de eu erguer o olhar.
Alessandro.
Fechei os olhos por um segundo, tentando manter a concentração, mas a presença dele era como uma nuvem pesada se espalhando pela sala.
— Se for confusão, pode dar meia-volta — falei, sem tirar os olhos da tela. — Eu tenho muito trabalho pra fazer.
Ele não respondeu. Só ouvi o barulho da cadeira sendo puxada e, segundos depois, o suspiro dele. Um suspiro cansado. Lento. Quase doído.
Virei um pouco e o olhei só de canto, o vendo passar a mão no rosto, os olhos fundos. Ele parecia… abatido.
Então ele tossiu. Uma daquelas tosses secas, roucas. Franzi o cenho.
— Ué, você não tinha melhorado? — perguntei, mais baixo, quase sem querer. — O chá não fez efeito?
Ele não respondeu de novo. Só ficou me olhando. E eu odeio quando ele faz isso. Ficar só… me olhando, como se estivesse tentando ler meus pensamentos.
Revirei os olhos e voltei a digitar.
— Você não tem nada mais útil pra fazer? — perguntei, sem disfarçar o incômodo.
Ele respirou fundo.
— Você ainda me ama?
Meus dedos pararam. Assim, do nada?
Fiquei olhando pras teclas, sentindo o coração bater forte no peito. Tentei não mostrar e respirar normalmente.
— Pra quê essa pergunta, Alessandro? — ergui o olhar devagar, sem piscar. — O que você quer com isso?
Ele se ajeitou na poltrona, se inclinando um pouco pra frente, mais sério.
— Eu só quero saber… se você ainda me ama.
Fiquei em silêncio por uns segundos. O suficiente pra doer.
— A gente não precisa mais falar sobre isso — falei firme. — Vai pra sua sala. Em poucos assinamos o divórcio e tudo vai acabar. Você vai poder ficar com o amor da sua vida.
Vi a dor no olhar dele, mas continuei.
— Ou você esqueceu que foi isso que me disse? Que eu sou a amante da história?
Foi como cuspir ferrugem. Mas eu precisava dizer. Eu precisava que ele lembrasse.
Ele passou a mão no rosto de novo, como se tentasse apagar a culpa da pele.
— Eu não queria ter falado aquilo…
— Mas falou. — Cruzei os braços. — E é isso que importa.
Ele me olhou, os olhos cheios de coisa que ele não dizia. Mas eu não me deixei levar.
— Se você pudesse… — ele começou, hesitante. — Se a gente… voltasse… você conseguiria ser como era comigo?
Quase ri. Mas não teve graça nenhuma.
— Aquela mulher que conheceu… você destruiu. Ela não existe mais.
Ele se levantou de repente, inquieto, passando as mãos pelos cabelos.
— Eu tô confuso, Larissa. Tudo tá diferente do que eu achei que ficaria. Não era pra ser assim.
Não disse nada. Só fiquei ali, sentada, observando. Meu coração estava balançando, mas eu me segurei com tudo o que tinha.
Foi aí que ele veio até mim. Se aproximando devagar, e eu automaticamente recuei um pouco na cadeira.
— Se eu não ficar com a Chiara… — ele sussurrou. — A gente poderia recomeçar?
Eu congelei. O que ele tava falando? Era algum tipo de piada de mau gosto?
— O quê? — murmurei, surpresa, tentando entender. — Você… tá bem?
Estiquei a mão e toquei a testa dele. Queimando.
— Você tá com febre — soltei, suspirando. — Vai pra casa, Alessandro. Descansa.
— Não, eu tô bem. Eu só preciso entender…
— Não tem nada pra entender. — Fui firme. — Você já fez a sua escolha há muito tempo.
Ele abriu a boca pra dizer algo, mas a batida na porta nos interrompeu.
— Com licença… — Catherine entrou, parando ao nos ver tão próximos. Dei um passo pro lado e imediatamente me afastei de Alessandro.
Fui até minha bolsa, tirei um comprimido e entreguei a ele.
— Toma isso. Vai pra sua sala e bebe com água. Vai ajudar com a febre.
Ele pegou o comprimido devagar, mas antes de sair, me encarou por um momento longo demais. Como se quisesse falar mais alguma coisa.
Mas não falou. Suspirou, virou as costas e saiu.
E eu fiquei ali. Com a dor presa no peito. De novo.
Catherine ficou parada por alguns segundos perto da porta, olhando na direção que Alessandro tinha seguido, e depois voltou os olhos pra mim. Ela arqueou uma sobrancelha, claramente curiosa — ou melhor, desconfiada.
— O que foi aquilo? — perguntou, andando devagar até minha mesa. — Ele tava quase grudado em você. Tô vendo bem ou tô delirando?
Suspirei fundo, tentando me recompor. Meu peito ainda tava apertado, mas respirei mais uma vez e forcei a voz a sair com naturalidade.
— Nada de importante, Cat. Só uma conversa sem sentido de quem não sabe o que quer.
Ela me olhou por alguns segundos como quem não acreditava em uma vírgula, mas não insistiu. Em vez disso, ajeitou os papéis que carregava nos braços e estendeu pra mim.
— Trouxe isso aqui pra gente revisar juntas, lembra? São os relatórios do último trimestre. Tem coisa errada nos números da filial sul.
Desci as escadas da empresa quase tropeçando nos próprios pés, coração acelerado, mãos tremendo. Quando cheguei no estacionamento, entrei no carro com pressa, liguei a chave... e nada.
— Ah, não. Não! — Girei a chave de novo. O carro fez um barulho estranho, mas não ligou. — MERDA!
Bati as mãos no volante, sentindo uma raiva absurda subir pela garganta. Peguei o celular de novo, tremendo, tentando chamar um Uber com os dedos desajeitados.
Foi aí que ouvi passos apressados. Quando levantei o rosto, lá estava ele. Alessandro.
Ele se aproximou, e eu não tinha tempo nem paciência.
— Agora não, Alessandro. Por favor.
Ele franziu o cenho, visivelmente confuso.
— O que aconteceu?
— O meu pai passou mal — falei rápido, engolindo em seco. — Estão levando ele pro hospital e essa merda desse carro não quer pegar.
Ele olhou pro carro, depois pra mim, depois de novo pro carro.
— Eu te levo.
— Não. Eu já tô chamando um Uber.
— Larissa — ele passou a mão no cabelo, claramente impaciente. — Vai demorar. Você quer mesmo ficar aqui esperando ou quer chegar logo no hospital?
Fiquei em silêncio por dois segundos, olhando pra ele. A urgência no peito era maior do que o orgulho.
— Merda... — murmurei, batendo a porta do carro e andando até o dele. — Só vai rápido.
Ele destravou o carro, e eu entrei. Alessandro deu a volta e assumiu o volante. Assim que ligou o motor, saiu do estacionamento como se estivesse numa corrida.
O silêncio dentro do carro era quase sufocante. Eu encostei a cabeça no vidro e fechei os olhos por alguns segundos, tentando não imaginar o pior. Eu não podia perdê-lo. Não agora. Não assim.
Alessandro não disse nada, mas vez ou outra olhava pra mim. Eu sentia, mesmo sem querer sentir.
Ele quebrou o silêncio.
— Vai dar tudo certo.
Eu não respondi. Só continuei olhando pra frente, com as mãos apertadas no colo.
Porque naquele momento... eu não queria promessas.
Eu só queria chegar a tempo.
Assim que Alessandro estacionou o carro em frente ao hospital, eu praticamente saltei antes mesmo do motor desligar. Corri até a recepção, o coração disparado, a mente embaralhada, e pedi pelo nome do meu pai com a voz tremendo.
A atendente olhou o sistema e franziu o cenho.
— Ele deu entrada há pouco. Está na ala de cirurgia.
— Cirurgia?! — minha voz saiu mais alta do que eu queria, e eu senti minhas pernas falharem. — Mas ele tava bem! Ele tava... Ele só teve um mal-estar.
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Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...